Redação Publicado em 23/07/2021, às 10h00
Diariamente somos expostos a dezenas de produtos químicos. Sem falar que o ar que respiramos está repleto deles - nitrogênio, oxigênio e dióxido de carbono, entre muitos outros - assim como a água que bebemos. Como se não bastasse, existem muitos produtos químicos criados pelo homem, como medicamentos.
Organizações como a Food and Drug Administration (FDA), equivalente à Anvisa, e a Environmental Protection Agency (EPA), a Agência de Proteção Ambiental, ambas dos EUA, testam rigorosamente produtos químicos de acordo com a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas, por exemplo, antes de chegarem ao consumidor para garantir que são seguros.
No entanto, alguns desses produtos químicos podem ter efeitos negativos para a saúde que ainda não foram explorados. Levando isso em conta, pesquisadores do Silent Spring Newton, uma organização sem fins lucrativos localizada em Massachusetts e dedicada a estudar principalmente a prevenção do câncer de mama, começaram a se dedicar ao assunto.
Eles procuraram identificar as causas evitáveis do câncer de mama e investigaram quais produtos químicos poderiam contribuir para aumentar o risco da doença. Como parte do estudo, foram analisados 2.000 produtos químicos listados no Toxicity Forecaster da EPA, um programa que faz a triagem desses itens em busca de riscos potenciais à saúde.
Durante a revisão, os pesquisadores descobriram 296 substâncias químicas que causaram um aumento nos níveis de estradiol, que é uma forma de estrogênio e o principal hormônio sexual feminino, e nos níveis de progesterona, ou em ambos, durante a cultura de células adrenais.
Dos produtos químicos estudados, 71 causaram um aumento em ambos os hormônios. Eles incluíam retardadores de chamas, corantes, fungicidas e pesticidas. Alguns dos itens pesquisados:
Os pesquisadores disseram ter usado novos dados produzidos pela EPA para identificar produtos químicos comumente utilizados e que demonstraram aumentar a síntese de estrogênio e progesterona em células. As descobertas feitas sugerem que alguns desses produtos químicos sintéticos podem, sim, aumentar o risco de câncer de mama por meio da estimulação desses dois hormônios que estão ligados a este tipo de câncer.
Estudos anteriores concentraram-se na capacidade dos produtos químicos de se ligarem diretamente ao receptor de estrogênio e ativá-lo. Este novo estudo traz uma nova dimensão para a pesquisa do câncer de mama. Os pesquisadores afirmaram que uma vez que muitos produtos químicos ambientais não seriam ativadores tão fortes quanto o estradiol endógeno, a atividade mais fraca limitou as preocupações em algumas avaliações anteriores. Porém, os produtos químicos identificados por eles aumentaram a síntese de estradiol, que é muito potente. Assim, os efeitos desses produtos químicos no câncer de mama podem ser muito mais fortes do que se pensava.
No entanto, os cientistas ainda estão tentando estabelecer como esses produtos químicos estão alcançando esse aumento no estradiol. Eles levantaram a hipótese de que os produtos podem estar agindo como ativadores da aromatase, uma enzima sintetizada pelo nosso organismo que promove a conversão de testosterona (hormônio andrógeno) em estrógenos (estradiol e estrona), fazendo com que as células produzam mais desses hormônios. O estudo também aponta que a exposição regular a múltiplas fontes, ao invés de exposições únicas ou raras, provavelmente também provoca algum efeito.
O estrogênio pode causar câncer de duas maneiras: estimulando o tecido mamário para encorajar as células a se dividirem e se duplicarem, processo no qual podem ocorrer algumas mutações. Os metabólitos do estrogênio também podem ter potencial carcinogênico, causando danos ao DNA e contribuindo para o desenvolvimento do câncer de mama.
Da mesma forma, o câncer de mama positivo para receptor de progesterona é sensível ao hormônio progesterona. As células, nesses casos, possuem receptores que lhes permitem usar esse hormônio para crescer. A terapia hormonal pode evitar que os tumores usem estrogênio ou progesterona, retardando ou parando o crescimento do tumor, ou podem reduzir os níveis desses hormônios no corpo.
Para os pesquisadores, o papel dos poluentes ambientais na carcinogênese da mama é particularmente mal compreendido, mas existem preocupações públicas compreensíveis sobre o papel da exposição ampla e de baixo nível aos poluentes ambientais.
No entanto, estudar as possíveis ligações entre o câncer e os produtos químicos se mostra problemático. Isso porque, segundo os pesquisadores, a meia-vida curta de alguns produtos químicos, o período de tempo durante o qual o câncer se desenvolve, a exposição cumulativa a produtos químicos e a várias misturas, e ter diferentes características fisiológicas podem ou não determinar se esses produtos químicos irão impactar o corpo e, em caso afirmativo, em que extensão.
O próximo passo seria determinar se esses produtos químicos produzem ou não o mesmo efeito em animais e humanos. Isto porque o estudo levantou um ponto interessante na pesquisa para identificar o risco de câncer de mama, concentrando-se em produtos químicos que aumentam o estrogênio ou a progesterona. No entanto, sem estudos in vivo, é prematuro tentar estabelecer uma ligação definitiva.
Independente dos novos estudos, os autores da pesquisa recomendam fortalecer métodos para verificar os prováveis efeitos nos seios ao testar produtos químicos e identificar possíveis carcinógenos antes que eles acabem em itens de consumo. Também sugerem limitar a exposição das pessoas a esses produtos químicos durante estágios específicos de desenvolvimento, como puberdade e gravidez.
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