Redação Publicado em 15/02/2023, às 17h00
Será que uma única pessoa é capaz de preencher todas as nossas necessidades? Será que é possível ter um(a) parceiro(a) que reúna tudo? Para muita gente, isso é impossível, e a existência de sites e aplicativos de paquera especializados em pessoas casadas é a prova. Uma pesquisa realizada em janeiro deste ano com 2.689 usuários da Ashley Madison, plataforma global de encontros para casados, mostra que 80% deles acreditam ser possível se apaixonar por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. E 65% já vivenciaram a situação.
Por que será, então, a ideia de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo é tão estigmatizada? Para 71% dos usuários, isso vai contra o que nos foi ensinado sobre relacionamentos – a velha teoria da “carametade” ou “alma gêmea”. Para 32% dos integrantes do site ouvidos, o motivo é simplesmente o ciúme. E para 23%, porque cria um ambiente de competitividade.
Ainda que temas como “relacionamento aberto”, “poliamor”, “trisal” ou “não monogamia” estejam ganhando espaço, ainda existe uma certa noção de que é apenas sexo, ou melhor, sexo com alguém diferente, que pessoas comprometidas buscam em plataformas desse tipo.
Mas há quem busque outros tipos de emoção. De acordo com mulheres ouvidas na pesquisa, 53% disseram que seus parceiros secundários preenchem suas necessidades românticas, enquanto 28% acham que seus parceiros primários fazem o mesmo.
Diversos arranjos são possíveis dentro da não monogamia, desde que as pessoas envolvidas estejam cientes sobre os acordos, vontades, desejos e envolvimentos “permitidos”. Uma relação não monogâmica não oferece “uma permissão para trair”, até porque a traição é um conceito diretamente relacionado à monogamia, mas sim uma proposta de, com afeto, entender as diferentes formas de relação humana.
Dentro dos arranjos possíveis, há, por exemplo, o poliamor, que pode ser “fechado” ou “aberto”. No fechado, três ou mais pessoas se relacionam amorosamente e sexualmente apenas entre si sem que possam se relacionar com outras pessoas; já no aberto, as pessoas envolvidas na relação podem ter envolvimento com pessoas de fora do relacionamento.
“Para quem quer saber mais e até botar em prática relações não mono, a primeira questão é discutir com o parceiro ou parceira para ver se estão na mesma ‘vibe’. Não adianta uma das pessoas querer e a outra não – e também não adianta impor. Essa construção deve ser feita a quatro mãos para que as coisas fiquem em ordem para todas as partes envolvidas. Esse é o primeiro ponto: conversar para entender as expectativas do outro”, fala Jairo Bouer.
Além do poliamor, existem ainda outras formas de acordo, como o relacionamento aberto, em que há exclusividade afetiva entre as pessoas envolvidas, mas há liberdade sexual para manter relações com outras pessoas, e “amor livre”, em que há liberdade sexual e afetiva para que as pessoas envolvidas tenham relação de sexo e/ou de amor com quem quiserem.
Existe, ainda, a anarquia relacional, um modelo de relacionamento em que há relação afetiva entre duas ou mais pessoas, mas sem que adotem qualquer noção de hierarquia, podendo a relação sexual e afetiva acontecer com outras pessoas fora da relação da forma como cada pessoa envolvida preferir.
Outras formas de relações não monogâmicas são possíveis e, para quem quer começar a conhecer melhor a questão, vale pesquisar sobre o tema, conversar com outras pessoas sobre essa vontade e até participar de grupos que discutam as questões envolvidas nesse tipo de relacionamento.
Como qualquer relação, uma relação não monogâmica também exige bastante conversa entre as pessoas envolvidas e estabelecimento de acordos e limites – que podem ser revistos e reavaliados de acordo com as conversas, como diz Jairo:
Quem quer colocar em prática pode fazer uma experiência e medir o resultado. Talvez numa primeira experiência não haja uma perspectiva de tudo o que pode acontecer, então tem que ter esse tempo para o casal saber se é isso mesmo que quer ou foi só uma tentativa. Rola muita insegurança e, por isso, é importante fortalecer a relação com sua parceria e fazer experiências. Se os dois querem, mas não conseguem, discutir isso numa terapia pode ser interessante"
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