Sinais da dependência de heroína são detectados em tecido cerebral de usuários até nove dias após a morte de usuários
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h44 - Atualizado às 23h54
A fissura causada pela dependência de drogas gera mudanças tão expressivas no cérebro que é possível encontrar seus sinais depois que o usuário morre. A afirmação é de cientistas do departamento de medicina forense da Universidade Médica de Viena, na Áustria.
Em pesquisa publicada no Journal of Addiction Research & Therapy, os autores explicam que a dependência altera uma proteína, conhecida como FosB, no centro de recompensa do cérebro. Essa substância é modificada geneticamente e se torna mais estável, permanecendo mais tempo do que deveria nessa área envolvida no desejo por uma nova dose. Isso acontece até várias semanas após a abstinência da droga.
Junto com outras moléculas, a FosB está envolvida na transmissão de estímulos para as células e também na ativação de genes. Com o uso crônico de drogas, portanto, o cérebro é alterado de forma estrutural.
O estudo contou com amostras de tecido cerebral de 15 cadáveres de dependentes de heroína. Os pesquisadores, liderados por Monika Seltenhammer, viram que a “memória do vício” foi detectada até nove dias após a morte dos usuários.
A equipe acredita que os resultados possam ajudar, no futuro, em tratamentos que ajudem dependentes em recuperação durante o período de abstinência. E saber que a fissura é tão poderosa que pode ser identificada após a morte é um motivo a mais para as pessoas manterem distância das drogas.