HIV/Aids: o que é, sintomas, tratamento e prevenção

Dia 1º de dezembro marca o Dia Mundial da Luta contra a Aids, doença identificada em 1981.

Anderson José Publicado em 07/07/2021, às 15h55

Mesmo com os avanços no tratamento e na prevenção, o vírus do HIV ainda afeta milhões de pessoas no mundo - iStock

Entenda a diferença entre HIV e Aids

O HIV é o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Humana (Aids), ou seja, é possível uma pessoa se infectar com o vírus HIV, mas nunca desenvolver a doença propriamente dita. O HIV é um retrovírus [armazena suas informações genéticas no RNA e não no DNA, como a maioria dos seres vivos] classificado na subfamília dos Lentiviridae

É importante saber dessa classificação, pois esse tipo de vírus possui características que influenciam no quadro clínico do paciente, tais como: o período de incubação do vírus é prolongado e o surgimento de sinais e sintomas da infecção é igualmente demorado, ocorre um ataque massivo às células do sistema imune, entre outras repercussões sistêmicas.

Resumindo, então: Aids é doença causada pelo vírus HIV que ataca o sistema imunológico do paciente infectado, mas nem todos aqueles com diagnóstico positivo para o vírus desenvolverá a doença. Portanto, o HIV é transmitido, não a AIDS. A seguir falaremos um pouco mais sobre as formas de transmissão, prevenção e tratamento dessa infecção.

Como o HIV é transmitido?

Antes de falarmos sobre as formas de contágio, é importante esclarecer alguns pontos importantes.

Uma pessoa com sorologia [exame do soro sanguíneo] positiva para o HIV e que faz o tratamento antirretroviral (Tarv) corretamente será indetectável [carga viral em níveis muito baixos] em questão de tempo. Segundo o Ministério da Saúde, uma pessoa indetectável também é intransmissível, portanto, não transmite mais o vírus. Então, quando a pessoa toma os medicamentos antirretrovirais, ela diminui tanto a quantidade de vírus circulante em seu organismo que fica muito difícil encontrar o HIV no sangue dela, e isso é ótimo, porque assim ela também não passa esse vírus para seu parceiro.

Dito isso, já fica claro então que uma das formas de prevenção contra a infecção pelo HIV é justamente o tratamento antirretroviral, mas você pode ler um pouco mais sobre isso no tópico “Prevenção” abaixo.

E por que é importante saber disso? Porque os riscos de infecção envolvidos nas relações sexuais desprotegidas é aumentado sobretudo em pessoas com diagnóstico para HIV/Aids, mas que não fazem uso do Tarv. No entanto, possivelmente, como não sabemos a sorologia de todas aquelas pessoas com que nos relacionamos, é de extrema importância o uso correto da camisinha, bem como outras medidas de prevenção que explicitamos ao longo deste texto. Mas, afinal, como o HIV é transmitido?

Assim pega:

Fica nítido então que o risco de contrair o HIV ocorre quando há solução de continuidade [interrupção], criando uma porta de entrada no seu corpo para que o vírus entre. Todas as outras formas de afeto, como beijos, abraços, apertos de mão, picadas de insetos, compartilhamento de talheres, assentos de ônibus, uso comum de sabonete, masturbação a dois, beijo no rosto,  não envolvem risco de transmissão do vírus, que também não ocorre pelo ar

A tabela abaixo compila dados de estudos sobre o tipo de exposição e o risco de contrair HIV:

Tipo de exposição Risco de transmissão do HIV por exposição
de um indivíduo HIV positivo que não está em Tarv
Relação anal passiva 1 em 90
Relação anal ativa 1 em 666
Relação vaginal passiva 1 em 1000
Relação vaginal ativa 1 em 1219
Fazer sexo oral <1 em 10.000
Receber sexo oral <1 em 10.000

Adaptado de: https://www.researchgate.net/figure/Risk-of-HIV-transmission-per-exposure-
from-a-known-HIV-positive-individual-not-on-ART_tbl1_301539090

Sinais e sintomas

O quadro clínico apresentado pelo paciente com sorologia positiva para o HIV é muito dinâmico, variado e depende muito da fase da infecção que o indivíduo se encontra. Em geral, entre 2 e 4 semanas após a infecção, ocorre um conjunto de sinais e sintomas e que recebe o nome de Síndrome Retroviral Aguda, apresentando:

Mas tão logo esses sintomas surgem, eles também desaparecem, assim essa fase é autolimitada e bastante inespecífica, porque pode se confundir com qualquer outro tipo de processo infeccioso.

A fase de latência clínica do HIV é marcada pelo declínio das células CD4+ [do sistema imune] e aumento da carga viral circulante no organismo não tratado. Essa fase da infecção pode durar anos, sem o indivíduo saber que está com sorologia reagente para o vírus. Entre outros sintomas, a pessoa pode apresentar:

Comumente, um paciente nessa fase latente da infecção apresenta exame físico normal, embora os valores dos elementos figurados do sangue [células sanguíneas] possam se mostrar alterados em um hemograma, por exemplo. Porém, ainda assim, essas alterações são inespecíficas e podem ocorrer em outros quadros.

A célula T CD4+ faz parte do nosso sistema imunológico, mais precisamente na imunidade adaptativa. Essas células, entre outras funções, protegem o corpo de agentes patogênicos que porventura adentrem no sistema. Conforme a contagem de CD4+ vai diminuindo no organismo, a pessoa portadora do HIV passa a ficar exposta a outras infecções e doenças, e passa também a apresentar sinais e sintomas mais específicos de uma imunossupressão importante como:

Uma pessoa entra em estágio de Aids quando a contagem de CD4+ fica abaixo de 200 células por mm³ de sangue. É nessa etapa que surgem as chamadas infecções oportunistas, entre elas:

Além de apresentar também perda de peso inexplicada (<10% do peso), febre persistente por mais de um mês (>37,6º) e sudorese noturna.

Diagnóstico de HIV

Entre a exposição ao vírus HIV e a produção de anticorpos, o organismo demora, em média, de 15 a 30 dias para reagir contra o vírus. Ou seja, para um diagnóstico fidedigno, afastando a possibilidade de ocorrer falso-negativo, a pessoa que se expôs deve procurar realizar o teste após esse período, que é conhecido como janela imunológica, já que os testes sorológicos detectam o anticorpo no organismo.

Pode ser realizado o teste rápido em algum Centro de Testagem e Aconselhamento que compõe a rede de tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) do Ministério da Saúde. O resultado do teste rápido sai em algumas horas. Elisa e Western Blot são testes que também podem detectar o HIV e, comumente, são solicitados pelo médico na suspeita da doença.

Tratamento de infecção por HIV

Sabe aquele aspecto de caquexia [grau extremo de enfraquecimento], emagrecimento, aparência lipodistrófica [distribuição irregular de gordura], causada pelo chamado “coquetel anti-HIV”?

Pois bem, esqueça isso!

Os medicamentos avançaram muito e hoje os efeitos colaterais são cada vez menos frequentes, podendo uma pessoa em tratamento antirretroviral viver normalmente sem temer por sua aparência.

Com o diagnóstico reagente para HIV em mãos, o paciente tem o direito de ter acesso aos medicamentos pelo SUS. Lembra que falamos lá em cima sobre como o tratamento precoce é importante medida de prevenção e garantia de qualidade de vida. Então, aderir bem ao tratamento proposto pelo médico infectologista afasta doenças oportunistas e mau prognóstico.

O esquema preferencial de tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde consiste em uma combinação de antirretrovirais, que forma o chamado Tratamento Antirretroviral (Tarv), e incluem inibidores de integrase [enzima que liga o DNA viral ao DNA da célula infectada], protease [enzima que leva à formação de proteínas do vírus] e transcriptase reversa [enzima que permite a formação de DNA a partir do RNA do vírus, no interior da célula infectada], ou seja, agem na maquinaria do vírus, impedindo que ele cresça no organismo.

Como se  previne o HIV?

Além da camisinha, existem inúmeras outras formas de prevenção contra o HIV e tudo isso foi combinado em uma imagem chamada “Mandala da Prevenção”, reproduzida a seguir:

Mandala da prevenção. Fonte: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/
media/pagina/2019/57877_/
mandala_nova_portugues.pdf

Os preservativos tanto masculino como feminino desempenham papel importante na prevenção não apenas contra o HIV, mas inúmeras outras IST. O que a “Mandala da Prevenção” faz é: ilustra as diferentes formas de se proteger, combinando diferentes métodos validados pelo Ministério da Saúde.

Você já ouviu falar em PrEP? E PEP?

PrEP – Profilaxia Pré-Exposição

A PrEP é um medicamento antirretroviral tomado diariamente, que impede a infecção pelo vírus HIV. É uma combinação de antirretrovirais que têm o intuito de criar uma espécie de blindagem no organismo de uma pessoa que venha a entrar em contato com o vírus.

Se isso ocorrer, a infecção não acontece, porque a PrEP está circulando no sangue daquele indivíduo, o que explica o motivo de ser uma medida profilática pré-exposição. Porém, nem todas as pessoas podem tomar os comprimidos que compõem a PrEP, mas sim:

Confira:

PEP – Profilaxia Pós Exposição

É como se fosse uma pílula do dia seguinte. Uma pessoa que se expôs ao vírus HIV, seja através de relação sexual desprotegida ou até acidente ocupacional contendo sangue, pode procurar o serviço especializado e solicitar os medicamentos que compõem o esquema da PEP. Resumindo: a PEP é indicada para toda e qualquer pessoa que se expôs ao risco de contrair HIV.

Porém, é importante frisar: você tem até 72 horas após a exposição para iniciar o tratamento pós-exposição e os medicamentos devem ser tomados durante 28 dias.

Epidemiologia do HIV

Segundo o Boletim Epidemiológico de 2020 do Ministério da Saúde, no ano de 2019 foram diagnosticados 41.909 casos de HIV e 37.308 casos de Aids no Brasil, com destaque para a região Sudeste concentrando 35,3% dos casos.

Em relação ao sexo, há uma razão de incidência de 26 homens infectados para cada dez mulheres. De acordo com a categoria de exposição, verificou-se que 51,6% dos casos foram decorrentes de exposição homossexual ou bissexual e 31,3%, heterossexual; 1,9% ocorreu entre usuários de drogas injetáveis (UDI). Entre as mulheres, nota-se que 86,6% dos casos se inserem na categoria de exposição heterossexual e 1,3%, na de UDI.

Vacina contra o HIV

Várias iniciativas mundiais estão empreendendo esforços na busca de uma vacina contra o HIV. E um deles está acontecendo no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. O médico infectologista Bernardo Porto Maia é o coordenador do Estudo Mosaico.

Confira:

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Segundo ele, o Estudo Mosaico é um ensaio clínico de fase III, que busca testar a eficácia de uma vacina contra HIV, que tem como diferencial a possibilidade de prevenir a transmissão sexual de mais de 90% dos subtipos e cepas desse vírus. A fase pré-clínica mostrou eficácia de 67% (o estudo anterior que havia apresentado maior eficácia, chegava apenas a 31%). Ou seja, as expectativas são as melhores possíveis.

Veja também:

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