Redação Publicado em 07/06/2022, às 12h00
Um estudo realizado na Itália mostra que níveis altos de poluição do ar levam ao aumento do número de arritmias cardíacas, ou seja, alterações na batida normal do coração que podem ter consequências graves.
A pesquisa contou com pacientes que sofrem de um tipo grave de arritmia, chamado de ventricular, e que utilizam um cardioversor desfibrilador implantável (CDI), dispositivo implantado no corpo que regula o ritmo do coração e também monitora a ocorrência de batidas irregulares.
O estudo, apresentado no congresso de Insuficiência Cardíaca 2022, da Sociedade Europeia de Cardiologia, comparou os dias em que os pacientes tiveram números mais altos de arritmias ventriculares com os dias em que os cientistas registraram níveis mais altos de poluição do ar.
O médico Franco Folino, do Departamento de Ciências Cardíacas, Torácicas e Vasculares da Universidade de Pádua, afirmou que esses aparelhos, assim como muitos marca-passos, são úteis não apenas para o tratamento de arritmias, mas também pela capacidade de monitorar o ritmo cardíaco 24 horas por dia. Portanto, eles representam uma ferramenta ideal para comparar esses dados com os da estação de monitoramento da qualidade do ar.
No entanto, Folino, que não esteve envolvido no estudo, observou que os pacientes observados podem estar em maior risco de problemas de saúde relacionados à poluição. Isso porque as pesquisas realizadas em pacientes com CDI, que têm cardiopatias importantes, envolvem uma população de alto risco cardiovascular, destacando que nesses indivíduos os efeitos da poluição são ainda mais pronunciados.
O estudo foi realizado na cidade de Piacenza, no norte da Itália. Em 2021, em um ranking da Agência Europeia do Meio Ambiente das cidades europeias com os maiores níveis de poluição do ar, apenas 16 cidades foram comparativamente piores que Piacenza. A concentração média anual de material particulado 2,5 nesta cidade foi listada como 20,8 μg/m3. A Organização Mundial da Saúde considera um nível de 10 μg/m3 de PM 2,5 ou menos como boa qualidade do ar.
Piacenza cai na categoria de qualidade do ar “ruim” da OMS. Segundo Alessia Zanni, autora do estudo, as visitas ao pronto-socorro por arritmias em pacientes com cardioversor desfibrilador implantável tendem a aumentar nos períodos em que a poluição do ar é mais alta. Assim, os pesquisadores decidiram comparar a concentração de poluentes nos dias em que os pacientes apresentavam arritmia com os níveis nos dias em que não havia ocorrências.
Alessia explicou que a terapia com cardioversor desfibrilador implantável (CDI) é, hoje, a única ferramenta eficaz de prevenção para arritmias potencialmente fatais, como a taquicardia ventricular (TV) e a fibrilação ventricular (FV). A diferença entre as duas condições é que durante a TV, o coração ainda pode bombear um pouco de sangue e o paciente ainda pode estar consciente, enquanto durante a FV o coração está quase parado, ou seja, envolve uma parada cardíaca.
Ela também explicou o mecanismo de ação dos CDIs: eles controlam as arritmias ventriculares por estimulação antitaquicardia (ATP), por choque ou por ambos. A ATP é usada para taquicardia ventricular e consegue resolver o problema em aproximadamente 90% dos pacientes. Se a estimulação falhar, ou se ocorrer uma fibrilação ventricular, o dispositivo promove um choque para interromper imediatamente a arritmia. Normalmente, o ATP não é percebido pelo paciente, mas o segundo pode ser sentido, e de forma marcante.
O estudo rastreou a atividade dos CDIs em 146 indivíduos que receberam um implante entre 2013 e 2017. Desse grupo, 67 pessoas sofreram arritmia ventricular anterior e 79, não. A Agência Ambiental Regional forneceu aos pesquisadores números diários de PM 2,5, PM 10, monóxido de carbono (CO), óxido de nitrogênio (NO2) e ozônio (O3).
Durante o estudo, os pesquisadores registraram 440 arritmias ventriculares. O ATP foi suficiente para 322 deles, e o choque foi necessário em 118 casos. O estudo descobriu que cada aumento de 1 μg/m3 nos níveis de PM 2,5 correspondia a um aumento de 1,5% no risco de arritmias que requerem choque.
Quando as concentrações de PM 2,5 permaneceram elevadas em 1 μg/m3 ao longo de uma semana, as arritmias ventriculares foram 2,4% mais frequentes. Para as concentrações de PM 10, um aumento semanal na mesma quantidade correspondeu a 2,1% mais arritmias ventriculares.
O estudo destaca a necessidade de categorizar a má qualidade do ar como um fator de risco para a saúde cardiovascular. A autora afirma que a poluição do ar deve ser considerada tanto quanto outros fatores de risco cardiovascular, como tabagismo, hipertensão ou colesterol alto. É preciso agir para evitar que as pessoas em geral, mas particularmente aquelas com alto risco cardiovascular, sejam expostas a altos níveis de poluição do ar.
A especialista também citou algumas precauções que os pacientes cardíacos podem tomar: quando as concentrações de material particulado (PM) 2,5 e PM 10 estão altas (acima de 35 μg/m3 e 50 μg/m3, respectivamente), é sensato ficar dentro de casa o máximo possível e usar uma máscara N95 ao ar livre, principalmente em áreas de tráfego intenso. O uso de um purificador de ar no interior dos ambientes também pode ser útil.
Veja também: