Redação Publicado em 04/08/2021, às 15h30
Estar em uma sala de aula com crianças confiantes e interessadas em ciência pode afastar as meninas das carreiras relacionadas às disciplinas de STEM, a sigla em inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português), aponta um novo estudo publicado no British Journal of Sociology of Education.
Em contraste, a pesquisa revela uma tendência maior dos meninos de se imaginarem em profissões da área, parecendo mais inspirados pelo ambiente.
Apesar de pesquisas anteriores mostrarem consistentemente que as meninas têm um desempenho tão bom quanto os meninos nas disciplinas de ciências na escola, elas apresentam muito menos probabilidade de trabalhar em ocupações STEM.
Uma explicação é que as meninas são vítimas de estereótipos de gênero. Em outras palavras, atuantes na área de STEM são frequentemente vistos como do sexo masculino e, geralmente, as meninas são retratadas como sendo “menos talentosas” em matemática e ciências.
Os esforços para reverter esse cenário têm se concentrado em fornecer às meninas modelos visíveis. A ideia é que se elas tiverem acesso a cientistas do sexo feminino bem sucedidas na mídia ou lerem livros sobre essas personalidades estarão muito mais propensas a considerar uma carreira relacionada à ciência. No entanto, o estudo sugere que a questão pode ser mais complicada.
Confira:
A pesquisa analisou os dados do National Educational Panel Study (NEPS), um estudo longitudinal na Alemanha que acompanha a vida de 60.000 pessoas desde o nascimento até a idade adulta.
A equipe se concentrou em 8.711 alunos com 14 e 15 anos de 916 classes em toda Alemanha. Eles foram questionados sobre qual seria a sua ocupação dos sonhos (sem restrições), que tipo de trabalho esperavam fazer no futuro e até que ponto concordaram com afirmações como: "matemática é uma das minhas matérias favoritas", "eu aprendo rapidamente em matemática" e "eu sempre fui bom em matemática".
Os achados mostraram que apenas 10% dos alunos esperavam trabalhar em uma ocupação STEM no futuro. Desses, 84% eram do sexo masculino e 17% do feminino. Para os autores, os resultados destacam o impacto que a cultura em sala de aula tem nas expectativas dos jovens.
Segundo os dados, estar em uma sala de aula com alunos que veem áreas incluídas no STEM como uma escolha de carreira parecia inspirar os meninos. No entanto, esse ambiente teve o efeito oposto sobre as meninas, mesmo quando elas estavam em classes com uma alta proporção de alunas com altas aspirações à ciência.
O mesmo padrão foi encontrado quando se olhava para a confiança dos colegas de matemática. As meninas ensinadas ao lado de alunos que expressaram confiança em matemática eram muito menos propensas a se verem atuando em algum desses campos, enquanto os meninos neste mesmo ambiente tinham mais chances de escolher um trabalho STEM.
A descoberta desafia a ideia de que tudo o que é necessário para incentivar e aumentar o número de mulheres cientistas é fornecer às meninas modelos visíveis. Segundo os pesquisadores, os achados confirmam que elas são menos propensas do que os homens a esperarem trabalhar em ocupações STEM, mesmo quando têm habilidades e aspirações comparáveis a eles.
Ainda para os autores, uma explicação possível é que, talvez, apesar de aspirarem se tornar cientistas, as meninas perdem a confiança em suas habilidades quando ensinadas ao lado de outros que aparentam ser tão confiantes quanto – considerando que os meninos podem apresentar maiores possibilidades de prosperar em um ambiente tão competitivo.
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