Estudos mostram que a qualidade do sêmen tem diminuído nas últimas décadas Publicado em 18/01/2021, às 10h00
Estudos recentes vêm confirmando o que médicos já desconfiavam: a infertilidade masculina é um problema global crescente. Estudos feitos em diferentes países têm demonstrado um declínio na qualidade do sêmen nas últimas décadas.
Se antes a mulher era, erroneamente, sempre avaliada primeiro quando um casal não conseguia a tão sonhada gravidez, hoje os especialistas já sabem que fatores masculinos são responsáveis por metade dos casos de infertilidade que levam casais a buscar ajuda.
Segundo o especialista em ginecologia e obstetrícia Arnaldo Cambiaghi, do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia, são muitos os fatores que podem afetar a fertilidade, como: exposição a pesticidas, produtos químicos industriais e metais pesados; obesidade; alcoolismo; tabagismo; sedentarismo; uso de drogas; ingestão insuficiente de nutrientes; estresse oxidativo; fatores fisiológicos (como idade avançada); e, ainda, genéticos.
“Quando se fala na saúde reprodutiva do homem, muitos pacientes acreditam que a contagem de espermatozoides (concentração) é o único critério para se avaliar a fertilidade. Ela é, de fato, importante, mas há outros aspectos igualmente relevantes para avaliá-la. Estes incluem a motilidade (movimentação dos espermatozoides) do esperma e a morfologia (formato correto e estrutura fisiológica)”, afirma Cambiaghi.
Uma das culpadas pela infertilidade, inclusive a feminina, é a má alimentação. Um estudo realizado na Escola de Saúde Pública de Harvard, nos EUA, e publicado no site Jama Network, mostrou como a dieta ocidental típica vem prejudicando a fertilidade, especialmente a masculina.
“O consumo alimentar deficiente em nutrientes importantes para a manutenção das funções reprodutoras, seja ele superior ou inferior às recomendações diárias, pode ter relação com a má qualidade, a baixa concentração, a alteração da forma e a produção de espermatozoides”, alerta Cambiaghi.
Os valores de referência da OMS para a qualidade do sêmen são:
- concentração espermática de 15 milhões de espermatozoides por ml ou mais;
- contagem total de espermatozoides 39 milhões de espermatozoides por ejaculação ou mais;
- motilidade total definida como 40% ou mais móvel, ou 32% ou mais com motilidade progressiva.
Uma pesquisa feita pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), há alguns anos, mostrou que a concentração média de espermatozoides de pacientes brasileiros caiu quase pela metade em cerca de três décadas. A média era de 86 milhões por ml no período de 1989 a 1995, mas diminuiu para 48 milhões por ml de 2011 a 2016.
A motilidade, ou seja, a capacidade de movimentação dos espermatozoides, caiu de 47% para 36% entre 2011 e 2016. Por último, a morfologia (forma), caiu de 12% para 3,7% no período. Esse trabalho avaliou amostras de sêmen de 9.495 homens atendidos no hospital da universidade com queixas de dificuldade de engravidar suas parceiras.
Os resultados coincidem com outro estudo recente, da Universidade Hebraica de Jerusalém, em que foram analisadas amostras sêmen de norte-americanos, europeus, australianos e neozelandeses. Os pesquisadores descobriram que a concentração média de espermatozoides desses homens diminuiu mais de 50% em menos de 40 anos, o que foi publicado no periódico científico Human Reproduction Update.
Conheça, a seguir, alguns fatores que podem afetar a fertilidade e como eles atuam no organismo, segundo Cambiaghi:
- Alimentação: consumir fast food, pizzas, lanches, doces, refrigerantes e alimentos que aumentam o colesterol ruim, como os processados, os embutidos e os mais gordurosos.
- Toxinas ambientais: mudanças no ambiente têm preocupado autoridades no mundo todo. Muitas delas têm sido causadas pela evolução tecnológica, e podem interferir na saúde e no bem-estar. O uso de pesticidas nas plantações é uma delas.
-Estresse: também é uma variável que pode interferir na baixa contagem de espermatozoides. O estresse emocional e físico, bem como a insônia, podem facilitar desequilíbrios hormonais nos homens.
-Plásticos: muitos deles, como embalagens de alimentos, garrafas de água e outros recipientes, contêm bisfenol (BPA) na composição. Existe a suspeita de que essa substância cause câncer, diabetes e infertilidade.
-Fumo: pode levar à diminuição da produção de espermatozoides, diminuição da motilidade e causar danos ao DNA.
-Álcool: o excesso de álcool pode diminuir a produção de testosterona, causar impotência e contribuir para uma diminuição do esperma produzido.
-Excesso de exercícios: exercício é ótimo para a saúde em geral, porém, ao tentar engravidar, exercícios extenuantes (mais de 5 horas por semana) podem ser mais prejudiciais do que benéficos, pois interferem na liberação de hormônios.
- Calor: esse é um tópico de debate e a pesquisa não é conclusiva sobre seu efeito na produção de espermatozoides; no entanto, evitar roupas íntimas apertadas, que aqueçam demais os testículos, pode ser algo sensato.
-Infecções Sexualmente Transmissíveis: ISTs, como a gonorreia e a clamídia, em particular, causam problemas de fertilidade em homens e mulheres.
- Café: quando se consome 500 miligramas (o equivalente a cerca de cinco xícaras) ou mais ao dia é possível ter prejuízos. Os limites recomendados de cafeína são de cerca de 200-250 miligramas por dia.
- Idade: apesar de vermos atores e astros do rock com mais de 50 anos tendo filhos, um estudo realizado pelo Centro de Saúde Reprodutiva e Genética (CRGH) de Londres, com homens com mais de 51 anos, demonstrou que a qualidade do sêmen diminui com o aumento da idade e que esse declínio reflete o também declínio no resultado de tratamentos de fertilização in vitro, por exemplo.
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