O maior desafio em relação aos preservativos é fazer as pessoas usá-los, como ressalta médico em reportagem sobre o novo produto
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h17 - Atualizado às 23h57
Um novo preservativo com gel lubrificante que oferece proteção extra contra o HIV, o HPV e o herpes vírus está para ser lançado na Austrália, como foi noticiado aqui na segunda-feira (21). Nem todos os especialistas, porém, estão animados com o produto, como mostra uma reportagem do site The Huffington Post.
O preservativo VivaGel, da farmacêutica Starpharma, é o único a incorporar um composto antiviral que, em testes, demonstrou ser capaz de inativar até 99,9% dos causadores da Aids, do herpes e do HPV.
Uma das médicas que manifestou receio em relação ao produto é Anna-Barbara Moscicki, professora de pediatria da Universidade da Califórnia e especialista em HPV. Ela participou das pesquisas com o VivaGel em forma de creme intravaginal em 2011 – a ideia era obter um produto que oferecesse proteção quando a mulher não usasse camisinha.
Segundo a médica, o gel provocou uma ligeira irritação e inflamação nas participantes do estudo após duas semanas de uso duas vezes ao dia. O problema é que, quando uma parte do corpo está irritada, são enviadas células brancas para o local, a fim de iniciar o processo de cura. E são justamente essas células que o HIV usa para se espalhar no organismo, o que representaria um risco. A inflamação também pode tornar mais fácil para o HPV romper a camada da pele e infectar uma pessoa.
Em um e-mail enviado ao The Huffington Post, a fabricante esclareceu que a concentração do VivaGel utilizada no preservativo é bem mais baixa que a utilizada no creme vaginal. Moscicki diz que, se realmente não houver risco de irritação, aí sim o produto pode ser considerado mais eficaz que a camisinha sozinha.
Outros especialistas também repetem o que eu mencionei no post anterior: o uso correto e consistente do preservativo já é eficaz contra a transmissão do HIV e de outras DSTs. Só não podemos dizer que o método é 100% eficaz porque há casos em que a camisinha escorrega ou estoura, e há quem não use a proteção desde o início da relação sexual.
Jeffrey Klausner, professor de medicina e saúde pública na Universidade da Califórnia, é mais cético sobre o preservativo VivaGel. Ele ressalta que o maior desafio em relação aos preservativos é torná-los acessíveis e fazer as pessoas usá-los. Portanto, para ele, não está claro o quanto um gel antiviral pode trazer benefício adicional ao método.