Uma pessoa com essa condição pode sentir falta de desejo sexual, falta de excitação física ou ambos
Redação Publicado em 05/11/2022, às 16h00
É normal que as mulheres experimentem flutuações no desejo sexual ao longo da vida. No entanto, uma perda substancial ou total de interesse em sexo, ou dificuldade em responder à estimulação, pode indicar transtorno de interesse/excitação sexual feminino. Trata-se de um tipo de disfunção sexual que afeta o desejo, a capacidade de se excitar, ou ambos. Tal como acontece com outros tipos de disfunção sexual, pode ser angustiante e afetar a autoestima, os relacionamentos e o bem-estar geral de uma pessoa.
O transtorno envolve uma perda ou redução significativa no desejo sexual ou excitação física em mulheres. É um termo relativamente novo que apareceu pela primeira vez no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos de Saúde Mental (DSM-5). Anteriormente, era dividido em dois distúrbios separados:
-transtorno do desejo sexual hipoativo, que descreve uma falta de interesse em sexo;
-transtorno da excitação sexual feminina, que se refere à redução da excitação, sensação ou prazer durante a atividade sexual, e costumava se referir à falta de lubrificação e inchaço nos genitais femininos, que os pesquisadores focaram como causa da disfunção sexual.
No entanto, alguns especialistas argumentam que este é um conceito falho, pois baixos níveis de lubrificação não indicam necessariamente a falta de excitação feminina e nem sempre impedem o sexo. Mas existe uma estreita ligação entre o desejo sexual e a excitação física. Como resultado, o DSM-5 combinou as duas condições. Não está claro quantas pessoas experimentam o transtorno de interesse/excitação sexual feminino especificamente. No entanto, a disfunção sexual é altamente comum em homens e mulheres.
Uma meta-análise de 2016 sugere que cerca de 40,9% das mulheres na pré-menopausa em todo o mundo experimentam pelo menos um tipo de disfunção sexual. Dessas, 28% relataram baixo desejo sexual. No entanto, em comparação com alguns tipos de disfunção sexual em homens, como a disfunção erétil, esse transtorno feminino é muito menos conhecido.
De acordo com o DSM-5, uma pessoa deve ter três dos seguintes sintomas para ter um transtorno de interesse/excitação sexual:
Elas também devem ter:
Além disso, as pessoas com o transtorno podem apresentar sintomas de diferentes maneiras. A condição pode ser:
Generalizada ou situacional: o transtorno de interesse/excitação sexual feminino generalizado envolve sintomas que ocorrem em qualquer situação, com qualquer parceiro e durante qualquer tipo de estimulação sexual. Já o transtorno situacional é mais específico e ocorre apenas em determinados cenários.
Ao longo da vida ou adquiridos: se os sintomas de uma pessoa são ao longo da vida, isso significa que elas os notaram pela primeira vez assim que se tornaram sexualmente ativas. O transtorno adquirido significa que uma pessoa já teve função sexual, mas atualmente não tem. Os parceiros podem notar que uma pessoa com o transtorno não quer se envolver em sexo na maioria das vezes e que falam pouco ou nada sobre o assunto.
É importante notar que transtorno de interesse/excitação sexual feminino é diferente de assexualidade. Assexualidade é um termo genérico para orientações sexuais que envolvem vários graus de atração sexual e romântica por outras pessoas. Não é uma condição médica. Algumas pessoas assexuais têm preferências ao longo da vida por relacionamentos não sexuais. Embora a falta de interesse pelo sexo ao longo da vida possa ocorrer devido à disfunção sexual, isso nem sempre é o caso.
De acordo com o DSM-5, para que um diagnóstico do transtorno seja aplicado, uma pessoa deve mostrar sinais de “angústia clinicamente significativa” sobre sua falta de desejo. Quem se identifica como assexual não se sente angustiado por isso e não tem problemas para desenvolver relacionamentos íntimos, e por isso não atende aos critérios do transtorno de interesse/excitação sexual feminino.
O desejo sexual e a excitação são complexos. Muitos fatores influenciam a quantidade e o tipo de desejo sexual que uma pessoa tem e como seu corpo responde à intimidade. Embora uma única causa seja muitas vezes difícil de ser identificada, o DSM-5 observa que as pessoas com o transtorno geralmente têm outras dificuldades sexuais ou emocionais, algumas das quais exploramos a seguir:
Uma revisão de 2018 descobriu que a insatisfação no relacionamento era um fator de risco para disfunção sexual em mulheres. Isso pode ser resultado de problemas de comunicação, falta de intimidade emocional ou conflito não resolvido. A saúde mental e física dos parceiros também pode ter um impacto. Se uma pessoa deseja sexo com mais frequência do que seu parceiro, ou se o parceiro tem disfunção sexual, isso pode influenciar o desenvolvimento do transtorno.
Uma autoimagem negativa, falta de confiança no próprio corpo ou aparência e transtornos de humor também estão associados ao transtorno de interesse/excitação sexual feminino. A imagem corporal negativa, ou transtorno dismórfico corporal, pode tornar estressante a perspectiva de tirar a roupa ou a atividade sexual. Estresse, ansiedade e depressão também podem reduzir o desejo de uma pessoa de fazer sexo. No entanto, é importante notar que baixa autoestima, estresse e condições de saúde mental podem ocorrer como resultado do transtorno e podem não ser a causa direta. Algumas pessoas com o transtorno podem ter sofrido abuso emocional ou sexual. Um estudo de 2020 sugere que traumas sexuais, como abuso sexual na infância, podem levar a emoções negativas que podem contribuir para a disfunção sexual.
Crenças pessoais, culturais e religiosas podem desempenhar um papel no transtorno de interesse/excitação sexual feminino. As pessoas que acreditam em papéis tradicionais de gênero ainda podem sentir que não devem desempenhar um papel ativo no sexo ou que não devem apreciá-lo. Isso pode gerar constrangimentos em relação ao sexo.
Se uma pessoa não tem muita experiência ou conhecimento sobre sexo, pode ter ideias irreais sobre o que é “normal” em termos de desejo sexual. Também pode se esforçar para explicar do que gostam ou não, ou desconhecer as diferentes possibilidades de contato sexual. É importante que as pessoas tenham acesso a uma educação sexual de qualidade que normalize o desejo sexual e ensine que o sexo tem um papel positivo no bem-estar de uma pessoa. Uma revisão de 2018 observou que a educação sexual e o sentimento de que o sexo é importante em um relacionamento são fatores de proteção contra a disfunção sexual.
Muitas pessoas com o transtorno também podem experimentar outros tipos de dificuldades sexuais, como:
-dor durante o sexo, como resultado de vaginismo ou vulvodinia, por exemplo
-dor pélvica geral, causada por condições como a endometriose
-dificuldade em atingir o orgasmo ou distúrbio orgástico feminino
-secura vaginal
O tratamento dessas condições pode ajudar a melhorar os sintomas do transtorno de interesse/excitação de uma pessoa.
Outros fatores que podem causar alterações no desejo e na excitação sexual de uma pessoa incluem:
Existem várias maneiras de abordar o tratamento para o transtorno. Esses incluem:
-Psicoterapia ou terapia sexual
-Conversar com um terapeuta sexual, psicoterapeuta ou conselheiro especializado em saúde sexual feminina pode ajudar alguém a identificar fatores que contribuem para o transtorno
Um terapeuta sexual ou psicoterapeuta pode ajudar alguém:
-a aprender habilidades para lidar com o estresse e a ansiedade
-mudar gradualmente sua autoimagem e desenvolver compaixão por si mesmo
-desafiar quaisquer crenças que os façam sentir vergonha do sexo
-aprender a se comunicar mais abertamente com seu parceiro
-resolver traumas passados em um ambiente seguro
Se as dificuldades de relacionamento contribuem para o transtorno, um terapeuta também pode recomendar sessões de aconselhamento de relacionamento, com participação do parceiro.
As opções de medicação para o transtorno incluem a bremelanotida (fármaco injetável não liberado no Brasil, mas já à venda nos EUA), que ativa os receptores no cérebro que influenciam o comportamento e o desejo sexual; já a terapia hormonal pode ajudar a tratar o baixo desejo sexual em pessoas que passam pela menopausa ou que têm desequilíbrios hormonais. Esses medicamentos não serão apropriados para todas. É importante discutir a segurança, interações e efeitos colaterais desses tratamentos com um médico antes de experimentá-los.
Se o desejo sexual de uma pessoa ou a resposta física à estimulação sexual mudou desde que desenvolveu uma condição de saúde mental ou física, ou desde que começou a tomar um determinado medicamento, isso pode ser um fator. Uma pessoa pode discutir as seguintes opções com um médico:
Se uma pessoa perceber que tem menos desejo sexual do que o normal, ou parece não responder à estimulação sexual como costumava, pode procurar ajuda de um médico ou profissional de saúde especializado em sexualidade. Pode ser difícil falar sobre disfunção sexual, mas não há por que sentir vergonha em fazê-lo. O transtorno é um problema de saúde, como qualquer outro, que pode melhorar com tratamento. Ser específica sobre quaisquer preocupações ou mudanças no desejo ou excitação ajudará o médico a aconselhar sobre os próximos passos.
Fonte: Medical News Today
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