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Estresse financeiro constante pode afetar sua saúde física

O estresse financeiro invade muitos aspectos da vida, como relacionamentos, alimentação e moradia - iStock
O estresse financeiro invade muitos aspectos da vida, como relacionamentos, alimentação e moradia - iStock

Pessoas que passam por dificuldades financeiras crônicas têm maior tendência a ter problemas de saúde, devido a uma interação entre os sistemas imunológico, nervoso e endócrino. Isso é o que mostrou um estudo feito por pesquisadores da Universidade College London, no Reino Unido.

O trabalho, publicado na revista Brain, Behavior and Immunity, revelou que não apenas eventos estressantes importantes, como o luto, mas também desafios crônicos, como dificuldades constantes para pagar as contas, prejudicam a interação saudável entre esses sistemas.

A comunicação entre nosso sistema imunológico, nervoso e endócrino é necessária para manter uma boa saúde. Interferências nesses processos estão relacionadas a uma ampla gama de doenças mentais e físicas, desde doenças cardiovasculares até depressão e esquizofrenia.

Quando uma ameaça como o estresse ocorre, sinais entre os sistemas imunológico, nervoso e endócrino são ativados e provocam mudanças fisiológicas e comportamentais.

Biomarcadores associados ao estresse

Neste novo estudo, os pesquisadores analisaram as concentrações sanguíneas de quatro biomarcadores em 4.934 pessoas com 50 anos ou mais que participaram do Estudo Longitudinal Inglês sobre Envelhecimento. Dois desses biomarcadores são proteínas envolvidas na resposta do sistema imunológico à inflamação (proteína C-reativa e fibrinogênio). Os outros dois dois são hormônios envolvidos na fisiologia da resposta ao estresse (cortisol e IGF-1).

A equipe utilizou uma técnica estatística para identificar grupos de acordo com a atividade desses biomarcadores. Três grupos foram identificados: de baixo risco para a saúde, de risco moderado e de alto risco. Os pesquisadores, então, examinaram como a exposição anterior a situações estressantes afetava a tendência de os integrantes pertencerem ao grupo de alto risco.

Situação estressante e risco de doenças

Eles descobriram que a exposição a circunstâncias estressantes, em geral, desde cuidar de algum parente doente até vivenciar luto ou divórcio nos últimos dois anos, estava relacionada a um aumento de 61% na probabilidade de pertencer ao grupo de alto risco quatro anos depois.

O efeito também foi cumulativo, e a probabilidade de pertencer ao grupo de alto risco aumentava em 19% para cada situação estressante experimentada por quem citou mais de uma.

Pessoas que relataram apenas estresse financeiro – a percepção de que podem não ter recursos financeiros suficientes para atender às suas necessidades futuras  – tinham 59% mais probabilidade, quatro anos depois, de pertencer ao grupo de alto risco.

O mais prejudicial à saúde

Segundo a autora principal, a candidata a doutorado Odessa Hamilton, quando os sistemas imunológico e neuroendócrino funcionam bem juntos, o equilíbrio é mantido e a saúde é preservada. Mas o estresse crônico pode perturbar essa troca biológica e levar ao adoecimento. 

A pesquisa mostrou que o estresse financeiro foi o mais prejudicial à saúde biológica, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar isso. Isso pode ser devido ao fato de que essa forma de estresse pode invadir muitos aspectos de nossas vidas, levando a conflitos familiares, exclusão social e até fome ou falta de moradia.

Experimentar estresse por um período prolongado pode perturbar a comunicação entre os sistemas imunológico e neuroendócrino. Isso ocorre porque nossa resposta ao estresse é semelhante à nossa resposta à doença, ativando algumas das mesmas vias (por exemplo, ambas as respostas desencadeiam a produção de sinais do sistema imunológico chamados citocinas pró-inflamatórias).

Os pesquisadores também analisaram variantes genéticas que poderiam influenciar as respostas dos sistemas imunológico e neuroendócrino e descobriram que a associação entre enfrentar circunstâncias de vida estressantes e pertencer ao grupo de alto risco quatro anos depois permaneceu verdadeira, independentemente da predisposição genética.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin