Redação Publicado em 16/06/2021, às 10h02
Já prestou atenção naquelas músicas sem muito conteúdo, mas que grudam na cabeça? Normalmente de alguma série ou até como tema de propaganda, existem algumas canções que você pode ficar anos sem ouvir, mas que estarão para sempre decoradas e guardadas com você.
Foi justamente para entender isso que pesquisadores da UC Davis se juntaram. Para eles, essa situação de ter uma música presa na cabeça vai muito além de um incômodo passageiro e, na verdade, desempenha um papel importante em ajudar a formar as memórias, não apenas para a música, mas também para eventos de vida relacionados, como sair com amigos – ou ver outras pessoas conversando com seus amigos no programa de televisão.
"Os cientistas sabem há algum tempo que a música evoca memórias autobiográficas e que essas estão entre as experiências emocionais com a música que as pessoas mais valorizam", disse Petr Janata, professor de psicologia da UC Davis e co-autor de um novo estudo. "O que não foi compreendido até agora é como essas memórias se formam em primeiro lugar e como se tornam tão duráveis, de modo que apenas ouvir um pedaço de uma música pode desencadear uma lembrança vívida".
O artigo, publicado online no Journal of Experimental Psychology: General, oferece um vislumbre inicial desses mecanismos e, de forma um tanto surpreendente, descobre que as canções que ficam grudadas na cabeça ajudam nesse processo de fortalecer as memórias conforme elas se formam pela primeira vez. Portanto, essa é a primeira pesquisa a vincular dois dos fenômenos mais comuns que as pessoas experimentam com a música: ficar com ela presa na cabeça e a lembrança que é vivida.
Para fazer o estudo, os pesquisadores trabalharam com 25 a 31 pessoas diferentes em cada um dos três experimentos, ao longo de três dias diferentes, com intervalos de semanas. Os participantes primeiro ouviram música desconhecida e, em seguida, uma semana depois, ouviram a música novamente, desta vez acompanhada de clipes de filmes também desconhecidos, sendo que em um caso, os filmes foram reproduzidos sem música. Os sujeitos da pesquisa, todos estudantes de graduação e pós-graduação da UC Davis, foram subsequentemente solicitados a lembrar o máximo de detalhes que pudessem de cada filme enquanto a música tocava. Eles também foram questionados sobre suas lembranças das melodias associadas e com que frequência a música ficou na cabeça. Nenhum deles teve treinamento musical formal.
Os resultados: quanto mais uma música é tocada na cabeça de uma pessoa, mais precisa se torna a memória da música e mais detalhes a pessoa se lembra da parte específica do filme com a qual a música foi pareada.
Com apenas uma semana entre o momento em que viram o filme e quando foram solicitados a lembrar o máximo de detalhes que pudessem enquanto ouviam a trilha sonora do filme, o efeito de experimentar repetidamente uma melodia da trilha sonora resultou em uma retenção dos detalhes do filme quase perfeita. As memórias dessas pessoas, na verdade, eram tão boas quanto quando viram o filme pela primeira vez. Além disso, a maioria dos participantes foi capaz de relatar o que estavam fazendo normalmente quando ouviam a música, e nenhum deles mencionou os filmes associados que vinham à mente nesses momentos.
Confira:
“Nosso trabalho mostra que mesmo que você esteja tocando aquela música em sua mente e não puxando os detalhes das memórias explicitamente, isso ainda vai ajudar a solidificar essas memórias”, disse Janata.
"Normalmente pensamos nas músicas presas na cabeça como um incômodo aleatório fora do nosso controle, mas nossos resultados mostram que isso é um processo de memória que ocorre naturalmente e ajuda a preservar experiências recentes na memória de longo prazo", disse Kubit.
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