Um novo estudo destaca os potenciais benefícios de se incluir grãos ancestrais (também conhecidos como grãos antigos ou, simplesmente, grãos integrais) no cardápio de pessoas com diabetes.
Os grãos ancestrais, conhecidos por sua falta de modificação genética e níveis mais altos de fitoquímicos benéficos e fibras, podem oferecer uma via promissora para intervenção dietética de quem precisa controlar seus níveis de açúcar no sangue. Aveia, chia, linhaça, painço, amaranto, cevada, trigo sarraceno e arroz integral são alguns exemplos de grãos ancestrais.
Essa nova análise de 29 ensaios clínicos randomizados sugere que grãos ancestrais podem trazer impacto positivo na saúde de pessoas com diabetes, com benefícios particulares observados nos níveis de açúcar no sangue (glicose) e colesterol.
Os estudos analisados envolveram um total de 1.809 participantes, com uma proporção ligeiramente maior de homens (55,2%) e uma idade média de cerca de 56 anos. A maioria dos participantes tinha diabetes tipo 2, com apenas um estudo incluindo indivíduos com diabetes tipo 1.
As descobertas, publicadas no periódico Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, destacam a importância das escolhas alimentares no manejo do diabetes junto, é claro, com os tratamentos médicos convencionais.
Na análise abrangente, a grande maioria dos estudos (96,5%) sugeriu um efeito positivo do consumo de grãos ancestrais em vários marcadores de diabetes, incluindo níveis de insulina, hemoglobina glicada (A1c), glicose no sangue em jejum e níveis de colesterol.
Dos grãos antigos estudados, a aveia se destacou por seu potencial para melhorar significativamente os níveis de colesterol e glicose no sangue em jejum em indivíduos com diabetes tipo 2, o que é apoiado por pesquisas anteriores.
O arroz integral também mostrou efeitos benéficos, particularmente na hemoglobina glicada e no índice de massa corporal (IMC), mas não em outros marcadores de açúcar no sangue e colesterol, o que está parcialmente alinhado com pesquisas anteriores, segundo os autores do estudo.
Também é importante observar que o painço mostrou um efeito significativo no peso corporal, no entanto, os autores do estudo recomendam interpretar essa descoberta com cautela devido a fatores que podem gerar confusão nos estudos incluídos.
Por outro lado, apesar de seus conhecidos benefícios à saúde, as sementes de chia não demonstraram uma influência significativa nos marcadores de diabetes nesta meta-análise, possivelmente devido aos tamanhos de amostra pequenos envolvidos.
O trabalho descobriu que os grãos ancestrais podem beneficiar aqueles com diabetes tipo 2, mas os resultados podem não ser totalmente confiáveis devido à variabilidade dos estudos. Os autores pedem mais pesquisas padronizadas e aprofundadas sobre grãos antigos para o manejo do diabetes.
Segundo a médica e endocrinologista Avantika Waring, os grãos ancestrais são ricos em fitoquímicos, incluindo flavonoides e ácidos fenólicos, que têm propriedades antioxidantes, e fitoesteróis, que favorecem o coração e o perfil lipídico. Assim, esses alimentos podem melhorar a saúde metabólica como um todo.
Ela também observou que a camada de farelo robusta ao redor de um grão integral não processado se decompõe lentamente, portanto evita picos de açúcar no sangue, o que também pode ajudar a melhorar o manejo do diabetes.
Outra profissional, a nutricionista Eliza Whitaker, destacou o papel do estresse oxidativo na progressão do diabetes e explicou ainda que os "fitoquímicos como fitoesteróis, lignanas, flavonoides e carotenoides encontrados em grãos ancestrais têm propriedades anti-inflamatórias que podem mitigar [esse] estresse oxidativo".
Comparados às variedades de grãos modernos que foram cultivadas principalmente após os anos 1960, como arroz branco, milho e trigo, os grãos ancestrais passaram por menos modificação genética e geralmente têm uma composição nutricional e qualidade de grão superiores.
Esses grãos tendem a conter níveis mais altos de certos fitoquímicos e fibras dietéticas, que estão associados a benefícios potenciais para a sensibilidade à insulina, o metabolismo da glicose e o controle geral do açúcar no sangue.
No entanto, as pesquisas que comparam diretamente os impactos de grãos antigos versus modernos sobre os resultados de saúde do diabetes são limitadas. Ambos os tipos podem ser consumidos em formas minimamente processadas para preservar sua composição nutricional e benefícios potenciais.
As especialistas concordaram que os grãos antigos são seguros e provavelmente benéficos para a maioria das pessoas com diabetes tipo 2, desde que sejam consumidos como parte de uma dieta equilibrada.
"As pessoas com diabetes tipo 1 também podem consumir grãos antigos, e elas podem trabalhar com seu médico para ajustar sua insulina para gerenciar qualquer aumento nos níveis de açúcar no sangue que ocorra ao consumir carboidratos", acrescentou Waring.
No entanto, ambos os especialistas recomendam fortemente priorizar grãos minimamente refinados, como aveia e sementes de chia, em vez de grãos mais refinados, como pão, massa ou cereal, que provavelmente não oferecem os mesmos benefícios.
"Independentemente do tipo de alimentos que você prefere, cobrir metade do prato com vegetais verdes, um quarto com proteína magra (pode ser à base de plantas como feijão ou tofu) e um quarto com grãos integrais é uma abordagem equilibrada", disse Waring.
Quando questionada se as pessoas com diabetes devem optar por uma dieta rica em grãos ancestrais, que são mais ricos em carboidratos, versus uma dieta pobre em carboidratos para um controle ideal de açúcar no sangue, Waring concluiu:
"Embora os grãos antigos e quaisquer grãos integrais possam aumentar os níveis de açúcar no sangue em uma pessoa com diabetes, os níveis mais altos de fibra, especialmente quando combinados com gorduras saudáveis como parte de uma refeição, ajudam a minimizar picos de açúcar no sangue. Dietas com baixo teor de carboidratos são uma maneira de manter os níveis de açúcar no sangue consistentemente baixos, no entanto, geralmente não são sustentáveis a longo prazo, e quando você elimina grãos de sua dieta, você perderá a fibra, fitoquímicos e gorduras à base de plantas que sabemos promover a saúde cardíaca e a longevidade."
Fonte: MedicalNewsToday
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin