Doutor Jairo
Leia » Doenças cardíacas

Gripe está relacionada ao agravamento de doenças cardíacas, diz estudo

Devido à alta capacidade de mutação do vírus da gripe, cientistas alteram a vacina todos os anos - iStock
Devido à alta capacidade de mutação do vírus da gripe, cientistas alteram a vacina todos os anos - iStock

Redação Publicado em 15/10/2021, às 14h33

Provavelmente, quem sofre com algum tipo de doença cardíaca ou apresenta fatores de risco, já sabe que tem maiores chances de ter um ataque cardíaco ou derrame. Mas poucos devem saber que a gripe pode aumentar substancialmente o risco de um evento cardíaco sério ou, até mesmo, fatal. É isso que sugere uma revisão publicada no Journal of the American Heart Association.

Seis vezes mais chances

Já se sabe há tempos que a gripe pode levar a sintomas respiratórios significativos, como pneumonia, bronquite e infecção bacteriana dos pulmões. Porém, os efeitos do vírus no coração têm sido historicamente mais difíceis de analisar, em parte porque muitos pacientes já têm uma predisposição conhecida para eventos cardíacos ou porque estes ocorrem, muitas vezes, semanas após o início da gripe.

[Colocar ALT]
É gripe, dengue ou Covid-19?

Alguns estudos recentes sobre o assunto mostram: 

  •  As mortes cardiovasculares e epidemias de gripe aumentam ao mesmo tempo;
  • Os pacientes têm seis vezes mais chances de sofrer um ataque cardíaco na semana seguinte à infecção por gripe do que em qualquer momento durante o ano anterior ou ano seguinte à infecção;
  • Em um estudo que analisou 336 mil internações por gripe, 11,5% experimentaram um evento cardíaco grave;
  • Outra pesquisa que analisou 90.000 infecções por gripe confirmadas em laboratório mostrou uma taxa surpreendentemente semelhante de 11,7% experimentando um evento cardiovascular agudo;
  • Um em cada oito pacientes, ou 12,5%, deu entrada no hospital com gripe, com 31% necessitando de cuidados intensivos e 7% morrendo em decorrência do evento

Qual a razão para esse risco aumentado?

Segundo os autores, a razão pela qual a gripe estressa tanto o coração e o sistema vascular está relacionada com a resposta inflamatória do corpo à infecção. 

A inflamação ocorre quando os glóbulos brancos se reúnem em uma área e trabalham combatendo uma infecção, de uma bactéria ou vírus, por exemplo. Quando uma pessoa está doente, ela pode sentir os efeitos dessas “zonas de combate” por meio de inchaços, sensibilidade, dor, fraqueza e febre. 

Confira:

Toda essa atividade pode causar uma espécie de “engarrafamento”, levando à criação de coágulos, pressão arterial elevada e até inchaço ou cicatrizes no coração. Os estressores adicionados tornam a placa de dentro das artérias mais vulneráveis ​​à ruptura, causando um bloqueio que interrompe o oxigênio para o coração ou para o cérebro, o que pode resultar em ataques cardíacos ou derrames, respectivamente.

Além disso, complicações não cardíacas da doença viral, incluindo pneumonia e insuficiência respiratória, podem tornar os sintomas de insuficiência cardíaca ou arritmia muito piores. Ou seja, o estresse adicional no sistema cardiovascular causado pela gripe pode ser esmagador para um músculo cardíaco já enfraquecido.

Vacinados têm 37% menos chances de internação

Como o vírus da gripe está em constante mutação, os cientistas alteram a vacina anualmente. Em média, elas são eficazes na prevenção da infecção 40% do tempo. Apesar de isso não parecer grande coisa, especialmente se compararmos com as vacinas contra a Covid-19, é o suficiente para reduzir de forma significativa o risco de quadros graves na maior parte das pessoas.

Ultimamente, estudos têm sido capazes de mostrar que não só a vacina é eficaz na proteção da população em geral e das faixas etárias mais vulneráveis (acima de 65 e menores de dois anos) de casos graves da gripe, mas também é protetora contra a mortalidade cardiovascular, especialmente entre a população de alto risco. Veja só alguns dados:

  • Os adultos que receberam a vacina tiveram 37% menos chances de serem internados para gripe e 82% menos probabilidade de serem encaminhados para a UTI por causa disso;
  • Entre as pessoas internadas no hospital com gripe, as vacinadas tiveram 59% menos chances de serem internadas na UTI. Pacientes vacinados internados na UTI passaram quatro dias a menos na UTI do que pacientes não vacinados;
  • A vacinação esteve associada a menores riscos de eventos cardiovasculares se o paciente tiver gripe. Entre as pessoas de maior risco com doença coronariana mais ativa, a vacinação esteve associada a desfechos consideravelmente melhores.
  • Os pacientes internados no hospital com síndrome coronariana aguda foram aleatoriamente designados para receber uma vacina contra a gripe ou não antes da alta. Os principais eventos cardiovasculares ocorreram com menos frequência no grupo vacinal do que no grupo controle (9,5% vs. 19%);

É por essa e por outras razões, e diante de todos esses resultados e dos benefícios demonstrados pela vacinação contra a gripe, que órgãos e autoridades da saúde recomendam fortemente a imunização anual, especialmente em pacientes com doenças cardiovasculares.

Veja também: