Você já foi vítima de ghosting, orbiting ou breadcrumbing? Essas palavras em inglês têm se tornado clichês conhecidos e temidos por quem procura sua carametade em aplicativos de encontros ou mesmo nas redes sociais.
Apesar de terem existido sempre, esses padrões de comportamento parecem ter se tornado mais comuns à medida em que a tecnologia aumentou a frequência de interações com potenciais parceiros. E o impacto deles à saúde mental das pessoas tem sido significativo.
Em artigo recente no site The Conversation, a psiquiatra e psicoterapeuta Danielle Sukenik, da Universidade do Colorado, nos EUA, dá uma ideia de como esses fenômenos podem prejudicar nossa vida e traz algumas dicas para se preservar deles.
Ser vítima de ghosting significa que você estava se relacionando com alguém e a pessoa, de repente, desaparece, ou vira “fantasma”. Já no orbiting, a pessoa deixa de responder ou enviar mensagens diretas, mas continua a seguir a outra nas redes sociais, e às vezes até interage com alguns posts.
Um estudo de 2022 comparou as consequências psicológicas de ser vítima de ghosting, de orbiting ou ser rejeitado. Um total de 176 participantes recebeu uma das três estratégias de rompimento aleatoriamente, e depois todos preencheram a questionários para avaliar os sentimentos sobre o ocorrido.
Embora os sentimentos de rejeição não tenham diferido entre as três estratégias de rompimento – o fim de uma relação dói de qualquer maneira – os resultados mostraram que o ghosting levou a sentimentos de exclusão mais fortes do que a rejeição. As pessoas nessa categoria também foram mais propensas a sentir que as suas necessidades básicas de pertencimento, auto-estima e controle estavam ameaçadas.
O orbiting, por outro lado, teve resultados “menos piores”. As vítimas dessa estratgégia também relataram sentir níveis mais elevados de exclusão e ameaça às suas necessidades básicas do que aquelas que foram rejeitadas completamente, mas menos do que as vítimas de ghosting. É possível que isso aconteça porque receber atenção esporádica ameniza os sentimentos de exclusão.
A psicoterapeuta explica que compreender uma separação é importante e ajuda os indivíduos a se recuperarem do evento. Sem explicação, o indivíduo rejeitado pode ficar confuso e inseguro, às vezes com feridas psicológicas não curadas, como já indicou uma pesquisa sobre o tema.
O problema é que o orbiting pode causar mais ambiguidade – a vítima pode se perguntar se a outra pessoa ainda está atraída ou se deseja retornar ao relacionamento. Para algumas pessoas, essa incerteza pode ser prejudicial, enquanto outras acham mais fácil abandonar um relacionamento se ainda estiverem recebendo algum nível de atenção digital.
Dois estudos realizados em 2004 e 2005 mostraram que as pessoas preferem receber atenção negativa a serem totalmente ignoradas. Nesses experimentos, aqueles que vivenciaram a rejeição completa relataram níveis mais baixos de pertencimento, controle, existência significativa e superioridade do que aqueles que experimentaram algum tipo de discussão.
Breadcrumbing é o termo utilizado quando alguém deixa envia pequenos sinais de atenção, esporádicos e sedutores, para manter a outra pessoa interessada, mesmo que ela não tenha intenção de se relacionar.
Alguns sinais clássicos de breadcrumbing incluem não responder às mensagens por longos períodos de tempo, manter uma comunicação vaga, e evitar discussões relacionadas a sentimentos. Esses padrões tendem a aumentar o ego, a autoestima e a sensação de poder daqueles que o promovem.
Para a pessoa que está sendo explorada, porém, a história é diferente. Um estudo de 2020, com 626 adultos, descobriu que as vítimas de breadcrumbing são significativamente mais propensas a ter sentimentos de solidão, desamparo e menor satisfação com a vida do que as vítimas de ghosting.
Como as pessoas que recebem a migalhas permanecem no limbo por mais tempo, elas experimentam repetidos sentimentos de exclusão e ostracismo. A natureza contínua do fenômeno explica por que ela pode ter efeitos mais negativos na saúde mental.
Dada a prevalência desses comportamentos, é provável até que você mesmo(a) já tenha empregado algumas dessas táticas. Danielle recomenda que, se esse é o seu caso, que você pense melhor se esses padrões trazem algum benefício real e, principalmente, qual o seu impacto nas emoções dos outros.
Para quem é vítima de ghosting, orbiting ou breadcrumbing, a especialista sugere algumas estratégias baseadas em evidências para manter uma visão positiva sobre a vida amorosa:
“Sempre que você tem uma experiência, sua mente é rápida em criar uma narrativa em torno do que aconteceu, a fim de dar sentido a isso e criar uma ilusão de controle ou segurança. Se você não estiver ciente das histórias que conta a si mesmo, poderá acabar atribuindo culpas ou culpas incorretamente, o que pode levar a conversas internas negativas, ansiedade e depressão.”
Por exemplo, em vez de pensar: “Eu fiz algo errado para isso acontecer”, você poderia pensar: “A decisão deles de se desligar do relacionamento tem mais a ver com eles próprios e com a forma como se relacionam com os outros do que comigo”. Ou seja: ter consciência sobre essas ruminações negativas e modificar esses diálogos internos pode ajudar a evitar danos à sua saúde mental.
Outra recomendação da psiquiatra é fazer um inventário do que é mais importante para você: “Identificar seus valores não apenas permitirá que você se relacione melhor com pessoas que pensam como você, mas também melhorará seu relacionamento consigo mesmo.”
Quando você se alinha àquilo que é importante para você, sua vida ganha mais propósito e seu bem-estar melhora. Como consequência, ter um relacionamento passa a ser algo menos urgente, o que faz com que você seja capaz de identificar, mais cedo, sinais de alerta ou incompatibilidades.
“Também recomendo variar as maneiras como você se conecta com outras pessoas para mitigar o esgotamento”, finaliza a autora. Em outras palavras, é bom conhecer pessoas online, mas também à moda antiga, para melhorar suas chances e manter o pique para encontrar alguém.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin