Redação Publicado em 12/02/2021, às 12h00
Não é novidade que passar por um estresse emocional ou físico repentino, como desastres naturais ou eventos semelhantes, pode desencadear ataques cardíacos. Porém, até então, existiam poucas evidências científicas a respeito do estresse a longo prazo. Será que estar estressado por grandes períodos pode levar a um infarto?
É o que sugere um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia. De acordo com a pesquisa, os níveis do hormônio do estresse - o cortisol - aumentam nos meses anteriores a um ataque cardíaco. Os resultados indicam, portanto, que o estresse a longo prazo é um fator de risco para esses eventos.
O ataque cardíaco ocorre quando o músculo cardíaco é danificado por falta de oxigênio para uma parte do coração. Na maioria das vezes, um coágulo sanguíneo se forma e impede o sangue de fluir através das artérias coronárias, responsáveis por fornecer sangue rico em oxigênio ao coração.
Basicamente, a causa da maioria dos ataques cardíacos é o endurecimento das paredes das artérias (aterosclerose) e isso pode começar a surgir décadas antes dos primeiros sintomas aparecerem. O importante é que, se assim for, o estresse a longo prazo e esse endurecimento estão associados.
Atualmente, o estresse é algo natural na rotina de grande parte das pessoas, mas ainda não se sabe ao certo sobre os efeitos disso no corpo humano em um prazo de tempo maior.
Por conta da falta de métodos confiáveis, era uma missão difícil medir o estresse a longo prazo. Nesse cenário, os pesquisadores melhoraram o uso de um novo biomarcador (indicador que pode ser mensurado por exame e indica alguma função biológica), capaz de medir o cortisol nos cabelos. Essa técnica permite descobrir como estava o nível do hormônio meses antes da análise.
Tomas Faresjö, da Universidade de Linköping e principal pesquisador do estudo, explica que se perguntarmos a alguém que sofreu um ataque cardíaco, se a pessoa estava estressada antes de aquilo acontecer, provavelmente ela responderá sim. Mas essa percepção pode ser exagerada devido ao acontecimento. Com o método, a avaliação deixa de ser subjetiva, já que é possível medir o cortisol retrospectivamente e mostrar os níveis de estresse meses antes do infarto.
Para chegar aos resultados a pesquisa, publicada na Scientific Reports, utilizou-se amostras de cabelo com comprimento entre um e três centímetros, correspondendo de um a três meses de crescimento capilar.
Os níveis de cortisol foram medidos em amostras de cabelos de 174 homens e mulheres que haviam sido admitidos por infarto do miocárdio em clínicas de cardiologia no sudoeste da Suécia. Para o grupo de controle, os estudiosos utilizaram amostras de cabelo de mais de 3.000 participantes com idades semelhantes.
Os pesquisadores descobriram que os pacientes que sofreram um ataque cardíaco apresentaram níveis estatisticamente significativos de cortisol durante o mês anterior ao evento.
Ainda houve um ajuste para outros fatores de risco cardiovasculares como pressão alta, tabagismo, histórico de ataques cardíacos, hereditariedade, altos níveis de colesterol e diabetes, mas mesmo assim o alto índice de cortisol permaneceu como um forte fator de risco.
"Os níveis do hormônio do estresse diferem entre pessoas que tiveram um ataque cardíaco e aquelas não afetadas. Isso sugere que o cortisol no cabelo pode ser um novo marcador de risco para infartos. Devemos levar o estresse a sério", comentou Tomas Faresjö.
Os pesquisadores ainda não conseguem explicar completamente o que causa os altos níveis de cortisol identificados nos participantes do estudo. Isso porque o estresse pode ser resultado de vários fatores internos, como outra doença, ou externos, como dificuldades econômicas ou algum grande acontecimento de vida.
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