Receber um diagnóstico de demência pode ser devastador. No entanto, duas novidades anunciadas nos últimos dias trazem esperança para quem acaba de ser diagnosticado, ou tem algum parente próximo nessa situação: um estudo sobre os benefícios de mudanças no estilo de vida, e o aval positivo de um comitê para um novo medicamento.
A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. Pessoas com a condição experimentam um declínio progressivo em sua função cognitiva. Elas podem ter dificuldades com perda de memória, mudanças de personalidade e declínios no julgamento.
O estudo, publicado no Alzheimer’s Research & Therapy, examinou como intervenções intensivas no estilo de vida podem ajudar pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer.
Em uma intervenção de 20 semanas, os pesquisadores descobriram que seguir uma dieta baseada em plantas, fazer exercícios, gerenciar o estresse e participar de reuniões de apoio em grupo pode ajudar a melhorar a função cognitiva, ou seja, a atenção, a memória e o raciocínio dos pacientes em estágio inicial.
Este estudo incluiu 51 participantes, todos com comprometimento cognitivo leve ou demência inicial devido à doença de Alzheimer. A idade média dos participantes era de 73,5 anos. Os pesquisadores excluíram participantes que tinham demência moderada ou grave e aqueles que não podiam participar de exercícios regulares.
Os participantes foram divididos em dois grupos: o grupo de controle recebeu cuidado padrão, e o grupo de intervenção recebeu cuidado padrão e participou de quatro intervenções chave no estilo de vida:
1. Implementação de uma dieta baseada em alimentos integrais e minimamente processados, com suplementos específicos e baixos níveis de gorduras nocivas e carboidratos refinados.
2. Exercício moderado por pelo menos trinta minutos diários e treino de força leve três vezes por semana ou mais.
3. Técnicas de gerenciamento de estresse como meditação, yoga e exercícios de respiração.
4. Uso regular de grupos de apoio três vezes por semana.
No geral, o período de intervenção durou 20 semanas, e dois participantes do grupo de intervenção desistiram. Os pesquisadores usaram várias medições para avaliar o sucesso das intervenções, incluindo quatro ferramentas de avaliação, e também examinaram o microbioma dos participantes.
O grupo de controle mostrou declínios em todas as quatro avaliações de cognição e função. Em contraste, o grupo de intervenção mostrou melhora em três das avaliações. Na última avaliação, o grupo de intervenção mostrou menos progressão do que o grupo de controle
Além disso, o grupo de intervenção mostrou melhora na configuração do microbioma e melhora em biomarcadores clinicamente relevantes em comparação aos controles.
O autor do estudo, Dean Ornish, fundador e presidente do Instituto de Pesquisa em Medicina Preventiva e professor clínico de medicina na Universidade da Califórnia, nos EUA, destacou os seguintes pontos da pesquisa ao site Medical News Today:
“Houve uma correlação dose-resposta estatisticamente significativa entre o grau de mudanças no estilo de vida em ambos os grupos e o grau de mudança na maioria das medidas de testes de cognição e função. Em resumo, quanto mais esses pacientes mudaram seu estilo de vida nas formas prescritas, maior foi o impacto benéfico em sua cognição e função.”
Embora os resultados não signifiquem que todos no grupo de intervenção experimentaram uma melhora na cognição, eles marcam resultados superiores às intervenções de cuidado padrão. Caso pesquisas futuras confirmem esses achados, as intervenções podem ganhar maior ênfase como uma forma de ajudar pessoas com Alzheimer em estágio inicial. Também pode ter implicações para a prevenção da doença de Alzheimer.
Outra novidade anunciada esta semana é que um comitê de consultores independentes da Food and Drug Administration (FDA) votou unanimemente que os benefícios superam os riscos do mais novo medicamento experimental para a doença de Alzheimer.
O medicamento, fabricado pela Eli Lilly, é o donanemab. Ele desacelerou modestamente o declínio cognitivo em pacientes nos estágios iniciais da doença, mas também apresentou riscos significativos à segurança, incluindo inchaço e sangramento no cérebro.
O comitê concluiu, entretanto, que as consequências do Alzheimer são tão graves que mesmo um benefício modesto pode ser válido. De acordo com o jornal The New York Times, um dos veículos a divulgar a notícia, a FDA geralmente segue o conselho dos comitês consultivos da agência, mas nem sempre.
O medicamento baseia-se em uma hipótese de longa data de que a doença de Alzheimer começa quando uma proteína chamada amiloide se acumula nos cérebros dos pacientes, seguidas por uma cascata de reações que levam à morte dos neurônios.
A ideia é tratar o Alzheimer atacando a amiloide, removendo-a do cérebro. Dois medicamentos semelhantes que combatem o amiloide foram aprovados recentemente: Leqembi, fabricado pela Eisai e Biogen, foi aprovado no ano passado. Os riscos e benefícios modestos desse medicamento são semelhantes aos do donanemab. Aduhelm, fabricado pela Biogen, é o outro medicamento, aprovado em 2021, mas foi descontinuado devido à falta de evidências suficientes de que poderia beneficiar os pacientes.
O donanemab estava previsto para ser aprovado no início deste ano, mas em março, a FDA decidiu que, em vez disso, exigiria que o donanemab passasse pelo escrutínio de um comitê consultivo independente.
A Lilly apresentou dados de um estudo de 76 semanas com 1.736 pessoas nos estágios iniciais da doença, com comprometimento cognitivo leve ou demência leve. Os participantes foram randomizados para receber donanemab ou placebo. Para medir a eficácia, os pesquisadores da Lilly avaliaram o desempenho dos pacientes em testes cognitivos.
O declínio cognitivo desacelerou entre cerca de 4,5 a 7,5 meses naqueles que tomaram donanemab em comparação com aqueles que receberam placebo. Quase metade dos que tomaram donanemab mantiveram o mesmo nível cognitivo um ano após o início do estudo, em comparação com 29% que receberam placebo.
Três pacientes que tomaram donanemab morreram com inchaço ou sangramento cerebral relacionados ao medicamento.
No final, é possível que esses medicamentos sejam apenas um ponto de partida na busca por um tratamento eficaz. Mas, como o comitê ouviu de pacientes e suas famílias, a possibilidade de retardar o progresso do alzheimer, mesmo que por alguns meses, pode ser tentadora.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin