Trabalho mostra que as substâncias psicoativas fazem as pessoas tornarem-se mais impulsivas e perderem a capacidade de medir riscos
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h30 - Atualizado às 23h56
Um estudo realizado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostra que existe uma forte relação entre o uso de drogas e ocorrências que envolvem violência, como espancamento e ferimentos por arma branca ou de fogo, além de acidentes de trânsito.
O trabalho foi desenvolvido pela psiquiatra Karina Diniz Oliveira, em sua tese de doutorado. Ela avaliou pacientes vítimas de traumas atendidos entre novembro de 2012 e setembro de 2013 no Hospital de Clínicas da Unicamp. Ao todo, entraram na pesquisa 453 pacientes maiores de 18 anos.
Eles foram convidados a dar entrevista sobre o uso de substâncias psicoativas, como álcool, cocaína, maconha e crack. E também passaram por exames de urina para detectar a presença dessas drogas. Para os pacientes que morreram, foram apenas analisadas as amostras, com o consentimento da família. Cerca de 100 pacientes não quiseram dar entrevista, mas aceitaram passar pelo exame.
Entre os entrevistados, 12,5% estudaram até quatro anos, 34,3% entre quatro e oito anos e 53,3% declararam mais de oito anos de escolaridade. Com relação ao trabalho, 82,3% relataram que exerciam algum tipo de atividade profissional.
Entre os que aceitaram falar sobre o tema, 203 declararam usar pelo menos uma das substâncias psicoativas. O uso combinado foi relatado por 147 pessoas. Cerca de 10% declararam ser dependentes de uma ou mais drogas. A maior parte dos entrevistados também afirmou ter iniciado o uso antes dos 18 anos.
Algumas constatações importantes da pesquisa: o uso de cocaína nas 72 horas anteriores ao trauma foi detectado em quase 20% dos exames, uma taxa que é três vezes maior que a média nacional. A maior parte dos usuários dessa droga era do sexo masculino. Já os benzodiazepínicos (calmantes) foram mais citados pelas mulheres. A idade também influenciou: os usuários de maconha e cocaína eram mais jovens, enquanto os que faziam uso de calmantes eram mais velhos.
A pesquisa ainda constatou que todos os traumas decorrentes de espancamento e queda de altura sofridos por mulheres foram causados por companheiros, namorados ou maridos. E que, dentre os 249 pacientes atendidos que sofreram traumas de trânsito, 121 eram jovens e foram socorridos devido a acidente com motocicleta.
Como explica a pesquisadora, que foi orientada por Renata Soares de Azevedo, o usuário de drogas fica mais impulsivo e perde a capacidade de medir riscos. É por isso que não é incomum que se envolva em situações de violência ou em acidentes.