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HIV/Aids: o que é, sintomas, tratamento e prevenção

Mesmo com os avanços no tratamento e na prevenção, o vírus do HIV ainda afeta milhões de pessoas no mundo - iStock
Mesmo com os avanços no tratamento e na prevenção, o vírus do HIV ainda afeta milhões de pessoas no mundo - iStock

Anderson José Publicado em 07/07/2021, às 15h55

Entenda a diferença entre HIV e Aids

O HIV é o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Humana (Aids), ou seja, é possível uma pessoa se infectar com o vírus HIV, mas nunca desenvolver a doença propriamente dita. O HIV é um retrovírus [armazena suas informações genéticas no RNA e não no DNA, como a maioria dos seres vivos] classificado na subfamília dos Lentiviridae

É importante saber dessa classificação, pois esse tipo de vírus possui características que influenciam no quadro clínico do paciente, tais como: o período de incubação do vírus é prolongado e o surgimento de sinais e sintomas da infecção é igualmente demorado, ocorre um ataque massivo às células do sistema imune, entre outras repercussões sistêmicas.

Resumindo, então: Aids é doença causada pelo vírus HIV que ataca o sistema imunológico do paciente infectado, mas nem todos aqueles com diagnóstico positivo para o vírus desenvolverá a doença. Portanto, o HIV é transmitido, não a AIDS. A seguir falaremos um pouco mais sobre as formas de transmissão, prevenção e tratamento dessa infecção.

Como o HIV é transmitido?

Antes de falarmos sobre as formas de contágio, é importante esclarecer alguns pontos importantes.

Uma pessoa com sorologia [exame do soro sanguíneo] positiva para o HIV e que faz o tratamento antirretroviral (Tarv) corretamente será indetectável [carga viral em níveis muito baixos] em questão de tempo. Segundo o Ministério da Saúde, uma pessoa indetectável também é intransmissível, portanto, não transmite mais o vírus. Então, quando a pessoa toma os medicamentos antirretrovirais, ela diminui tanto a quantidade de vírus circulante em seu organismo que fica muito difícil encontrar o HIV no sangue dela, e isso é ótimo, porque assim ela também não passa esse vírus para seu parceiro.

Dito isso, já fica claro então que uma das formas de prevenção contra a infecção pelo HIV é justamente o tratamento antirretroviral, mas você pode ler um pouco mais sobre isso no tópico “Prevenção” abaixo.

E por que é importante saber disso? Porque os riscos de infecção envolvidos nas relações sexuais desprotegidas é aumentado sobretudo em pessoas com diagnóstico para HIV/Aids, mas que não fazem uso do Tarv. No entanto, possivelmente, como não sabemos a sorologia de todas aquelas pessoas com que nos relacionamos, é de extrema importância o uso correto da camisinha, bem como outras medidas de prevenção que explicitamos ao longo deste texto. Mas, afinal, como o HIV é transmitido?

Assim pega:

  • Sexo com penetração (anal, vaginal) sem camisinha;
  • Sexo oral sem camisinha;
  • Compartilhamento de seringa ou material com sangue contaminado;
  • Transfusão de sangue contaminado;
  • De mãe para o filho, através do parto ou durante a amamentação.

Fica nítido então que o risco de contrair o HIV ocorre quando há solução de continuidade [interrupção], criando uma porta de entrada no seu corpo para que o vírus entre. Todas as outras formas de afeto, como beijos, abraços, apertos de mão, picadas de insetos, compartilhamento de talheres, assentos de ônibus, uso comum de sabonete, masturbação a dois, beijo no rosto,  não envolvem risco de transmissão do vírus, que também não ocorre pelo ar

A tabela abaixo compila dados de estudos sobre o tipo de exposição e o risco de contrair HIV:

Tipo de exposiçãoRisco de transmissão do HIV por exposição
de um indivíduo HIV positivo que não está em Tarv
Relação anal passiva1 em 90
Relação anal ativa1 em 666
Relação vaginal passiva1 em 1000
Relação vaginal ativa1 em 1219
Fazer sexo oral<1 em 10.000
Receber sexo oral<1 em 10.000

Adaptado de: https://www.researchgate.net/figure/Risk-of-HIV-transmission-per-exposure-
from-a-known-HIV-positive-individual-not-on-ART_tbl1_301539090

Sinais e sintomas

O quadro clínico apresentado pelo paciente com sorologia positiva para o HIV é muito dinâmico, variado e depende muito da fase da infecção que o indivíduo se encontra. Em geral, entre 2 e 4 semanas após a infecção, ocorre um conjunto de sinais e sintomas e que recebe o nome de Síndrome Retroviral Aguda, apresentando:

  • Febre (em torno de 38,5º);
  • Cefaleia (dor de cabeça);
  • Astenia (fraqueza);
  • Faringite;
  • Mialgia (dor muscular);
  • Manchas avermelhadas no corpo;
  • Adenopatia (aumento de gânglios).

Mas tão logo esses sintomas surgem, eles também desaparecem, assim essa fase é autolimitada e bastante inespecífica, porque pode se confundir com qualquer outro tipo de processo infeccioso.

A fase de latência clínica do HIV é marcada pelo declínio das células CD4+ [do sistema imune] e aumento da carga viral circulante no organismo não tratado. Essa fase da infecção pode durar anos, sem o indivíduo saber que está com sorologia reagente para o vírus. Entre outros sintomas, a pessoa pode apresentar:

  • Linfadenopatia (aumento de gânglios em todo o corpo);
  • Plaquetopenia assintomática (plaquetas <150.000 mL de sangue);
  • Leucopenia (glóbulos brancos <4.000 mL de sangue).

Comumente, um paciente nessa fase latente da infecção apresenta exame físico normal, embora os valores dos elementos figurados do sangue [células sanguíneas] possam se mostrar alterados em um hemograma, por exemplo. Porém, ainda assim, essas alterações são inespecíficas e podem ocorrer em outros quadros.

A célula T CD4+ faz parte do nosso sistema imunológico, mais precisamente na imunidade adaptativa. Essas células, entre outras funções, protegem o corpo de agentes patogênicos que porventura adentrem no sistema. Conforme a contagem de CD4+ vai diminuindo no organismo, a pessoa portadora do HIV passa a ficar exposta a outras infecções e doenças, e passa também a apresentar sinais e sintomas mais específicos de uma imunossupressão importante como:

  • Diarreia crônica;
  • Alterações neurológicas;
  • Infecções bacterianas;
  • Lesões orais;
  • Infecções respiratórias.

Uma pessoa entra em estágio de Aids quando a contagem de CD4+ fica abaixo de 200 células por mm³ de sangue. É nessa etapa que surgem as chamadas infecções oportunistas, entre elas:

  • Pneumocistose [doença pulmonar causada por fungo];
  • Neurotoxoplasmose [infecção do sistema nervoso central];
  • Sarcoma de Kaposi [câncer de vasos sanguíneos];
  • Tuberculose pulmonar atípica e disseminada (miliar);
  • Candidíase oral persistente.

Além de apresentar também perda de peso inexplicada (<10% do peso), febre persistente por mais de um mês (>37,6º) e sudorese noturna.

Diagnóstico de HIV

Entre a exposição ao vírus HIV e a produção de anticorpos, o organismo demora, em média, de 15 a 30 dias para reagir contra o vírus. Ou seja, para um diagnóstico fidedigno, afastando a possibilidade de ocorrer falso-negativo, a pessoa que se expôs deve procurar realizar o teste após esse período, que é conhecido como janela imunológica, já que os testes sorológicos detectam o anticorpo no organismo.

Pode ser realizado o teste rápido em algum Centro de Testagem e Aconselhamento que compõe a rede de tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) do Ministério da Saúde. O resultado do teste rápido sai em algumas horas. Elisa e Western Blot são testes que também podem detectar o HIV e, comumente, são solicitados pelo médico na suspeita da doença.

Tratamento de infecção por HIV

Sabe aquele aspecto de caquexia [grau extremo de enfraquecimento], emagrecimento, aparência lipodistrófica [distribuição irregular de gordura], causada pelo chamado “coquetel anti-HIV”?

Pois bem, esqueça isso!

Os medicamentos avançaram muito e hoje os efeitos colaterais são cada vez menos frequentes, podendo uma pessoa em tratamento antirretroviral viver normalmente sem temer por sua aparência.

Com o diagnóstico reagente para HIV em mãos, o paciente tem o direito de ter acesso aos medicamentos pelo SUS. Lembra que falamos lá em cima sobre como o tratamento precoce é importante medida de prevenção e garantia de qualidade de vida. Então, aderir bem ao tratamento proposto pelo médico infectologista afasta doenças oportunistas e mau prognóstico.

O esquema preferencial de tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde consiste em uma combinação de antirretrovirais, que forma o chamado Tratamento Antirretroviral (Tarv), e incluem inibidores de integrase [enzima que liga o DNA viral ao DNA da célula infectada], protease [enzima que leva à formação de proteínas do vírus] e transcriptase reversa [enzima que permite a formação de DNA a partir do RNA do vírus, no interior da célula infectada], ou seja, agem na maquinaria do vírus, impedindo que ele cresça no organismo.

Como se  previne o HIV?

Além da camisinha, existem inúmeras outras formas de prevenção contra o HIV e tudo isso foi combinado em uma imagem chamada “Mandala da Prevenção”, reproduzida a seguir:

[Colocar ALT]
Mandala da prevenção. Fonte: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/
media/pagina/2019/57877_/
mandala_nova_portugues.pdf

Os preservativos tanto masculino como feminino desempenham papel importante na prevenção não apenas contra o HIV, mas inúmeras outras IST. O que a “Mandala da Prevenção” faz é: ilustra as diferentes formas de se proteger, combinando diferentes métodos validados pelo Ministério da Saúde.

Você já ouviu falar em PrEP? E PEP?

PrEP – Profilaxia Pré-Exposição

A PrEP é um medicamento antirretroviral tomado diariamente, que impede a infecção pelo vírus HIV. É uma combinação de antirretrovirais que têm o intuito de criar uma espécie de blindagem no organismo de uma pessoa que venha a entrar em contato com o vírus.

Se isso ocorrer, a infecção não acontece, porque a PrEP está circulando no sangue daquele indivíduo, o que explica o motivo de ser uma medida profilática pré-exposição. Porém, nem todas as pessoas podem tomar os comprimidos que compõem a PrEP, mas sim:

  • Homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens;
  • Pessoas trans (mulheres transexuais, travestis, homens trans e pessoas não-binárias);
  • Profissionais do sexo ou pessoas que eventualmente recebam dinheiro ou benefícios em troca de serviços sexuais;
  • Pessoas que estejam se relacionando com uma pessoa vivendo com HIV (casais sorodiferentes)

Confira:

PEP – Profilaxia Pós Exposição

É como se fosse uma pílula do dia seguinte. Uma pessoa que se expôs ao vírus HIV, seja através de relação sexual desprotegida ou até acidente ocupacional contendo sangue, pode procurar o serviço especializado e solicitar os medicamentos que compõem o esquema da PEP. Resumindo: a PEP é indicada para toda e qualquer pessoa que se expôs ao risco de contrair HIV.

Porém, é importante frisar: você tem até 72 horas após a exposição para iniciar o tratamento pós-exposição e os medicamentos devem ser tomados durante 28 dias.

Epidemiologia do HIV

Segundo o Boletim Epidemiológico de 2020 do Ministério da Saúde, no ano de 2019 foram diagnosticados 41.909 casos de HIV e 37.308 casos de Aids no Brasil, com destaque para a região Sudeste concentrando 35,3% dos casos.

Em relação ao sexo, há uma razão de incidência de 26 homens infectados para cada dez mulheres. De acordo com a categoria de exposição, verificou-se que 51,6% dos casos foram decorrentes de exposição homossexual ou bissexual e 31,3%, heterossexual; 1,9% ocorreu entre usuários de drogas injetáveis (UDI). Entre as mulheres, nota-se que 86,6% dos casos se inserem na categoria de exposição heterossexual e 1,3%, na de UDI.

Vacina contra o HIV

Várias iniciativas mundiais estão empreendendo esforços na busca de uma vacina contra o HIV. E um deles está acontecendo no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. O médico infectologista Bernardo Porto Maia é o coordenador do Estudo Mosaico.

Confira:

Vacina contra o HIV: saiba como estão os testes no Brasil

Segundo ele, o Estudo Mosaico é um ensaio clínico de fase III, que busca testar a eficácia de uma vacina contra HIV, que tem como diferencial a possibilidade de prevenir a transmissão sexual de mais de 90% dos subtipos e cepas desse vírus. A fase pré-clínica mostrou eficácia de 67% (o estudo anterior que havia apresentado maior eficácia, chegava apenas a 31%). Ou seja, as expectativas são as melhores possíveis.

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