Parece que estamos falando de um mundo distante, ou de tratamentos modernos feitos no exterior, mas tratar varizes sem repouso, sem cortes e sem internação já é uma realidade aqui no Brasil, país que hoje é referência no tratamento de varizes no mundo.
Me formei em 2000 na Faculdade de Medicina, terminei minha formação em Cirurgia vascular em 2005, e me impressiono todos os dias em como hoje não pratico quase nada que aprendi na minha formação. A Medicina evoluiu muito, e os tratamentos que antes assustavam foram substituídos por práticas muito menos invasivas, isso é fato.
O curioso é que, enquanto a técnica foi se aprimorando, pouco parece ter modificado as crenças da população, que reconhecem os avanços tecnológicos nos tratamentos de câncer, de cirurgia cardíaca, nas cirurgias robóticas, mas em geral ignoram os avanços em relação às famosas varizes.
O medo dos tratamentos vasculares é tão enraizado em nossa cultura que até hoje os residentes de cirurgia vascular precisam aprender quem foi a cantora Clara Nunes, que faleceu em 1983, de choque anafilático durante uma cirurgia de varizes, mas que até hoje assombra a população, 39 anos mais tarde. Medo da anestesia, medo do repouso do pós-operatório, a crença de que não adianta operar porque tudo volta, a sensação de que os tratamentos são muito demorados e com pouco resultado estético, são algumas das principais dores que afligem as pacientes.
Precisamos desconstruir a imagem de anos de que tudo se trata com cirurgia, de que tudo precisa de repouso, e principalmente, a ideia de que nada dá certo.
Desconstruir a ideia de que o vascular é um "secador" de vasinhos, e entender que cuidamos da circulação, e promovemos saúde e qualidade de vida. Desconstruir a ideia de que você precisa aceitar uma imagem de pernas que não te agrada e que você pode sim atingir resultados estéticos duradouros. Desconstruir a ideia de uma medicina de pedaços, e entender que apenas uma visão mais holística, que engloba hábitos de vida saudáveis vai dar o resultado que você espera.
Mas onde começou toda essa mudança no cenário da flebologia, área de cuida de veias? Essa mudança só foi possível devido ao desenvolvimento tecnológico!
É praticamente impossível hoje pensar em um tratamento de excelência no segmento venoso sem um Ultrassom Vascular dentro do consultório do cirurgião vascular, já que ele vai desenhar um mapa do problema, guiar as mãos do cirurgião durante o tratamento, e fazer acompanhamento para prevenir recidivas.
Mas, apesar de acreditar que o ultrassom foi a arma que tornou possível toda essa mudança de olhar na flebologia, outros equipamentos vieram somar esforços e melhorar resultados como a fleboscopia, a Realidade Aumentada, os equipamentos de laser, enfim, todo o desenvolvimento tecnológico hoje presente no consultório do cirurgião vascular.
A tecnologia permitiu que tivéssemos um maior entendimento da doença venosa, conseguindo assim corrigir a fonte, a raiz do problema, e dessa forma atingir resultados mais rápidos e duradouros.
Equipamentos de resfriamento de pele e até uso de óxido nitroso tornaram os tratamentos infinitamente mais confortáveis e a dor deixou de ser um limitante para se cuidar.
A cirurgia de safena, que era arrancada e precisava de um longo período de afastamento, hoje é realizada com equipamentos de laser e radiofrequência, que são realizados por uma punção, sem cortes, e sem necessidade de repouso. As técnicas de termoablação (tratamentos de veia safena com laser) ganharam espaço inicialmente na Europa e Estados Unidos, ganharam força e experiencia e hoje são consideradas a técnica padrão-ouro (melhor opção) para tratamento de veia safena.
A associação do uso do laser transdérmico com aplicação e eventualmente espuma densa, realizadas em consultório médico, vieram a reduzir em mais de 80% a indicação de microcirurgia, que antes eram realizadas com internação hospitalar e tempo longo de repouso. Com a técnica ATTA (ablação térmica totalmente assistida), conseguimos tratar varizes calibrosas que eram submetidas a microcirurgia, com anestesia local.
Mas não foi só na questão de saúde que tivemos avanços, pois sei que a principal causa de busca para o vascular é a queixa estética. A maioria das pacientes busca o consultório para fazer uma simples “aplicação”. Mas quando entendemos que 80% dos vasinhos estéticos presentes nas pernas estão associados a varizes nutridoras e 40% associados a alterações da veia safena, chegamos a uma conclusão importante: NUNCA SÃO SÓ VASINHOS!
A identificação dessas veias nutridoras com equipamentos de realidade aumentada e ultrassom doppler é essencial para um tratamento efetivo, afinal os vasinhos são apenas a ponta do iceberg para um problema vascular bem mais complexo. Quando essa ideia fica clara, tratamentos antigamente feitos de forma cansativa e repetitiva no consultório podem ser substituídos por poucas visitas, mais assertivas onde a fonte do problema é realmente contemplada, e o resultado estético desejado finalmente atingido.
Hoje sabemos que não existe uma técnica perfeita, cada vez mais combinamos técnicas diferentes para atingir um tratamento individualizado, que contemple todas as veias da sua perna e suas características individuais, ou seja um tratamento perfeito, para você.
*Dra. Aline Lamaita é cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular
Aline Lamaita
Cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, hoje dedica a maior parte do seu tempo à flebologia (estudo das veias). Possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo