Jairo Bouer Publicado em 01/11/2019, às 21h02
Nesta quinta-feira (31) o Ministério da Saúde lançou uma campanha de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) com filme que destaca as reações das pessoas ao verem fotos dos sintomas que algumas doenças provocam. O objetivo, segundo a pasta, é instigar a curiosidade dos jovens para pesquisarem imagens das mesmas na internet e, como informou o ministro Luiz Henrique Mandetta na coletiva à imprensa, fazer com que as pessoas tenham medo de não usar preservativo. “Se ver já é desagradável, imagine pegar. Sem camisinha você assume esse risco”, é o conceito enfatizado.
O problema é que muitas das ISTs são assintomáticas, ou seja, não envolvem sintomas ou eles não são identificados por quem as contrai. Em muitos casos, as manifestações aparecem semanas ou meses após o contato com o micro-organismo, o que também pode dificultar a associação com uma relação desprotegida. É justamente por isso que essas infecções são tão difíceis de ser evitadas. Segundo documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) este ano, a cada dia há mais de 1 milhão de novos casos de ISTs curáveis entre pessoas de 15 a 49 anos. As principais delas, segundo a OMS, são clamídia, gonorreia, tricomoníase e sífilis.
Segundo dados do Sistema de Saúde do Reino Unido (NHS), cerca de 50% dos homens e 70% das mulheres não apresentam qualquer sintoma de clamídia. Cerca de 10% dos homens e 50% das mulheres também são assintomáticos para a gonorreia. No caso da sífilis, as primeiras manifestações podem surgir semanas após a infecção e nem sempre são óbvias. Para piorar, elas somem depois de um tempo. A tricomoníase, que segundo a OMS é a infecção mais comum entre as ISTs curáveis, é assintomática para metade dos homens e das mulheres.
Muita gente só descobre que contraiu uma IST ao enfrentar alguma complicação grave, como doença inflamatória pélvica, infertilidade, problemas detectados no feto durante o pré-natal, câncer (no caso do HPV) ou quadros neurológicos (resultantes da sífilis). Isso só ocorre porque, na maioria das vezes, a pessoa nem desconfiava da infecção. Quem apresenta sinais marcantes, como os sugeridos pela campanha, costuma correr ou ser levado ao médico antes de ter problemas mais graves.
Outra questão é que, ao retratar reações de ojeriza ou medo nos jovens que veem as imagens, corre-se o risco de estigmatizar quem tem, já teve ou ainda vai ter uma IST. Muitas campanhas lançadas no início da epidemia do HIV, nos anos de 1990, focavam a questão do pânico para tentar aumentar o uso de preservativo e a gente sabe que a estratégia não funciona.
Melhor do que estimular o medo seria fazer uma campanha que conversasse com todo mundo de forma menos assustadora, afinal, qualquer pessoa que faz sexo pode ter uma infecção e não saber, inclusive gente que se cuida e que só teve um parceiro(a) na vida. E mais: que a campanha incluísse recortes para grupos específicos que são mais vulneráveis ao HIV e a todas as ISTs. Prevenção não é algo simples, e por isso pesquisadores e a própria OMS têm batido na tecla da estratégia combinada – que envolve camisinha, sim, mas também informação, educação, testagem e acesso aos serviços de saúde.