Uma proteína justificaria a hipersensibilidade dos adolescentes à cocaína e à nicotina, o que aumenta o risco de dependência
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h37 - Atualizado às 23h55
Pesquisadores descobriram por que adolescentes são mais propensos a se viciar em drogas e cigarro do que os adultos. Os resultados, segundo eles, podem abrir caminho para novos tratamentos contra a dependência.
Em dois estudos com ratos e seres humanos, uma equipe do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, descobriram que a capacidade de produzir ou sintetizar novas proteínas, regulada por uma molécula chamada eIF2, é o que justifica a hipersensibilidade dos jovens à cocaína e à nicotina.
No primeiro estudo, a equipe injetou uma solução salina em um grupo de cobaias e uma baixa dose de cocaína em outra parcela de ratos. Só nos animais com idade equivalente à adolescência a droga reduziu a atividade de uma das proteínas, a eIF2α; com os adultos isso não aconteceu.
Como resultado, houve um aumento na força das ligações entre os neurônios responsáveis pelo armazenamento de dopamina, uma substância crítica para a formação da dependência, pois aumenta a sensação de prazer.
Doses mais altas de cocaína levaram a respostas parecidas nos ratos adultos, mostrando que os adolescentes têm um limiar mais baixo para os efeitos da droga sobre esses neurônios, ou seja, precisam de menos quantidades para desenvolver o vício.
Com técnicas de genética e farmacologia, os pesquisadores alteraram a produção de proteínas controladas pela molécula, dando características de adolescentes nos ratos adultos. De novo, a teoria foi comprovada. Outro experimento constatou resultados semelhantes com o uso da nicotina.
No segundo estudo, a equipe identificou uma variação no gene que codifica essa proteína e descobriu que isso afeta a maneira como o cérebro de humanos viciados em cigarro responde ao cigarro. O consequente aumento da sensação de recompensa foi constatado em imagens de ressonância magnética.
As conclusões reforçam a tese dos especialistas de que é preciso adiar o máximo possível a exposição dos jovens às drogas e ao tabaco. Além disso, elas podem ajudar os cientistas a encontrar uma forma de alterar a atividade da proteína para combater o vício em adolescentes e adultos. As informações foram publicadas na revista eLife.