Homens tendem a ter melhor senso de direção; pesquisa explica motivo

Pesquisa analisou a infância das pessoas e apontou uma possível razão para isso

Redação Publicado em 23/08/2021, às 12h00

Deixar que as crianças explorem os ambientes pode ajudar no senso de localização futuro - iStock

Tirar as crianças de casa e fazer com que elas conheçam novos ambientes pode ser muito benéfico para o futuro! De acordo com um estudo publicado em Cognitive Research: Principles and Implications, esse hábito pode, inclusive, ajudá-las a se sentir mais confiantes.

Isso porque, assim como explorar os arredores pode desenvolver o senso de direção, essas primeiras experiências de aprendizagem podem muitas vezes impactar as habilidades de resolução de problemas que muitas vezes são necessárias para prosperar como um adulto no futuro.

Homens têm mais senso de direção, mas há um motivo para isso…

Para esse estudo, 159 alunos de graduação completaram uma série de questionários em uma universidade de Miami sobre suas experiências infantis de orientação, estilos de navegação e qualquer ansiedade associada.

Os resultados indicam que os homens tendem a relatar mais uso de uma estratégia de orientação, enquanto as mulheres relatam mais frequentemente uma estratégia de rota. No geral, os homens relataram mais conforto em suas habilidades de navegação, pois eram mais frequentemente encorajados a explorar mais longe de casa (fato derivado, provavelmente, de um histórico de segurança e normas de gênero).

A neuropsicóloga pediátrica e diretora executiva da Brain Behavior Bridge, Sarah Allen, diz: “Como um campo, sabemos há um tempo que os homens tendem a usar uma estratégia de orientação (ou seja, norte, sul, leste, oeste) e as mulheres tendem a usar objetos em sua localização (ou seja, vire à esquerda no Walmart), e este estudo confirma isso”.

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Embora possa ser fácil de ponderar, Allen adverte que a pesquisa não incentiva que as crianças vaguem a quilômetros de casa, visto que a segurança não foi abordada nesse estudo. “O estudo foi realizado com estudantes universitários e contou com a memória deles do que eram capazes de fazer quando crianças. Sabemos que as memórias retrospectivas nem sempre são precisas”, justifica ela.

A neuropsicóloga continua: “Isso sugere que quanto mais as pessoas saíam de casa quando crianças enquanto levavam recados ou exploravam, menos ansiosas elas ficam como adultos com as novas rotas e mais propensas a usar uma estratégia de orientação. Também sugere que quanto mais longe deixamos as crianças explorarem seus arredores, menos ansiedade elas têm em navegar em seu mundo no futuro. Além disso, elas são mais propensas a desenvolver uma estratégia de orientação versus localização, o que pode ajudá-las a encontrar seu caminho mais facilmente como adultos”.

De acordo com Allen, as crianças devem ser encorajadas a explorar com segurança o ambiente, mandando recados ou jogando jogos no estilo caça ao tesouro, já que não se trata apenas de estar ao ar livre, mas de explorar o exterior. “A exposição e o aprendizado consistentes são o que cria o crescimento em nossas habilidades de navegação e a redução da ansiedade de nossos filhos em explorar esse mundo, aumentando potencialmente as conexões em nosso cérebro”, diz ela.

Amy Nasamran, psicóloga e pesquisadora da Michigan State University, destaca que embora as primeiras experiências de aprendizagem sejam uma chance a ser explorada, elas são importantes para promover sentimentos de sucesso e competência, já que a maneira mais eficaz de lidar com a ansiedade é enfrentar as situações, vivenciá-las e aprender com elas. “Embora possa ser tentador proteger nossos filhos, oferecer oportunidades de aprendizagem adequadas à idade é importante para transformar seu desenvolvimento em adultos completos, confiantes e competentes”, diz ela.

Nasamran continua: “A pesquisa sobre as diferenças de gênero na aprendizagem é duradoura. Embora haja um consenso geral de que homens e mulheres não tendem a diferir em termos de capacidade intelectual geral, alguns estudos mostraram algumas diferenças entre homens e mulheres em termos de habilidades específicas. Por exemplo, estudos ao longo do tempo sugeriram que a maior diferença existente entre homens e mulheres é em termos de capacidade visual-espacial, pois eles tendem a superar as mulheres nesta área”.

Embora possa ser fácil presumir automaticamente que essas diferenças de gênero são baseadas na biologia, Nasamran explica que fatores sociais e culturais podem estar em jogo. “É importante observar que os pesquisadores neste estudo não encontraram diferenças entre as habilidades espaciais de meninos e meninas na idade de 3 anos, enquanto as diferenças surgiram mais tarde na infância e na idade adulta, sugerindo prováveis ​​efeitos da cultura e da sociedade”, diz ela.

Outra advertência desse estudo é que os pesquisadores não examinaram a razão por trás da maior ansiedade das mulheres. Eles não puderam concluir que era simplesmente devido ao medo de se perder ou por outras razões e, novamente, a cultura e os fatores sociais podem desempenhar um papel importante no fato de as mulheres sentirem mais ansiedade em lugares desconhecidos do que os homens”.

Dada sua experiência como psicóloga em um sistema escolar, Nasamran viu em primeira mão como o ensino e a prática de habilidades podem diminuir a lacuna nas diferenças de aprendizagem entre diferentes grupos de alunos. “A pesquisa também sugere que as meninas são capazes de desenvolver habilidades viso-espaciais iguais às dos homens quando têm oportunidades iguais de aprendizagem”, diz ela.

Nasamran conclui “Os pais podem desempenhar um papel importante neste processo de aprendizagem, proporcionando às crianças de todos os sexos oportunidades iguais de aprendizagem, adequadas à idade. Ajudar crianças pequenas a ter sucesso com oportunidades de aprendizagem também pode fomentar seu senso de agência [ou de controle] e confiança, motivando-as a continuar aprendendo e a desenvolver suas habilidades”.

No entanto, mesmo o pesquisador tendo afirmado que o aspecto segurança não foi abordado no estudo e que não se trata de incentivar as crianças a fazerem explorações distantes indistintamente, é importante destacar que nosso país – em comparação aos EUA, onde a pesquisa foi feita – tem mais questões de segurança em geral, e infantil em particular. Nesse sentido, cabe aos pais uma avaliação criteriosa do quanto de autonomia e liberdade se deve dar aos filhos pequenos para se aventurar sozinhos no ambiente fora de casa.

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