Histórico familiar de diabetes ou diabetes mal controlada também são fatores comuns
Redação Publicado em 02/07/2024, às 09h00
A pergunta pode soar estranha, mas você já sentiu tontura após comer um doce? Ou então teve aquela sensação de zumbido no ouvido depois de degustar um generoso pedaço de bolo? Por mais que pareça não ter muita relação isso pode ocorrer, sim. Isto porque a ingestão excessiva de alimentos com alto teor de açúcar causa alterações no metabolismo que podem trazer um impacto significativo na saúde da orelha interna, afetando o sistema auditivo e equilíbrio e resultando em uma variedade de sintomas incômodos.
A orelha interna é a parte mais profunda da orelha e abriga duas estruturas principais: a cóclea e o sistema vestibular. A cóclea é responsável por converter as vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos ao cérebro por meio do nervo auditivo.
Nathália Prudencio, médica otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido, conta que a orelha interna, especialmente o labirinto, possui uma atividade metabólica intensa e alta demanda de energia. Isso a torna particularmente sensível a alterações no metabolismo do corpo. Quando os níveis de glicose e insulina no sangue estão desequilibrados, por exemplo após o consumo exagerado de doces, a composição e a quantidade da endolinfa, o líquido dentro do labirinto, podem ser afetadas. Essa alteração pode causar sintomas como zumbido (tinnitus), sensação de ouvido tapado, perda de audição e tontura.
A especialista explica que, além de casos de hiperglicemia, quando os níveis de açúcar no sangue estão muito altos, episódios de hipoglicemia, isto é, a baixa concentração de glicose sanguínea, também podem afetar a orelha interna, embora mais raramente. Um estudo com 376 pacientes suspeitos de terem alterações no metabolismo de carboidratos que afetam a orelha interna revelou que muitos relataram incômodo com sons altos e sensação intermitente de ouvido tapado. Além disso, alguns deles experimentaram uma sensação de flutuação e vertigem, sintomas relacionados ao equilíbrio.
A médica lembra que pacientes com histórico de alimentação irregular, consumo excessivo de carboidratos de rápida absorção, doces e alimentos ricos em farinha branca (como pães e massas), ou aqueles que passam por longos períodos de jejum tendem a relatar esses sintomas. Histórico familiar de diabetes ou diabetes mal controlada também são fatores comuns.
Para avaliar essas condições, exames de sangue podem ser realizados para identificação de alterações na glicemia de jejum, hemoglobina glicada, insulina e triglicerídeos, indicando alterações no metabolismo do açúcar. O exame de curva glicoinsulinêmica também pode revelar níveis aumentados de glicose e insulina após a ingestão de açúcar ou episódios de hipoglicemia.
Além dos exames de sangue, a audiometria, que avalia a audição, pode apresentar uma curva característica conhecida como U invertido, sugerindo um diagnóstico relacionado ao metabolismo do açúcar, alerta a médica.
O tratamento inclui alguns ajustes nos hábitos alimentares dos pacientes, como redução do consumo de carboidratos, especialmente aqueles que contêm farinha branca, diminuição da ingestão de açúcar refinado e doces e realização de refeições em intervalos regulares. Além disso, a inclusão de atividade física na rotina é fundamental, pois ajuda a reduzir os níveis de glicose e insulina no sangue, diz a otorrinolaringologista.
Segundo a médica, é importante que haja uma abordagem completa, envolvendo diferentes especialistas, para garantir o tratamento adequado e eficaz. Nesses casos pode ser necessário também o acompanhamento com um endocrinologista e um nutricionista, que podem fornecer um controle mais detalhado e orientações personalizadas para cada paciente. Seguindo essas recomendações, é possível não apenas melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas também reduzir os sintomas incômodos associados às alterações no metabolismo do açúcar e seus efeitos na orelha interna.
Fonte: Nathalia Prudencio é médica otorrinolaringologista, especialista em tontura e zumbido. Fez especialização e mestrado em otoneurologia pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, Instagram: @dranathaliaprudencio
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