Segundo cardiologista, a arritmia é uma das principais causas desse tipo de ocorrência
Tatiana Pronin Publicado em 16/06/2021, às 20h21
Christian Eriksen, jogador da seleção da Dinamarca, chamou atenção do mundo, recentemente, ao sofrer uma parada cardíaca em campo. A morte súbita não ocorreu porque o atleta foi atendido a tempo, mas ocorrências desse tipo sempre levantam a questão: por que pessoas jovens, que praticam atividade física assiduamente, passam por essa situação?
Independente do caso específico de Eriksen, que ainda passa por exames minuciosos para que os médicos entendam o que aconteceu, uma das principais causas de morte súbita é a arritmia cardíaca. O distúrbio é caracterizado por alterações no ritmo do coração (que pode bater mais rápido ou mais devagar que o normal), comprometendo a função de bombear sangue rico em oxigênio para o corpo todo, em especial para o cérebro.
Os sintomas mais comuns são palpitações ou “batedeiras”, desmaios e tonturas. Mas há casos em que a doença é silenciosa. De acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), esse descompasso no coração acomete mais de 20 milhões de pessoas e é responsável por mais de 320 mil mortes súbitas todos os anos no Brasil.
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Segundo o cardiologista Ricardo Alkmim Teixeira, presidente da Sobrac, a morte súbita pode ser evitada com exames de rotina e hábitos de vida saudáveis. Mas, às vezes, a ocorrência é a primeira manifestação de uma pessoa que desconhecia seus riscos. "Existem também os atletas que tinham coração normal e que desenvolvem alterações em decorrência do treinamento intensivo", comenta o médico, nesta entrevista sobre o tema.
O que é morte súbita e o que a provoca?
Morte súbita é a morte natural inesperada de causa cardíaca. A principal causa de morte súbita são as arritmias cardíacas, que ocorrem devido a algum acometimento cardíaco, congênito ou adquirido.
Quem está mais vulnerável à ocorrência?
Cerca de metade das pessoas que apresentam arritmias fatais sofre de infarto agudo do miocárdio. O risco de morte súbita é maior em homens e tende a aumentar com a idade. Em jovens com menos de 35 anos, as doenças genéticas (do músculo ou do sistema elétrico do coração) ganham maior importância do que o infarto.
As principais condições envolvidas nos mecanismos da morte súbita são: doenças coronárias, cardiomiopatias (doenças do músculo do coração), doença das válvulas cardíacas, doenças cardíacas congênitas, miocardites (inflamações, geralmente devido a infecções virais ou doença de Chagas) e alterações elétricas primárias (genéticas).
Esportes de alto rendimento aumentam o risco?
A atividade esportiva, em geral, funciona apenas como gatilho para a morte súbita. Neste sentido, existem duas situações: atletas com doença na estrutura do coração ou distúrbio elétrico primário. Existem, também, os atletas que tinham coração normal e que desenvolvem alterações em decorrência do treinamento intensivo. Atletas profissionais de alto rendimento podem desenvolver essas alterações como consequência de treinamento contínuo e prolongado, devido a adaptações produzidas pelo exercício.
É possível evitar?
A morte súbita pode ser evitada, embora possa ser a primeira manifestação em pacientes que desconheciam seus riscos. História clínica detalhada, histórico familiar e exame físico na busca de sinais de alerta são essenciais: hipertensão arterial, diabete melito, dislipidemia, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Hábitos de vida saudáveis são fundamentais, especialmente em indivíduos expostos a fatores de risco. Em paralelo, diversos medicamentos são úteis na redução de mortalidade. Somado a isso, o implante de cardioversor-desfibrilador implantável (CDI, um tipo de marca-passo que é capaz de disparar choques diretos no coração para interromper uma arritmia grave) pode ser fundamental naquelas situações em que a causa da arritmia é irreversível (como acontece nas doenças genéticas).
Qual a importância do uso de desfibriladores para evitar a morte súbita?
Para os pacientes com risco elevado ou já recuperados de parada cardíaca, o implante de CDI é a terapêutica mais eficaz de prevenção de morte súbita. Também é importante destacar a importância dos desfibriladores externos (aqueles equipamentos que possuem pás que são posicionadas no tórax do paciente para disparar choques em casos de parada cardíaca). Existem 2 tipos de desfibriladores externos: o tradicional de uso hospitalar, que deve ser manejado por profissional da área da saúde devidamente treinado, e o desfibrilador externo automático (DEA) que pode ser manejado por leigo com conhecimento mínimo da operação do equipamento. O DEA, cujas pás que são colocadas no tórax são adesivas, são capazes de reconhecer automaticamente a presença de uma arritma fatal e disparam choques para interromper o distúrbio elétrico. Embora não exista uma legislação de abrangência nacional, recomenda-se que todos os locais com aglomerações acima de 1.000 a 1.500 pessoas possuam um DEA de fácil acesso (aeroportos, rodoviárias, estações de metrô, escolas, praças, parques etc).
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