Os prejuízos são na memória, na atenção, no coeficiente de inteligência (QI), e ainda causar altos níveis de estresse e ansiedade
Redação Publicado em 08/10/2018, às 20h46
Uma droga que vem sendo usada em festas e clubes noturnos, o GHB (gama-hidroxibutírico), também chamado de “G”, ou “ecstasy líquido”, pode causar modificações importantes no cérebro, como prejuízos a longo prazo na memória, na atenção, no coeficiente de inteligência (QI), e ainda causar altos níveis de estresse e ansiedade.
As conclusões, obtidas por cientistas de Amsterdam, foram apresentadas em uma conferência do Colégio Europeu de Psiconeurofarmacologia, em Barcelona. O trabalho foi financiado pelo Ministério da Saúde da Holanda.
O GHB é um depressor do sistema nervoso. No início, causa euforia, mas depois provoca sonolência e pode levar os usuários rapidamente ao coma. Em 2015, um jovem de 25 anos morreu depois de consumir a droga numa festa em Florianópolis. Muitas vezes, o líquido é diluído em garrafas de água ou de outras bebidas, e usado em golpes do tipo “boa noite Cinderela”.
Na Europa, casos de coma e overdose por GHB já despontam como terceira principal causa de emergência médica por droga nos hospitais, perdendo apenas para heroína e cocaína. A tendência lá é de aumento, o que pode se refletir no Brasil também.
Os cientistas examinaram 27 usuários que já haviam entrado em coma por causa do GHB, outros 27 que não chegaram a entrar em coma, e outros 27 voluntários que já usaram diferentes tipos de drogas, mas nunca o GHB. Todos responderam a questionários e testes de QI, além de serem submetidos a exames de escaneamento cerebral.
Todos os usuários de GHB apresentaram alterações no cérebro que interferem na identificação de emoções negativas. Isso significa que eles tendem a ter reações mais exageradas diante de adversidades. Consumidores da droga que entraram em coma são os mais afetados – eles apresentaram 63% mais estresse e 23% mais ansiedade que usuários de outras substâncias.
Os episódios de coma também foram associados a coeficientes de inteligência bem mais baixos (mesmo quando os usuários tinham o mesmo nível de educação), e alterações graves na memória de longo prazo e de trabalho, aquela que usamos no dia a dia. Os exames de imagem indicam alterações na redes neuronais relacionadas à memória, o que justificaria esse efeito. Os resultados ainda serão publicados.
Os autores da pesquisa avisam que esses efeitos provavelmente se devem à privação de oxigênio (hipóxia) que é provocada por altas concentrações de GHB no cérebro. O uso da substância em doses baixas, aprovado no tratamento de certas doenças, não apresenta esse risco.