Doença causada pelo vírus Epstein Barr pode se confundir com outros quadros infecciosos
Anderson José* Publicado em 27/03/2022, às 10h00
A mononucleose é uma infecção contagiosa causada pelo Epstein-Barr vírus (EBV) que acomete principalmente crianças e adultos jovens entre 15 e 25 anos de idade. O vírus é encontrado é encontrado e transmitido através de secreções nasais e pela saliva. É por esta razão que, comumente, a infecção é conhecida por "doença do beijo".
A apresentação clínica do quadro pode variar bastante, a depender de alguns fatores como imunidade do paciente e a presença ou não de comorbidades (outras doenças) associadas. Porém, os sinais e sintomas clássicos são:
- Febre alta
- Faringite
- Linfadenomegalia (aumento de linfonodos principalmente no pescoço)
Embora não sejam tão comuns, existem outros sinais que podem surgir no decorrer da infecção como o aumento do baço, representando uma possível complicação do quadro ao sofrer algum tipo de ruptura e sangrar, além de um edema ao redor dos olhos chamado Sinal de Hoagland. Em crianças e bebês, a mononucleose infecciosa pode causar erupções cutâneas, mas pode ser assintomática e passar despercebida sem que a doença manifeste quadro típico.
A mononucleose infecciosa pelo EBV pode se confundir com outros quadros por conta de seus sinais e sintomas típicos serem comum a outras doenças, como a infecção pelo Citomegalovírus (CMV), pelo protozoário Toxoplasma gondii (toxoplasmose), pelo vírus da Hepatite B e até pelo HIV na fase aguda, ou seja, no início da infecção, quando surgem os primeiros sintomas que incluem febre alta e aumento de linfonodos na região cervical, por exemplo.
É possível ter uma infecção de garganta por uma bactéria e um vírus ao mesmo tempo? Sim, é possível. Em até 30% dos casos a infecção pelo EBV pode ocorrer concomitante com a presença de Streptococcus pyogenes, uma bactéria que causa infecção de garganta e gera quadro semelhante ao da mononucleose infecciosa.
Para o diagnóstico laboratorial da infecção pelo EBV, existem exames específicos que buscam anticorpos que o corpo produz contra o vírus. Para isso é realizado um teste chamado de Paul-Bunnell-Davidson, que encontra os anticorpos específicos em, no mínimo, 7 dias após o início dos sintomas, mas que podem permanecer elevados por até 5 semanas.
Como a maioria das infecções virais, não há remédio específico para tratar a mononucleose infecciosa, pois é um quadro autolimitado que, em geral, costuma se resolver em até 4 semanas. A maioria dos pacientes com a infecção precisa apenas de tratamento sintomático para tratar dor e febre o que inclui analgésicos e antitérmicos, além de repouso e gargarejos com água e sal para alívio da dor na garganta.
Mesmo com os sintomas desaparecendo, o vírus permanece no organismo da pessoa infectada e volta a se manifestar em episódios de quedas de imunidade. Então é necessário estar atento ao surgimento de sinais e sintomas quando eles surgirem e tomar medidas de precaução como forma de evitar o contágio a outras pessoas.
A maioria dos casos de mononucleose infecciosa é autolimitada e o organismo se encarrega de combater a doença. Porém, existem situações, a depender da idade, condição imunológica, comorbidades e outros fatores não tão bem esclarecidos, que podem desencadear formas atípicas de apresentação da doença. Existem relatos de progressão de mononucleose infecciosa para Síndrome de Guillain-Barré, anemia hemolítica, hepatite, nefrite intersticial e até câncer.
Linfomas são um tipo de câncer que atacam os linfócitos, células responsáveis por combater as infecções no organismo. Algumas dessas células são chamadas de Linfócitos B, que produzem os anticorpos contra os agentes que infectam nosso corpo. Caso elas sejam atacadas, o organismo fica suscetível às mais variadas formas de agressão.
Um tipo de linfoma de célula B é o Linfoma de Burkitt que, às vezes, é associado à presença do EBV. A forma como esse vírus contribui para a patogênese desse tipo de câncer ainda está pouco esclarecida, mas já se sabe que o EBV por si só não causa neoplasia e que, para que isso ocorra, são necessários outros fatores oncogênicos associados. Além disso, há relatos de que o EBV possa, de alguma forma, contribuir para o surgimento de um Carcinoma Nasofaríngeo, mas isso também carece de maiores estudos e evidências.
*Anderson José é estudante de medicina da Universidade Federal do Acre e autor do podcast Farofa Médica
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