Em entrevista a Jairo Bouer, o ginecologista Eliano Pellini fala sobre os efeitos da substância
Redação Publicado em 10/12/2021, às 10h00
Pesquisas têm mostrado que, nos últimos anos, as mulheres têm bebido mais. À medida que ganhou espaço na sociedade, elas passaram a ter mais responsabilidades profissionais. Porém, mantiveram todas as outras, especialmente as tarefas domésticas e familiares. O problema é que o corpo da mulher é mais vulnerável aos efeitos nocivos do álcool, por razões que o ginecologista Eliano Pellini explica nesta conversa com Jairo Bouer, para a série Dose de Responsabilidade Entrevista.
O ginecologista observa que uma dose pequena de álcool por dia, assim como de chocolate ou de café, traz benefícios cardiovasculares interessantes. No entanto, é muito mais comum que as pessoas consumam quantidades maiores, que causam danos ao organismo como um todo. "De 2010 a 2019 houve um aumento de 2,7% no consumo de álcool pelas mulheres", informa Eliano, lembrando que o isolamento social da Covid-19 deve ter intensificado essa tendência.
Ele conta que a ingestão excessiva de álcool favorece alteração de alguns hormônios na mulher, principalmente da progesterona, o que pode afetar a ovulação, facilitar a hipertrofia do endométrio (revestimento do útero) e causar sangramentos menstruais irregulares. Com o passar da idade, aumentam o riscos de câncer de endométrio e de pólipos endometriais.
Além disso, o ginecologista lembra que, junto com a obesidade, o consumo abusivo de álcool forma um binômio perigoso para o câncer de mama. E, para esse tipo de neoplasia (a mais comum entre as mulheres), mais do que uma dose ao dia já eleva esse risco. Se o fumo também faz parte da rotina, a propensão é ainda maior.
"Tenho clientes que me procuram para corrigir insônia e depressão, e quando você sonda o que elas estão fazendo, você vê que elas estão bebendo mais para aliviar esses sintomas", comenta o médico. O que elas não sabem é que, a longo prazo, isso é perigoso. Vale lembrar que muitas mulheres consomem mais bebidas como vinho e cerveja, em quantidade, o que também favorece a obesidade.
Eliano percebe que houve aumento de consumo também entre as mulheres na pós-menopausa, algo que pode ser estimulado até por sintomas típicos do período, como ondas de calor, variações hormonais e flutuações de humor. Curiosamente, ele têm ouvido muitas mulheres relatarem a ingestão de gim.
Confira o resto da série:
Por que elas são mais sensíveis ao álcool? Por diversas razões, como a composição corporal. A maioria das mulheres não sabe que tem certas enzimas do fígado em quantidade inferior que a dos homens. Elas também têm menos líquido proporcionalmente à altura e ao peso, em relação a eles, o que faz com que a concentração de álcool no sangue delas fique mais alta com as mesmas quantidades de bebida.
Além disso, elas têm maior concentração de gordura no corpo, e o álcool fica retido na gordura por mais tempo. Mulheres que sofrem com esteatose hepática (gordura no fígado) inclusive ficam alteradas mais facilmente quando bebem.
Outra questão importante a se destacar é que os hormônios das pílulas anticoncepcionais são metabolizados no fígado, também, de modo que esse órgão pode ficar sobrecarregado com o uso regular de álcool.
Ainda existe o risco de a mulher esquecer de tomar a pílula por causa da embriaguez, ou até de vomitar, o que diminui a eficácia do contraceptivo. Assim, para muitas mulheres que abusam do álcool, muitas vezes o médico recomenda migrar para um outro tipo de proteção, como, por exemplo, o DIU hormonal, que tem a vantagem adicional de proteger contra o câncer de endométrio.
Os riscos para quem vai ter filhos também merecem menção especial. A substância prejudica as chances de a mulher engravidar, o que já tende a cair gradualmente à medida que ela envelhece.
Hoje, a recomendação é que 3 meses antes de ficar grávida, a mulher já se organize, diminua a ingestão de álcool, tente perder peso etc. Após o teste positivo, o ideal é suspender totalmente o consumo de bebida alcoólica. Mas, como algumas mulheres não conseguem, os médicos acabam recomendando que tomem no máximo duas doses. Eliano acrescenta que os próprios hormônios da gravidez já sobrecarregam fígado e tireoide, o que favorece os danos do álcool e pode até afetar o embrião.
Na amamentação, também é preciso restringir a bebida, já que uma parte do álcool passa para o bebê, além de reduzir o teor de proteína do leite materno. Ainda assim, o médico acredita que é melhor manter a amamentação, que transfere anticorpos para a criança.
Com todas as informações em mente, a recomendação é moderar. Para o ginecologista, a tendência atual de se estimular a harmonização da bebida alcoólica com comida é algo muito positivo. Isso tem sido feito há muito tempo com o vinho (a chamada "enogastronomia") e, mais recentemente, com cervejas. Beber devagar, apreciando cada gole, e apenas junto com uma refeição substanciosa, é uma boa maneira de se ter mais controle sobre a quantidade ingerida e de reduzir a velocidade com que o álcool é absorvido pelo organismo.
Veja a entrevista completa:
Beber álcool faz o peso aumentar? Especialistas esclarecem
Álcool ajuda na performance sexual?
6 cuidados que devemos ter antes de beber
Remédio e álcool: pode ou não misturar?