Experimento indica que a testosterona elevada diminui o medo da punição, enquanto o cortisol reforça a necessidade de recompensa
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h30 - Atualizado às 23h56
Pesquisadores das universidades de Harvard e do Texas, em Austin, decidiram investigar o papel da testosterona, o hormônio masculino, e o cortisol, ligado ao estresse. Nos últimos anos, vários estudos têm revelado como o sistema endócrino, que rege a produção hormonal, têm influência sobre o comportamento humano.
A equipe, coordenada pelo professor de psicologia Robert Josephs, pediu a 117 pessoas que completassem um teste de matemática, checassem os resultados e informassem quantas questões haviam acertado. Quanto mais respostas corretas, mais dinheiro eles ganhariam.
A partir das análises de saliva coletada antes e depois do teste, os pesquisadores perceberam que os indivíduos com níveis elevados de testosterona e cortisol eram mais propensos a exagerar no número de acertos relatados.
Níveis altos de testosterona têm sido associados a um comportamento mais agressivo e ousado, inclusive para investir no mercado financeiro. No contexto da ética, os autores explicam que o hormônio elevado pode diminuir o medo da punição, ao mesmo tempo em que aumenta a sensibilidade à recompensa.
Já o cortisol elevado está associado a um estado de estresse crônico, e por isso funcionaria como uma espécie de reforço para o comportamento antiético. Ou seja, enquanto a testosterona alta aumenta a coragem para enganar os outros, o cortisol elevado dá um motivo a mais para fazer isso: obter alívio contra o estresse.
Os pesquisadores também contam que, após terem mentido sobre o número de respostas corretas, o cortisol dos participantes diminuiu, mostrando que o comportamento gerou uma espécie de alívio do estresse. Os autores explicam que isso está ligado à sensação de recompensa ligada ao ganho de dinheiro.
Como isso poderia ser corrigido? Pesquisas anteriores já mostraram que valorizar as recompensas coletivas, em vez das individuais, pode ser útil para prevenir comportamentos antiéticos. Já os níveis de cortisol podem ser reduzidos com práticas como ioga, meditação e exercícios físicos. Esses recursos, segundo os autores, podem ser bem mais eficientes do que a ameaça de punição.