Redação Publicado em 18/08/2021, às 18h30 - Atualizado às 19h00
Um novo estudo realizado pelos pesquisadores do Brigham and Women's Hospital da Universidade de Harvard (Estados Unidos) encontrou uma potencial ligação direta entre a exposição ao tabagismo parental durante a infância e o aumento do risco de artrite reumatóide soropositiva (AR) mais tarde na vida.
Para a pesquisa, foram utilizados dados longitudinais de 90.923 mulheres do Estudo de Saúde das Enfermeiras II (NHSII) com objetivo de analisar essa possível relação. Mesmo com o tabagismo pessoal sendo contabilizado, a exposição passiva causada pelos pais durante a infância mostrou aumentar em 75% o risco incidente de AR.
A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica caracterizada por afetar diversas articulações do corpo. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a causa ainda é desconhecida e a doença acomete duas vezes mais as mulheres.
Geralmente, a condição tem início entre os 30 e 40 anos, aumentando a sua incidência com a idade. Entre os sintomas mais comuns estão os da artrite (dor, edema e vermelhidão em articulações do corpo, principalmente punhos e mãos), rigidez matinal, fadiga e, com a progressão do quadro, algumas pessoas podem desenvolver deformidades nas cartilagens.
Além das articulações, outras partes do corpo podem ser acometidas, como pele, unhas, coração, rins, pulmão e olhos. Inclusive, muitos indivíduos diagnosticados com AR têm sinais de inflamação pulmonar, o que inclui, ao lado dos fatores genéticos e ambientais, o tabagismo como um fator de risco para o desenvolvimento da condição.
O tabagismo pessoal (ativo) já era considerado um fator de risco ambiental muito bem estabelecido, mas o passivo ainda era uma questão relativamente inexplorada.
Para vincular o tabagismo passivo e a incidência de AR de forma mais conclusiva, a equipe utilizou os dados dos questionários do NHSII – sobre mulheres de 35 a 52 anos – coletados a cada dois anos entre 1989 e 2017. As estatísticas foram utilizadas para estimar o efeito direto de cada exposição passiva sobre o risco da doença, além de controlar outros fatores de risco, como o tabagismo pessoal.
A exposição passiva foi dividida em três categorias:tabagismo materno durante a gravidez, tabagismo parental durante a infância e anos vividos com fumantes desde os 18 anos.
Confira:
Os achados – publicados na Arthritis & Reumatology – revelaram que um risco 75% maior foi encontrado em indivíduos que experimentaram exposição passiva na infância ao tabagismo parental. As chances foram ainda maiores em participantes que se tornaram fumantes ativos.
Segundo os resultados, com uma média de 27,7 anos, 532 mulheres desenvolveram casos confirmados de AR incidente, sendo que a maioria (352 participantes) era soropositiva – categoria em que a doença ocorre associada à presença de fatores reumatoides (autoanticorpos).
O tabagismo materno durante a gravidez e os anos vividos com fumantes acima dos 18 anos não apresentaram associação significativa com o risco de AR incidente.
De acordo com os pesquisadores, as descobertas fornecidas pelo estudo dão mais profundidade e gravidade às consequências negativas (para a saúde) do tabagismo em relação à AR, uma das doenças autoimunes mais comuns.
Além disso, para eles, a relação entre o consumo de tabaco passivo das crianças e o desenvolvimento de artrite reumatoide pode ir muito além da reumatologia, precisando ser investigado se essa questão é capaz de predispor indivíduos à autoimunidade geral mais tarde na vida.
Veja também: