Leo Fávaro* Publicado em 11/10/2021, às 12h00
Você já reparou que algumas pessoas têm utilizado a sigla LGBTQIAP+? A inclusão da letra "P" tem como objetivo incluir as pessoas que se identificam como "pansexuais". Mas, afinal, existe diferença entre bissexualidade e pansexualidade?
Antes de mais nada, vamos lembrar que sexualidade é um tema balizado por tabus. Os melindres para falar do assunto dificultam sua compreensão e a desinformação abre caminho para preconceito, dúvidas e estereótipos. Assim, quanto mais claras forem as informações, mais harmônicas serão as relações sociais, o que reforça a necessidade de falar isso cotidianamente.
Inerente ao ser humano, a sexualidade independe do “objeto” ao qual ela é direcionada e é formada por aspectos sociais, culturais, biológicos e psicológicos. A combinação desses fatores faz sermos quem somos quando o assunto se refere a sexo biológico, identidade de gênero, expressão de gênero e orientação sexual – sendo esta última o foco deste texto.
Por muito tempo usou-se o termo “opção sexual” para classificar pessoas como heterossexuais, homossexuais e bissexuais. A compreensão de que não se opta pela orientação sexual, isto é, ninguém escolhe por livre vontade ser homossexual ou heterossexual, por exemplo, fez com que o termo se tornasse inadequado. O conceito mais correto é “orientação sexual”, já que este se refere a um desejo que acompanha a pessoa, independentemente de sua escolha.
Essa manifestação involuntária do desejo constitui a atração afetiva ou sexual que uma pessoa tem por outra pessoa. O psiquiatra Jairo Bouer afirma que “o desejo é uma questão que nasce com a pessoa e, normalmente, é ela que o acompanha. Ou seja, não conseguimos definir para onde esse desejo vai. O desejo está, nasce e se desenvolve com cada um e, consequentemente, acabamos o acompanhando.”
Confira:
O conceito de orientação sexual contempla uma pluralidade de possibilidades. Abaixo estão as definições de algumas delas:
Entenda as outras letras da sigla LGBTQIAP+:
Por fim, vale destacar que o sinal de + ao final da sigla lembra que ela não se limita a apenas esses termos, já que os conceitos de gênero e sexualidade evoluem com o passar do tempo.
O conceito de orientação sexual não é algo fixo e imutável. Com o passar do tempo, conforme a pessoa vai se conhecendo melhor e tendo experiências de vida diferentes, seu desejo afetivo e/ou sexual pode mudar. Assim, não dá para colocar as pessoas em “caixinhas” fechadas para determinar que elas são hétero ou homossexuais, por exemplo, já que isso pode mudar com o decorrer do tempo. De alguma forma, é sobre “estar” naquela orientação sexual, e não propriamente “ser” aquela orientação sexual.
Um estudo feito recentemente pela Universidade de Sidney, na Austrália, sugere que a orientação sexual relatada pelas pessoas pode mudar depois de elas lerem sobre a natureza da orientação sexual. Além disso, o estudo evidencia que a atração sexual por pessoas do mesmo sexo pode ser mais comum do que estimado anteriormente.
Com tudo isso em mente, é importante destacar que existem definições mais amplas de bissexualidade (por exemplo sentir atração "por mais de um gênero", ou "independente do gênero"). Assim, muitos bissexuais podem se identificar como pansexuais, mas vão continuar usando o primeiro termo por uma questão política ou histórica. Por outro lado, muitos pansexuais vão lutar pelo reconhecimento de que seu desejo independe da identidade de gênero ou de uma orientação sexual específica, enquanto outros se autodenominam "queer" pelo mesmo motivo.
Fontes: manuais de comunicação LGBTI+ do Grupo Dignidade e da Aliança Nacional LGBTI / GayLatino, 2018.
*Leo Fávaro é acadêmico de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo
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