Jairo Bouer Publicado em 29/11/2019, às 17h01 - Atualizado às 17h27
Em 2018, foram diagnosticados no Brasil quase 44 mil novos casos de HIV e 37.161 casos de Aids. Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (29) pelo Ministério da Saúde, às vésperas do Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Assim como em anos anteriores, a parcela mais afetada pela infecção é a dos jovens (52,7% dos casos são na faixa de 20 a 34 anos). O cenário demanda esforços de prevenção mais focados para certas populações. Isso também envolve perder a vergonha de discutir sexualidade com os adolescentes e os mais velhos.
De forma geral, as taxas de detecção vêm diminuindo no país desde que foi tomada a decisão de tratar todos os infectados pelo HIV, não apenas aqueles que apresentam complicações, ou seja, Aids. De 2014 a 2018, a taxa de detecção da doença passou de 20,6 por 100 mil habitantes para 17,8, segundo o novo boletim. Mas algumas regiões do país ainda apresentam taxas preocupantes, como alguns estados do Sul, Norte e Nordeste.
O próprio Ministério da Saúde admite que o grande problema, hoje, é uma pessoa saber que está infectada. Cerca de 135 mil brasileiros vivem com o HIV, mas não sabem, segundo estimativas da pasta. Podemos concluir que a maior parcela seja de jovens, e alguns talvez sejam bem novos.
Em 2017, foram registrados 78 casos de meninas e meninos de 10 a 14 anos com HIV. Em 2018, esse número passou para 101. Na faixa de 15 a 19 anos, foram 2.623 casos em 2017 e 2.405 em 2018. São números bem mais baixos que os registrados na faixa de 20 a 29 anos de idade (16.608) no ano passado, mas nem por isso podemos ignorá-los.
Do total de meninas diagnosticadas com HIV na faixa de 10 a 14 anos, em 2018, 77 estavam grávidas. Imagine o que significa enfrentar uma gestação tão precoce somada ao diagnóstico? Na faixa de 15 a 19 anos, foram 1.224 gestantes infectadas, sendo que essa parcela representou 14,2% do total de diagnósticos na gravidez.
Incentivar a testagem, como faz o governo com uma campanha lançada hoje, é fundamental. Mas para que menores de idade conheçam seus riscos e vençam o receio de procurar uma unidade de saúde, é importante que essa discussão comece cedo, como tenho ressaltado neste espaço.
Profilaxia
Outra necessidade é falar sobre a PrEP (profilaxia pré-exposição), especialmente para as populações mais vulneráveis. Isso tem se mostrado eficaz para reduzir as novas infecções em diversos países, como Reino Unido e EUA. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a estratégia já trouxe resultados. A Secretaria de Saúde acaba de anunciar uma redução recorde no número de novas infecções: foram 3.145 registros em 2018, ou 18% a menos que em 2017. E, para os especialistas, o principal fator que impulsionou a queda foi a PrEP.
Idosos
Curiosamente, a cidade de São Paulo registrou aumento de infecções em apenas uma faixa da população – a de pessoas com mais de 60 anos. Os números do boletim nacional também apontam para a mesma direção: foram 1.479 novos casos de HIV, em 2017, e 1.655 no ano passado. Também houve aumento nas faixas de 50 a 59 anos (3.552, em 2017, para 3.805, em 2018).
Assim como para os adolescentes mais novos, a discussão sobre sexo na “terceira idade” ainda é um tabu, até entre os profissionais de saúde. Só com ações mais focadas e menos receio de falar sobre sexualidade é que podemos sonhar com um futuro em que a Aids será passado.
Do Blog do Jairo Bouer no UOL