Dados mostraram que as consequências do abuso sexual, físico ou da negligência com crianças são duradouras
Redação Publicado em 29/09/2021, às 18h30
Crianças que sofrem abuso sexual, físico ou são negligenciadas (abandonadas) são mais propensas a morrer prematuramente quando adultas, sugere um estudo feito por pesquisadores da Universidade College London e Cambridge (Inglaterra).
A pesquisa, publicada no BJM Open, constatou que adultos que relataram ter sofrido abuso sexual aos 16 anos apresentavam um risco 2,6 vezes maior de morrer na meia-idade, entre 45 e 58 anos, do que aqueles que não sofreram esse tipo de trauma.
Em relação ao abuso físico, as chances eram 1,7 vezes maiores, enquanto aqueles que foram negligenciados tiveram um risco 1,4 vezes maior.
Além disso, os pesquisadores também analisaram a ligação entre o aspecto socioeconômico e a morte precoce. De acordo com os dados, aqueles que eram mais desfavorecidos ao nascer tinham um risco 1,9 vezes maior de mortalidade prematura.
O estudo foi baseado em dados de 9.310 pessoas nascidas em 1958 e que fazem parte de um Estudo Nacional de Desenvolvimento Infantil. Para os autores, a pesquisa é de grande valor porque mostra as consequências duradouras que tipos específicos de abuso infantil e negligência podem ter na vida de uma criança.
Confira:
As descobertas são ainda mais importantes se pensarmos que essas adversidades logo no início da vida não são incomuns e afetam milhões de pessoas no mundo. No Brasil, por exemplo, dos 159 mil registros feitos pelo Disque Direitos Humanos ao longo de 2019, 86,8 mil são de violações de direitos de crianças ou adolescentes, um aumento de quase 14% em relação a 2018, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).
A equipe procurou investigar ainda os fatores socioeconômicos e questões de saúde que poderiam explicar por que as pessoas que foram abusadas ou negligenciadas na infância, ou que nasceram em um lar em desvantagem econômica, eram mais propensas a morrer na meia-idade.
Os achados revelaram que o tabagismo parecia ser especialmente importante na explicação desse fenômeno entre os que foram abusados fisicamente ou sofreram negligências, bem como entre aqueles que eram economicamente desfavorecidos.
Entretanto, nenhum dos fatores examinados, que variaram de saúde mental à obesidade e comportamentos de risco, como consumo ilegal de drogas, parecia ser responsável pela maior probabilidade de morte precoce em pessoas que sofreram abuso sexual na infância.
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