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Jovens abraçam fluidez e fetiches, mas preferem monogamia

Geração Z está mais aberta à fluidez sexual e de gênero - iStock
Geração Z está mais aberta à fluidez sexual e de gênero - iStock

Como pessoas de diferentes gerações lidam com experiências sexuais “diferentes” das tradicionais ou com fetiches? E será que as novas gerações estão, mesmo, mais abertas a explorar novas atitudes em relação ao sexo, à identidade de gênero e aos relacionamentos?

Responder às questões acima foi o intuito de uma pesquisa realizada com usuários do Feeld, um aplicativo de encontros para casais “curiosos”, interessados em desafiar scripts de gênero e de relacionamento. Ou seja: não reflete a população como um todo, mas revela que mesmo quem se abre para concretizar suas fantasias sexuais tem visões diferentes dependendo da sua idade.

O trabalho foi feito em colaboração com o pesquisador Justin Lehmiller, do famoso Instituto Kinsey, nos EUA – a instituição tem realizado pesquisas sobre sexualidade há mais de 75 anos. Os resultados, divulgados no Dia Mundial da Saúde Sexual (4), mostram como pensam 3.310 integrantes do Feeld de 18 a 75 anos de idade, de 71 países diferentes, sendo a maioria (59,7%) dos EUA.

Do total, 65,3% dos participantes se identificam como homens, 25,7 como mulheres, e 9% como não binários, trans ou de outros gêneros. Além disso, 42% se declaram heterossexuais; 15% heteroflexíveis; 15% bissexuais; 8% pansexuais; 7% queer; e 13% de outras orientações.

O relatório conclui que a Geração Z está, como já indicaram outros estudos, redefinindo a sexualidade e os relacionamentos, abraçando identidades fluidas e reimaginando as estruturas tradicionais de relacionamento. Segundo Lehmiller, o contraste é visível em relação às gerações anteriores (Millenials, X e Boomers).

Veja, a seguir, as principais descobertas do trabalho em relação a alguns temas:

Monogamia 

- Apesar da percepção comum de que a Geração Z está se afastando das estruturas tradicionais de relacionamento, a monogamia emerge como o estilo de relacionamento  preferido: 23% dos integrantes da Geração Z do Feeld preferem a monogamia, enquanto apenas 15% preferem um relacionamento não monogâmico

- Isso contrasta com os Millennials e a Geração X, para os quais a não monogamia ética é favorecida por 24% e 27%, respectivamente.  Já a monogamia é preferida por 16% dos Millennials e apenas 9% da Geração X. 

- 27% dos Boomers preferem amigos “com benefícios”, em comparação com apenas 12% que preferem a monogamia. 

- 81% dos jovens da Geração Z fantasiam sobre monogamia, sendo que 44% fantasiam frequentemente—quase o dobro das gerações mais velhas.

Fluidez sexual e de gênero 

- 59% dos integrantes da Geração Z no Feeld relatam uma identidade sexual diferente de heterossexual, enquanto 18% se identificam como diversos em termos de gênero. Esses números são significativamente maiores que as médias nacionais relatadas por Gallup e Pew, nos EUA, onde quase 1 em cada 5 adultos da Geração Z se identifica como LGBTQIA+

- os integrantes do Feeld demonstram uma fluidez significativa em identidades sexuais e de gênero, sendo que 10% dos jovens da Geração Z relataram uma mudança em sua identidade de gênero desde que se juntaram ao aplicativo, e 18% relataram uma mudança em sua identidade sexual. 

- a tendência acima se alinha com outras descobertas do Instituto Kinsey, que indicam que as gerações mais jovens estão cada vez mais abertas a explorar e redefinir suas identidades ao longo da vida. 

Exploração de fetiches 

- 55% dos jovens da Geração Z no Feeld descobriram um novo fetiche desde que se juntaram ao aplicativo, tornando-os a geração mais exploratória nesse aspecto.  Em comparação, 49% dos Millennials, 39% da Geração X e 33% dos Boomers relataram descobertas semelhantes. 

- essa tendência reflete uma pesquisa mais ampla que mostra que a Geração Z está liderando o aumento do interesse por fetiches e BDSM. Ao todo, 56% dos jovens da Geração Z relataram fantasias de BDSM, em comparação com apenas 12% dos Boomers.

Para Lehmiller, os dados dos integrantes do Feeld oferecem um vislumbre fascinante de como a Geração Z está redefinindo os relacionamentos:

Sua abertura para explorar formas mais fluidas de ser, combinada com uma afinidade inesperada pela monogamia, sugere uma geração que está simultaneamente desafiando e abraçando a tradição.” 
Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin