Ginkgo biloba: o que a ciência diz sobre essa planta medicinal

Conheça os riscos e benefícios de consumir o extrato, segundo estudos recentes

Leo Fávaro Publicado em 20/09/2022, às 16h00

Saiba mais sobre a planta ancestral - iStock

Planta ancestral da época em que os dinossauros habitavam a Terra, o ginkgo biloba foi “redescoberto” no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando observou-se que ele sobreviveu à radiação das bombas que explodiram nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. De lá pra cá, muito se falou (e também se questionou) sobre os benefícios da planta que há milhões de anos conserva sua estrutura molecular praticamente sem alterações. Ela melhora a saúde ou é mais uma falácia?

O ginkgo biloba vem sendo usado há séculos em regiões da China, da Coreia e do Japão, de onde ela é originária, como forma de otimizar a memória e para outros benefícios segundo a medicina tradicional chinesa. De fato, algumas evidências científicas apontam que a planta realmente é capaz de otimizar a saúde em diversos aspectos, mas isso apresenta ressalvas importantes.

Como diversos extratos podem ser obtidos das folhas do ginkgo biloba, as pesquisas padronizaram o extrato EGB 761 como base dos estudos que discutem essas propriedades. É esse extrato padronizado obtido a partir das folhas da planta que garante mais benefícios de propriedades antioxidantes e, principalmente, de estímulo à vascularização. Substâncias presentes no EGB 761 promovem a vasodilatação e aumentam o fluxo sanguíneo pelas artérias, veias e capilares, fazendo com que mais oxigênio chegue em algumas regiões com pouca vascularização, evitando a morte das células. Assim, evita-se o microenfartamento (causado pelo baixo ou ausente fluxo sanguíneo) de áreas mais sensíveis em alguns órgãos, como o cérebro.

Os benefícios

Esse efeito protetor pode favorecer a memória e as funções cognitivas, já que as células neuronais permanecem vivas por mais tempo. Assim, alguns estudos apontam benefícios do uso do extrato de ginkgo biloba para prevenção ou progressão de doenças cognitivas, demência e até doença de Alzheimer. Outros estudos sugerem que o ginkgo biloba pode ser usado para melhorar a saúde de pessoas que têm síndrome metabólica. Isso porque o extrato da planta reduz a pressão sanguínea e os níveis de glicemia, de triglicerídeos e de colesterol LDL (o dito “colesterol ruim”), além de aumentar o colesterol HDL (“colesterol bom”).

Alguns medicamentos à base de extrato padronizado de ginkgo biloba são prescritos para o tratamento de zumbido no ouvido, de labirintite e de vertigem. Além disso, o ginkgo biloba pode evitar câimbras, trombose, problemas de circulação e dores de cabeça. Na medicina tradicional chinesa, o extrato das folhas da planta é usado para tratamento de bronquite e asma, dentre outras indicações.

O que diz a ciência?

Não há consenso acerca dos ganhos à saúde com o consumo da planta. Ainda que benefícios sejam relatados na literatura científica e que algumas pesquisas apontem mecanismos para o uso do extrato de ginkgo biloba em alguns casos, de modo geral não há evidências científicas suficientemente robustas para que a planta seja adotada como tratamento efetivo. Neste sentido, é possível que médicos lancem mão de medicamentos com extrato padronizado de ginkgo biloba para otimizar tratamentos clínicos.

Risco no consumo de ginkgo biloba

1 - Nem todo produto derivado de ginkgo biloba tem potencial terapêutico

É importante ter atenção na hora de consumir esses extratos porque não é todo produto à base de ginkgo biloba que é feito com EGB 761. No Brasil, a falta de padronização do extrato dessa planta ancestral faz com que diversos produtos derivados dela cheguem ao mercado, mas sem garantia de que eles estão as substâncias presentes no EGB 761 para que haja o efeito terapêutico. Além do extrato 761 de ginkgo biloba, outras formas padronizadas podem apresentar quantidades suficientes de substâncias como flavonoides e terpenos para também trazer os relatados benefícios à saúde.

2 - Ele pode causar sangramentos

Por aumentar o fluxo sanguíneo, o ginkgo biloba deve ser usado sob supervisão médica, uma vez que pode afetar quem tem distúrbios circulatórios, vasculares e de coagulação sanguínea. Em alguns casos, como para a realização de cirurgias e de procedimentos médicos, pode ser necessária a suspensão de seu uso com antecedência. Assim, é muito importante comunicar ao médico quando se faz uso de extrato de ginkgo biloba.

3 - É natural, mas há efeitos colaterais

Como todo produto desse tipo, também é fundamental atentar-se a seus efeitos colaterais, como alterações gastrointestinais, dores de cabeça, reações alérgicas e hemorragias ou sangramentos. Além disso, a pressão arterial pode reduzir e haver lipotímia (sensação de desmaio sem perda de consciência).

4- Algumas pessoas não podem tomar

Apesar de não ser necessária receita médica para comprá-lo, é muito importante que seu médico saiba de seu uso, já que nem todo mundo pode fazer uso dele. Pessoas que têm alergia ao ginkgo biloba, gestantes, lactantes, crianças menores de 12 anos e pessoas com problemas de coagulação só devem usar ginkgo biloba sob orientação do especialista. Além disso, pessoas que vão ser submetidas a cirurgias, como dito anteriormente, devem comunicar ao seu médico sobre o uso do produto.

5 - Pode haver potencial cancerígeno

A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer, vinculado à Organização Mundial da Saúde, listou em 2015 o extrato de ginkgo biloba na lista de substâncias possivelmente carcinogênicas para seres humanos, isto é, há evidências limitadas de que possa causar câncer em humanos, mas relação causal importante de câncer em animais.

* Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

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