Estudo de revisão recente do F&S Reports, publicação da American Society for Reproductive Medicine, indicou que mulheres podem continuar a praticar exercícios físicos enquanto tentam engravidar, desde que compensem o déficit de energia aumentando a ingestão calórica. Pesquisa também mostrou que níveis vigorosos de exercício aeróbico melhoram as chances de concepção para aquelas com SOP (síndrome do ovário policístico).
“Entre as mulheres com síndrome do ovário policístico, treinamento de resistência e níveis vigorosos de exercícios aeróbicos foram associados a benefícios reprodutivos”, afirma Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. As recomendações devem incluir um regime de exercícios sustentáveis por longos períodos, de acordo com o estudo.
Rosa explica que o ideal é que a atividade física seja realizada, no mínimo, três vezes por semana, cerca de 150 minutos: “A atividade física ideal para melhorar a fertilidade é a de média intensidade. Em alguns casos, como em casos de SOP (Síndrome do Ovário Policístico), pode ser realizada a modalidade HIIT, mas o ideal são atividades físicas moderadas. Para os homens, qualquer atividade física está liberada, com exceção de ciclismo em alta intensidade ou frequência, o que pode piorar a produção de espermatozoides e aumentar a fragmentação do DNA espermático”, destaca o especialista.
Já é bem conhecido que ter uma dieta saudável, evitar o consumo de álcool e tabaco e lutar contra o sedentarismo melhoram a fertilidade. No entanto, as diretrizes sobre o impacto dos níveis de exercício e atividade física na saúde reprodutiva e na probabilidade de concepção ainda não são estabelecidas. “Vários outros estudos já relataram que praticantes de atividade física, desde que não seja totalmente desgastante, que não façam uso de esteroides, e que tenham uma alimentação correta, experimentam diversos benefícios, com maiores chances de conceber um filho”, destaca Rosa.
Ele lembra que, além das causas naturais e do envelhecimento, há um impacto da vida moderna e dos maus hábitos nas causas da infertilidade, sendo que o sedentarismo e a obesidade, por exemplo, dificultam muito a concepção de um filho. Rosa também destaca que homens que participaram de programas de fertilização in vitro e realizaram exercícios regulares moderados a vigorosos tinham concentrações de espermatozoides mais altas do que aqueles menos ativos.
“Esse é um dado importante, porque o hábito de vida de ambos, tanto do homem quanto da mulher, importa para o sucesso da fertilização”, explica o especialista. “É de vital importância que os médicos de fertilidade aconselhem as pacientes sobre os fatores de risco modificáveis do estilo de vida”, acrescenta.
Um dos grandes benefícios do exercício físico com relação à fertilidade está no melhor controle do peso. Além de favorecer o surgimento de doenças como diabetes e hipertensão, que podem causar problemas durante a gestação, a obesidade também possui influência direta sobre a fertilidade.
No caso dos exercícios aeróbicos, o médico lembra que a corrida está ligada a uma maior produção de serotonina, hormônio do prazer, ao mesmo tempo em que permite modulação do estresse, por meio da diminuição dos níveis de cortisol. Altos níveis de estresse podem tornar as chances de um casal engravidar menores. Isso porque o estresse causa processos fisiológicos que podem interferir na produção de hormônios reprodutivos importantes, além de, no homem, favorecer o surgimento de proteínas inflamatórias que prejudicam a qualidade do esperma.
“Nosso corpo é uma máquina de gastar energia, mas quando isso não acontece, podemos ter problemas de insônia, que também são prejudiciais à fertilidade. O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que, consequentemente, interfere na fertilidade.”
O médico também diz que há um benefício mental quando o paciente começa a praticar atividade física e superar seus próprios limites. “Isso acaba funcionando como um parâmetro para sua vida e, geralmente, ele consegue ter a mesma determinação na alimentação e também largando vícios como tabagismo e álcool, que também interferem negativamente na fertilidade".
A advogada Tatiana Pavan, de 34 anos, e o marido, o empresário Alex Soares Marques, de 38 anos, sabem bem disso. Após três anos tentando engravidar, o casal sofreu um aborto espontâneo em oito semanas, em 2018. Em maio do ano seguinte, tentaram fertilização in vitro e não obtiveram sucesso. Foi quando Rosa aconselhou o casal a adicionar atividade física à rotina, assim como a mudarem o estilo de vida. Em setembro do mesmo ano, Tatiana engravidou naturalmente, e João Pedro nasceu em junho de 2020.
No caso dela, o problema não era o peso corporal. “Eu sou considerada uma pessoa magra, mas era bem sedentária; comia besteira, não engordava e não fazia atividade física. Não gostava mesmo, deixava isso muito claro. Meu marido ainda fazia uma atividade física alguns anos antes da gente tentar engravidar, mas como estávamos passando por esse processo de tentativas, ficamos bem estressados e ele não estava fazendo nenhuma atividade”, conta.
Com a orientação do médico, os hábitos mudaram. Tatiana conta que ia à academia e pensava: ‘Meu Deus, se eu correr mais 5 minutos pode ser que eu consiga meu bebê’. “Eu chorava muito por isso, mas ter essa rotina de exercícios me fez até pegar gosto de ir para academia. Mandávamos foto para o médico e sempre tivemos o incentivo dele. Também parei de exagerar em carboidratos, pizzas, hambúrgueres, porque eu pensava que se eu comesse ia prejudicar meu corpo. Faríamos uma nova fertilização em outubro; de maio até outubro, fomos para a academia praticamente todos os dias da semana. E em setembro conseguimos engravidar naturalmente, sem precisar de fertilização”, explica Tatiana.
No entanto, Rosa faz uma ressalva: tudo em excesso faz mal, o que também vale para a realização de atividade física. “O excesso de exercícios físicos, o overtraining, também prejudica o funcionamento da hipófise e, por consequência, os níveis dos hormônios envolvidos na fertilidade. Além disso, muitas pessoas que realizam atividade física intensiva sem uma recuperação adequada fazem uso de medicamentos que simulam os efeitos da testosterona como forma de acelerar o ganho de massa muscular, o que pode causar impotência e perda de apetite sexual nos homens e desequilíbrios hormonais e dificuldade no crescimento do endométrio em mulheres, o que reduz as chances de gravidez e aumenta os riscos de aborto.”
Ele lembra que, caso o casal perceba que está tendo problemas para engravidar, é importante que ambos consultem um médico especializado. “Apenas ele poderá realizar uma avaliação e identificar a real causa do problema, recomendando assim o tratamento adequado ou, quando a causa da infertilidade não pode ser revertida, métodos de reprodução assistida”, finaliza.
Fonte: Rodrigo Rosa é ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH). Instagram: @dr.rodrigorosa
Cármen Guaresemin
Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão. @Carmen_Gua