Leo Fávaro* Publicado em 03/09/2021, às 11h00
Um estudo publicado na última semana na revista acadêmica Sexuality Research and Social Policy revelou que homens homossexuais e bissexuais podem ter contribuído para a redução do impacto dos casos de Covid-19 localmente. A causa disso seria a adoção de novos comportamentos sexuais em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Realizado nos Estados Unidos, o estudo usou dados de uma amostra de 728 homens gays e bissexuais coletados virtualmente entre abril e maio de 2020 para verificar as mudanças deflagradas no contexto da primeira "onda" da pandemia da Covid-19 no país. Nesse período, havia uma média de 1.900 mortes por dia em decorrência da doença, e pouco se sabia sobre ela. Com tais dados, foi possível avaliar se as modificações de comportamento estavam associadas à exposição a medidas de saúde pública, como os pedidos feitos pelos entes públicos de que as pessoas cumprissem quarentena em casa.
Os participantes da pesquisa relataram mudanças significativas tanto em seu comportamento sexual quanto na seleção de parceiros durante a primeira onda da pandemia nos EUA. Nove em 10 homens relataram ter tido nenhum ou apenas um parceiro nos 30 dias anteriores à entrevista, uma diminuição comparada com o período anterior à pandemia. Atribui-se ao registro de nenhum parceiro sexual no período avaliado os pedidos para que as pessoas ficassem em casa feitos à época. Além disso, 18,7% dos entrevistados disseram que tinham mais de um parceiro antes da pandemia, mas apenas 9,4% disseram ter tido dois ou mais parceiros nos 30 dias que antecederam o levantamento dos dados.
O estudo também apontou que os homens gays e bissexuais reduziram as interações com parceiros casuais, aumentaram comportamentos sexuais sem contato, como masturbação e sexo virtual, e praticaram novas estratégias para reduzir riscos de infecção de seus parceiros. Neste último caso, verificou-se que os homens HIV-positivos eram particularmente mais propensos a adotar estratégias para evitar infecções, como evitar sexo com parceiros casuais, não frequentar bares e clubes com muita gente, não participar de festas de sexo grupal e até evitar o transporte público para chegar a encontros sexuais.
O estudo registrou um aumento na frequência de masturbação e diminuição no uso de sites ou aplicativos para encontros. Ao todo, 35% dos homens disseram ter se masturbado mais no período em relação a antes da pandemia, e 53% das pessoas disseram ter usado menos plataformas virtuais de encontro. Além disso, 33% afirmaram ter usado vídeo ou chat para fazer sexo virtual durante o período de isolamento social.
As mudanças não foram percebidas apenas no comportamento sexual. A pesquisa também evidenciou que 57% dos entrevistados se mostravam muito ou extremamente preocupados com a Covid-19, sendo que 74% se sentiram ansiosos, 72%, mais preocupados e 64%, mais isolados nesse período. Apenas 36% se sentiram resilientes e 33%, esperançosos nos 30 dias anteriores à pesquisa.
Essa mudança no comportamento sexual verificada entre homens homossexuais e bissexuais pode ter reduzido o impacto da pandemia do coronavírus em suas comunidades durante a primeira onda registrada nos EUA. Contudo, o estudo também levanta que, apesar das mudanças substanciais no comportamento da maioria dos homens da amostra, alguns participantes não falavam com seus parceiros sobre sintomas relacionados à Covid-19 que eles apresentavam, Também não há evidências de que esse comportamento tenha permanecido, já que o estudo traz um recorte de tempo pequeno.
*Léo Fávaro é estudante de medicina.