Problemas de saúde mental com frequência são tratados com uma variedade de medicamentos. E, embora os psiquiatras sempre recomendem aos pacientes que façam psicoterapia, nem todo mundo tem condições de pagar por ambos os pilares do tratamento.
A abordagem medicamentosa, no entanto, ignora em grande parte o papel do ambiente, do estilo de vida e dos fatores sociais na saúde mental das pessoas. Por isso, profissionais de saúde mental deveriam trabalhar de forma mais holística, argumenta um grupo de pesquisadores brasileiros em artigo publicado no periódico de livre acesso PLOS Mental Health esta semana.
O trabalho é assinado pelos pesquisadores Sidarta Ribeiro, Ana Paula Pimentel, Paulo Amarante e colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fiocruz.
Mais pessoas do que nunca estão sendo diagnosticadas com problemas de saúde mental – principalmente crianças e jovens adultos. A Organização Mundial da Saúde OMS) estima que as condições de saúde mental afetam pelo menos uma em cada oito pessoas em todo o mundo.
Ainda que os tratamentos farmacêuticos tenham evoluído, os pesquisadores argumentam que a psiquiatria tornou-se excessivamente medicalizada, concentrando-se na utilização de medicamentos para gerir a saúde mental. Um caminho melhor, dizem eles, envolve a integração da medicação com uma compreensão mais profunda de todos os fatores mentais e físicos que podem afetar a saúde mental.
Um tratamento mais holístico, segundo eles, começa com os direitos e a dignidade do indivíduo. Eles também observam que os modelos de apoio entre pares e o fortalecimento da comunidade podem melhorar os resultados para pessoas que sofrem crises mentais agudas.
O grupo sugere que o tratamento psiquiátrico poderia integrar mudanças no estilo de vida para melhorar o sono, a nutrição e a prática de exercícios (como ioga e capoeira, por exemplo).
Finalmente, a gestão holística da saúde mental envolve o envolvimento em “diálogos internos”, utilizando abordagens como psicoterapia, arteterapia e exposição à natureza.
Em outras palavras, os pesquisadores argumentam que a psiquiatria deve envolver-se não apenas com a biologia do indivíduo, mas também com os seus contextos sociais, seus ambientes e suas vidas como um todo. Eles acrescentam:
Os déficits de sono, nutrição, exercício, introspecção e outros pilares de uma boa saúde mental não ocorrem no vácuo, são produzidos pela forma como vivemos (...) É hora de lutar por uma visão mais naturalista e benigna para promover o bem-estar mental, fortalecendo as conexões com o próprio corpo, natureza e comunidade."
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin