Para muitas mulheres, eles afetam a qualidade de vida ou geram complicações importantes
Tatiana Pronin Publicado em 12/12/2023, às 09h00
Cerca de 80% das mulheres em idade fértil têm miomas, nódulos benignos que se formam em células do músculo da parede do útero, o miométrio. A maioria deles não causa incômodo, nem requer tratamento. Mas, para muitas mulheres, a condição pode afetar a qualidade de vida ou até gerar complicações importantes.
“Se formos comparar o útero a um cômodo, podemos dizer que o endométrio é a tinta da parede, enquanto o miométrio é o tijolo”, comenta o ginecologista Thiers Soares, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), no Rio de Janeiro, e médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O curioso, segundo ele, é que, ao contrário do que muita gente imagina, o mioma não é um aglomerado de células, e sim uma célula que, por algum motivo, começa a crescer demais.
Veja quais os principais sintomas dos miomas uterinos, também chamados de fibromas:
- Sangramento intenso durante a menstruação e, às vezes, entre os períodos menstruais, podendo causar anemia.
- Dores e cólicas.
- Compressão dos órgãos ao redor do útero, como bexiga e intestino, podendo aumentar a urgência para urinar ou causar constipação.
- Dependendo da localização e do volume do mioma, pode haver dificuldade para engravidar e risco maior de abortamento.
Os miomas podem ser classificados de acordo com o local onde se desenvolvem:
Subseroso: na superfície externa do útero;
Intramural: desenvolvido e localizado nas paredes do útero;
Submucoso: o crescimento se dá na parte interna da cavidade uterina.
“Os miomas submucosos são os que mais atrapalham a fertilidade”, comenta o ginecologista Thiers Soares, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), no Rio de Janeiro, e médico do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Já os subserosos não tendem a atrapalhar quem deseja ter filhos. “Já o intramural pode diminuir a chance de gravidez quando abaula a cavidade”, acrescenta.
O que causa, exatamente, o crescimento dos miomas ainda não é algo que está totalmente claro. Mas fatores que aumentam o risco:
- genética (ter parentes com história de miomas aumenta a probabilidade de ter a condição)
- idade (é mais frequente a partir dos 30 anos)
- raça/etnia (é mais comum em pessoas negras do que em brancas)
- nunca ter engravidado
- obesidade e sobrepeso
- hipertensão (pessão alta)
Um estudo recente, publicado no periódico científico BMJ Open, apontou uma relação entre o sedentarismo e a tendência mais alta a ter miomas. O trabalho contou com 6.600 pessoas, com idades entre 30 e 55 anos. Do total, 562 tinham miomas.
As participantes que relataram gastar seis ou mais horas do tempo de lazer sem se movimentar tinham o dobro de chances de ter miomas em comparação com quem relatava menos de duas horas.
Essa diferença foi ainda mais significativa para mulheres que estavam no período da perimenopausa: aquelas no grupo mais sedentário tinham mais de cinco vezes mais tendência a ter miomas do que aquelas com menor tempo de sedentarismo. Mas ainda são necessários mais estudos para confirmar a associação.
O ginecologista conta que outras pesquisas também sugerem a relação entre miomas e baixos níveis de vitamina D e consumo de soja. Mas ele acredita que a genética ainda é o fator de risco mais importante, que pode determinar a presença desses tumores benignos mesmo quando outros fatores não estão presentes.
O que está claro é que níveis elevados de estrogênio alimentam o crescimento dos miomas, o que também explica, por exemplo, por que a obesidade é um fator de risco – o tecido adiposo faz esse hormônio aumentar. É por isso, também, que após a menopausa a tendência é o volume do mioma diminuir.
Apesar da relação do mioma com o estrogênio, o uso dos anticoncepcionais hormonais podem ser indicados para ajudar no controle dos sintomas, como sangramento e dor, além de evitar seu crescimento. Também pode-se utilizar métodos que contém apenas progestágeno, como a pílula e o DIU hormonal.
Anti-inflamatórios e analgésicos podem aliviar dores, a suplementação de ferro pode ser necessária nos casos de anemia.
Quando existe compressão de órgãos ao redor, ou dificuldades para engravidar, a remoção cirúrgica dos miomas (miomectomia) passa a ser recomendada. Hoje há modalidades minimamente invasivas, como a radiofrequência (agulha que emite calor para destruir parte do mioma) e a histeroscopia (uma câmera com uma alça fragmenta o mioma e o retira).
Dependendo do tamanho e da localização, os procedimentos podem ser feitos por via vaginal (sem cortes), por laparoscopia (com algumas pequenas incisões) ou por laparotomia, em que é feita uma incisão semelhante a de uma cesárea.
A cirurgia robótica também é uma opção, embora ainda mais presente nos hospitais privados: “Traz menos dor, menor chance de trombose, e pode permitir a retirada de um número maior de miomas”, relata o médico.
A retirada do útero (histerectomia) deve ser considerada apenas quando a paciente não deseja engravidar ou já teve filhos. “É muito importante respeitar o desejo da preservação uterina”, ressalta. Infelizmente, segundo ele, alguns médicos não levam isso em conta e nem oferecem outra opção. Vale destacar que a histerectomia pode aumentar um pouco o risco de prolapso vaginal ou incontinência urinária no futuro.
Uma outra possibilidade de tratamento minimamente invasivo é a embolização de miomas, que envolve a introdução de um cateter pela virilha até a artéria uterina e a liberação de agentes nos vasos que alimentam os miomas. Cerca de 90% das pacientes relatam melhora nos sintomas.
Em resumo, é fundamental que cada caso, bem como os prós e contras de cada tratamento sejam bem discutidos entre médico e paciente.
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