Redação Publicado em 04/06/2021, às 18h58
O número de mortes de gestantes e puérperas (que acabaram de ter bebê) em 2021 já supera o total notificado em 2020. A informação é Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, divulgado nesta sexta-feira (4) pela Fiocruz.
Em todo o ano de 2020, foram registrados 544 mortes maternas, um total que já é considerado muito preocupante. Porém, até 26 de maio deste ano, foram registradas 911 mortes de gestantes e puérperas, o que representa uma média de quase 48 ocorrências por semana. Os óbitos foram mais frequentes na gravidez do que nos 42 dias após o parto, segundo o relatório.
A Organização Panamericana de Saúde (Opas) publicou em meados de maio de 2021 uma atualização sobre o cenário da pandemia nas Américas. Na ocasião, informou que entre janeiro e abril deste ano houve um aumento importante de casos em gestantes e puérperas e de óbitos maternos por Covid-19 em 12 países. Segundo o relatório, "o Brasil figura com o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade de 7,2%, ou seja, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8%."
De acordo com a Fiocruz, o nível de mortalidade materna no país já vinha causando grande preocupação antes da pandemia, com uma razão em torno de 55 mortes por 100 mil nascidos vivos. A taxa é bem superior à meta proposta pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2000, como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de 20 mortes por 100 mil. Nos países desenvolvidos, a média é de 16 por 100 mil.
Entre 2015 e 2019, o Brasil se aproximava do padrão de mortalidade com países de desenvolvimento sociodemográfico médico, com melhores indicadores que América Latina e Caribe, em média. Mas o ranqueamento mostra que o país saiu da 100ª colocação para 97ª posição em 2017. De lá para 2000, não houve qualquer mudança.
Vale lembrar que esse tipo de morte é prevenível em mais de 90% dos casos, o que só revela a extrema desigualdade do acesso de gestante a recursos adequados para o pré-natal, o parto e o puerpério.
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Já nos primeiros meses de Covid-19, começaram a ser relatados casos de mortes maternas, situação diferente da que foi observada em países que tinham sido fortemente atingidos pela pandemia antes, como China, Japão, Itália e Espanha.
A gravidez gera mudanças fisiológicas e anatômicas que podem gerar um risco aumentado em doenças com características como a Covid-19. Assim, gestantes podem evoluir para formas graves com descompensação respiratória, em especial aquelas com cerca de 32 semanas, e levar à antecipação do parto. Nesse caso, mãe e bebê precisam de cuidados imediatos, algo nem sempre possível num cenário de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) lotadas.
Um estudo citado pelo boletim aponta que 23,2% das gestantes e puérperas mortas por Covid-19 não chegaram a ser admitidas em UTIs, e 33,6% delas não foram intubadas.
Importante lembrar que o Brasil é um país extremamente desigual no que se refere à disponibilidade de leitos. De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), das unidades que dispõem de leitos obstétricos e fazem partos, apenas 28,8% têm leitos de UTI. Na Região Norte só 14% das unidades têm. No Norteste, 15,1%; o Centro-Oeste, 20,4%; no Sul, 33,9%; e no Sudeste, 50,2%.
O boletim ressalta que, assim como a mortalidade por Covid-19 afeta de forma desigual os brasileiros, isso também é observado entre as gestantes e puérperas. Das 1.204 mortes relativas a 2020 e o início de 2021, cerca de 56,2% eram partas e pretas, o que significa um risco de morte quase duas vezes maior que o de mulheres brancas.
Entre as medidas recomendadas pelo relatório estão a necessidade de reorganização e monitoramento permanente da rede de atenção à gestação, ao parto e ao puerpério para minimizar os impactos diretos e indiretos da Covid-19 na mortalidade materna. Os profissionais de saúde devem estar atentos para o diagnóstico precoce da doença em gestantes. E as grávidas de alto risco devem ter acompanhamento pré-natal intensificados e presenciais.
O boletim ainda reforça que é preciso garantir que a oferta e o acesso aos métodos contraceptivos não sejam interrompidos por causa da pandemia. E a vacinação com uso de imunizantes que não contenham vetor viral (Sinovac/Butantan ou Pfizer/Wyeth) deve ser garantida.
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