56% das mulheres são mortas por parceiros ou familiares, aponta ONU

Novo relatório revelou que parceiros íntimos ou parentes foram os grandes responsáveis por feminicídios em 2021

Milena Alvarez Publicado em 05/12/2022, às 15h00

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas no Brasil em 2021 - iStock

Um novo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que, em 2021, 56% dos feminicídios no mundo foram cometidos por parceiros íntimos ou por outros familiares. Feminicídio é considerado todo homicídio praticado contra a mulher por razões da condição do gênero feminino e em decorrência da violência doméstica e familiar, ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Enquanto a maioria dos homens assassinados morrem fora de suas casas, as mulheres não estão seguras dentro do próprio ambiente familiar, sendo ameaçadas por maridos, ex-companheiros, pais, irmãos, tios e filhos. 

A criação dos meninos

Muitos pais e cuidadores acabam reforçando modelos que reproduzem diferenças na criação de meninos e meninas. Na escola não é diferente e essa dualidade segue sendo reforçada através das relações entre os grupos sociais. Compartilhar emoções, falar sobre sentimentos e cuidar do corpo são questões focadas no sexo feminino. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), por exemplo, as chances de um menino procurar um médico na adolescência é 18 vezes menor do que as de uma menina se consultar com o ginecologista.

Assim, garotos são ensinados a lidar com problemas sozinhos, a deixar de lado as próprias emoções e sentimentos, e a sustentar a ideia de ser alguém “infalível” e “invulnerável”. Tudo isso começa na infância e é consolidado na vida adulta, em que homens ignoram a importância de cuidar da saúde. Dados mostram que as mulheres acompanham seus parceiros, pais e filhos em 70% dos atendimentos médicos, segundo um levantamento do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo. 

Confira:

Uso da violência para lidar com inseguranças e frustrações 

Deixar de lidar com a saúde (especialmente com a mental) reforça a ideia de que o homem precisa resolver tudo sozinho, nem que seja preciso utilizar a violência. Não é à toa que as causas externas (acidentes e assassinatos) estão entre as principais causas de mortalidade dos homens, principalmente dos mais jovens.

Esse cenário também acaba impactando a vida das mulheres. Além de precisarem dar o suporte e encaminharem os parceiros aos serviços de saúde, elas podem se tornar vítimas diretas dessa dificuldade dos homens de expressarem vulnerabilidades e sentimentos

Através da violência – seja moral, financeira, sexual, emocional e tantas outras formas – muitos encontram um caminho para lidar com inseguranças e frustrações. Ainda de acordo com o relatório da ONU, o lar passou a ser um dos lugares mais perigosos para mulheres em todo o mundo, com 45 mil mortes por feminicídio só em 2021. 

O feminicídio no Brasil 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas no Brasil em 2021, totalizando 1319 casos. Já os estupros somaram mais de 56 mil casos, o que equivale a um a cada 10 minutos.

De acordo com o psiquiatra Jairo Bouer, além de impactar positivamente no bem-estar e na expectativa de vida, o cuidado com a saúde por parte dos homens também pode afetar diretamente as mulheres:

Entender que as relações amorosas podem acabar, saber transformar mágoas, tristezas e frustrações em outras emoções e comportamentos que não a violência, perceber quando não se está bem e poder pedir ajuda, sem medo ou vergonha, são instrumentos fundamentais nessa transformação do homem”, comentou. 

Para ele, esse objetivo pode ser alcançado através de mudanças na educação em ambiente familiar e escolar, bem como com políticas públicas efetivas:

 Um homem que aprende a cuidar melhor de si mesmo (principalmente no campo dos afetos e das emoções) e a perceber as armadilhas que a masculinidade tradicional impõe possivelmente saberá lidar melhor com sua saúde, com o mundo e, sobretudo, com a vida de milhões de mulheres”, finalizou Jairo. 

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