A diferença existente entre inseminação intrauterina e fertilização in vitro é uma dúvida muito comum e também uma confusão bastante frequente. Temos em comum o fato de que ambos são tratamentos para casais com infertilidade, mas as semelhanças praticamente acabam por aí.
De maneira sucinta, podemos agrupar todos os tratamentos por técnicas de reprodução assistida em dois tipos: baixa e alta complexidade. O que define se o tratamento é de baixa ou alta complexidade é o local em que acontece a fertilização. Quando a fertilização é feita dentro do próprio organismo da mulher, chamamos de inseminação intrauterina e esses são os tratamentos de baixa complexidade. Já quando a fertilização acontece em laboratório, chamamos de fertilização in vitro e são todos os tratamentos de alta complexidade que entram neste grupo. Ou seja, os tratamentos in vivo são de baixa complexidade e os procedimentos in vitro são de alta complexidade.
A primeira etapa em ambos os tratamentos é a mesma: induzir a ovulação. Nesta etapa são usados hormônios, que podem ser orais ou injetáveis. A ideia da indução da ovulação é estimular os ovários para que produzam mais óvulos. Em um ciclo natural, apenas um óvulo é produzido nos ovários naquele mês, mas quando induzimos podemos ter mais: três, quatro, dez ou até um número maior.
Nos tratamentos de baixa complexidade não queremos tantos óvulos crescendo, pois não teremos controle de quantos podem levar à gravidez e poderia ser arriscado ter gravidez de gêmeos, trigêmeos ou mais. Assim, para os tratamentos mais simples, queremos que, no máximo, três ou quatro folículos (bolsas de líquido onde se desenvolvem os óvulos) cresçam.
Já nos tratamentos in vitro não temos essa limitação. Como retiraremos os óvulos e depois só colocaremos no útero um número determinado de embriões, podemos ter mais folículos crescendo e, idealmente, o número fica entre quinze e vinte.
O tempo desta primeira etapa de indução da ovulação é, em média, de dez a doze dias, período em que são feitos controles com ultrassom para medir o número e o tamanho dos folículos. Passado esse tempo, os folículos já estão no tamanho adequado e os óvulos em seu interior já devem estar maduros. A partir desse ponto, as diferenças entre inseminação intrauterina e fertilização in vitro são maiores.
Na inseminação intrauterina usamos um hormônio para fazer com que os folículos se rompam, liberando os óvulos. A ovulação acontece 36 horas após o uso dessa medicação e então o parceiro da paciente vai até o laboratório para colher o sêmen, que será processado para seleção dos melhores e mais móveis espermatozoides. Esse sêmen processado é colocado em um catéter (tubinho de plástico flexível) que, por sua vez, é introduzido no colo do útero da paciente para inserção dos espermatozoides na cavidade uterina. A partir daí todo processo é natural: os espermatozoides irão nadar até as tubas uterinas, encontrar os óvulos, fertilizá-los e desenvolver os embriões, que, depois, irão implantar o útero, levando à gravidez.
Na fertilização in vitro o processo dessa etapa é bastante diferente. Após induzirmos a ovulação e usarmos a medicação hormonal para que a mulher ovule, a coleta dos óvulos é feita após 35 horas do uso da última medicação, uma hora antes dos folículos se romperem. Dessa forma, conseguimos coletar os óvulos com o auxílio de um ultrassom transvaginal, que tem uma agulha acoplada em sua ponta que consegue acessar os folículos, aspirando os óvulos antes que “ovulem”.
Esses óvulos coletados serão levados ao laboratório, limpos e classificados quanto a sua maturidade e qualidade. Os óvulos maduros serão fertilizados in vitro, ou seja, colocaremos os espermatozoides em contato com eles para que o melhor espermatozoide possa fecundar o óvulo em laboratório.
Os óvulos fecundados passam a ser chamados de embriões e se desenvolverão in vitro por 5 dias, até que atinjam um estágio chamado de “blastocisto”. Blastocisto é o nome dado ao embrião que está pronto para implantar o útero.
Finalmente, os blastocistos são classificados e escolhemos o melhor para inserir de volta no útero. Esse blastocisto selecionado é colocado em um catéter que é inserido no canal do colo do útero, onde o embrião é solto dentro da cavidade uterina.
A partir daí o embrião precisa se comunicar com o útero, uma comunicação bioquímica feita através de substâncias que são produzidas tanto pelo útero quanto pelo blastocisto. Finalmente, ocorre a implantação do embrião no útero e a gravidez se estabelece.
Em resumo, na inseminação intrauterina colocamos o sêmen no útero e a fertilização ocorre naturalmente, assim como todo o desenrolar do processo. Já na fertilização in vitro colocamos o próprio embrião no útero, que precisará apenas implantar, pois todas as demais etapas foram feitas em laboratório. Essas são as principais diferenças entre a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro, tratamentos bastante distintos em seus graus de complexidade.
Dr. Fernando Prado
Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo