Jairo Bouer Publicado em 26/05/2020, às 12h02 - Atualizado às 12h12
Mais de 1 bilhão de crianças em todo o mundo foram afetadas pelo fechamento de escolas por causa da pandemia. Muitas delas migraram para o ensino online e, como consequência, jovens de todas as idades têm passado muito mais tempo em frente às telas. Nunca foi tão importante discutir cidadania e segurança digital.
Um instituto internacional sem fins lucrativos chamado DQ, responsável pela publicação de um índice de segurança digital infantil, o Child Online Safety Index, preparou um kit digital de emergência para ajudar pais e educadores nesta fase difícil.
Embora alguns países tenham programas consistentes no currículo das escolas, como Espanha, Itália, Austrália, EUA, Cingapura e Coreia do Sul, muitos ainda carecem de algo parecido. Vale dizer que o Brasil nem aparece no índice deste ano (baseado em dados do ano passado), por não ter dados considerados conclusivos para a entidade.
A análise das informações referentes a 30 países mostrou ao instituto que 60% das crianças de 8 a 12 anos já sofreram com pelo menos uma ameaça cibernética: cyberbullying, dependência de jogos, comportamento sexual online de risco, reputação abalada ou acesso a fake news, entre outras. Nem todos esses jovens tiveram um prejuízo real, mas, mesmo assim, é um número enorme de indivíduos que vivenciam uma experiência negativa precocemente.
Um dos principais alertas do Instituto DQ é sobre a necessidade de capacitar pais e professores. Muitas escolas têm usado plataformas ou métodos de ensino digital que ainda não foram bem estudados. Por isso, o papel das pessoas nesse tipo de ensino ainda é essencial para que as crianças assimilem o conteúdo.
E aí é que vem o grande problema: muitos pais e professores não sabem ensinar questões básicas de cidadania digital ou privacidade. Ou por não ter informação suficiente, ou por falta de tempo. Muitos adultos percebem que os jovens são muito melhores do que eles em tecnologia, mas é importante ressaltar que essa facilidade que eles têm é apenas operacional.
Diversas pesquisas já comprovaram que o cyberbullying pode provocar pensamentos suicidas, e quanto mais jovem o indivíduo afetado, maiores os riscos. Por isso, se pais e educadores não podem mais acompanhar o que os jovens acessam na internet 24 horas, é preciso que eles estejam, ao menos, informados sobre os riscos, saibam como reagir diante de ameaças e tenham noções básicas de segurança.
Na plataforma DQWorld.net, o instituto oferece um programa (em inglês ou espanhol) com oito módulos para ensinar as crianças, e também pais e educadores, sobre habilidades como gerenciamento de privacidade, empatia digital e pensamento crítico. E também há jogos para que as crianças recebam uma pontuação de “inteligência digital” – a ideia não é reprovar ninguém, apenas uma forma de informar o quanto estão preparados, ou não, para navegar com segurança.
No Brasil, o site SaferNet também traz informações sobre segurança digital. Não seria bom que todo jovem tivesse que passar por algum tipo de teste de conhecimento antes de ganhar ou usar sozinho um tablet ou smartphone?
Esta pandemia vai deixar muitas marcas na vida de todo mundo. Mas os prejuízos podem ser ainda maiores se os pais não aproveitarem a oportunidade para mergulhar no tema da cidadania digital, junto com seus filhos. A tecnologia é uma ferramenta maravilhosa, mas é preciso usá-la com sabedoria.
*Do Blog do Doutor Jairo no UOL