Metade das pessoas com hepatite já sofreu discriminação, mostra pesquisa

Divulgação do levantamento coincide com a aprovação, no Brasil, de mais um tratamento inovador contra a hepatite C

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h27 - Atualizado às 23h56

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Ilustração mostra o vírus da hepatite C (Divulgação)

Uma pesquisa mostra que metade das pessoas infectadas com o vírus da hepatite B ou C (49,6%) já sofreu algum tipo de discriminação por causa da doença. A pesquisa, feita pelo Grupo Otimismo, uma ONG de apoio a pacientes, foi apresentada nesta semana no Congresso Internacional de Doenças do Fígado, em Viena, na Áustria.

Entre os infectados que se abriram com a família sobre o vírus, 24,6% relataram ter sentido um certo distanciamento por parte de um ou mais parentes depois do anúncio. Dos mais de 45% que falaram sobre a doença a colegas de trabalho, 10% foram demitidos. Dos 57,4% que contaram sobre o vírus ao parceiro afetivo, 33,3% tiveram o relacionamento afetado.

Mais de 20% também disseram ter sofrido algum tipo de discriminação no dentista e 17%, ao fazer manicure ou pedicure. Uma parcela de 7% até deixou de ser atendida por profissionais de saúde ao informar sobre o diagnóstico. Ao todo, foram entrevistados 1.217 infectados. Ou seja: a hepatite causa estigma e discriminação.

A divulgação da pesquisa coincide com uma boa notícia para parte dessa população: a aprovação, no Brasil, de um novo tratamento oral contra hepatite C, que apresenta menos efeitos colaterais e tem curta duração – apenas 12 semanas de uso.

O Viekira Pak (ombitasvir, veruprevir, ritonavir e desabuvir) foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) após um processo de análise prioritária. Este é o quarto medicamento para hepatite C registrado este ano no país, o que dá aos brasileiros acesso ao que os infectologistas chamam de revolução no tratamento da doença, para a qual ainda não existe vacina (diferente do que ocorre com a hepatite B).

Até hoje, muitos pacientes enfrentavam meses de tratamento com interferon, droga com efeitos colaterais incômodos, e não conseguiam zerar sua carga viral. Esse cenário ainda era agravado por uma característica preocupante da hepatite C: por ser silenciosa, muitas vezes a infecção só é descoberta quando já existe algum dano ao fígado. Esta, aliás, é a causa de 25% de todos os casos de câncer hepático.

De acordo com o Ministério da Saúde, 1,5% da população brasileira pode ter o vírus da hepatite C, ou seja, 3 milhões de pessoas. E muita gente não sabe disso.

 

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