Ministério da Saúde divulga boletim às vésperas do Dia Mundial de Luta Contra Aids
Tatiana Pronin Publicado em 30/11/2023, às 17h00
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou uma queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por Aids, que passou de 5,5 para 4,1 mortes por 100 mil habitantes, segundo boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (30), véspera do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (1º). Em 2022, foram registradas 10.994 mortes pela doença, 8,5% menos do que as 12.019 registradas em 2012.
Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de Aids por dia no ano passado. Do total, 61,7% dos óbitos ocorreram entre pessoas negras (47% em pardos e 14,7% em pretos) e 35,6% entre brancos.
Ainda segundo o boletim, na análise da variável raça/cor, observou-se que, até 2013, a cor de pele branca representava a maior parte dos casos de infecção pelo HIV. Nos anos subsequentes, houve um aumento de casos notificados entre pretos e, principalmente, em pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015.
Em 2022, entre os casos de infecção pelo HIV, 29,9% ocorreram entre brancos e 62,8% entre negros (13% de pretos e 49,8% de pardos). No mesmo ano, entre os homens, 30,4% dos casos notificados ocorreram em brancos e 62,4% em negros (12,8% de pretos e 49,6% de pardos); entre as mulheres, 28,7% dos casos se verificaram em brancas e 64,1% em negras (13,8% de pretas e 50,3% de pardas).
Para os casos notificados de Aids (que é diferente de ter o HIV), o cenário também preocupa: dos 36.753 diagnosticados, 60,1% estão entre a população negra.
Segundo o governo, estima-se que hoje um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino.
De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, na análise que considera o sexo atribuído no nascimento, as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado. Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu, há alguns anos, como metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% com carga viral controlada. Hoje, em números gerais, o Brasil possui, respectivamente, 90%, 81% e 95% de alcance.
Uma das formas de se prevenir contra o HIV é fazendo uso da PrEP, método que consiste em tomar comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. Todas as unidades da federação ofertam o tratamento. No primeiro semestre de 2023, a PrEP também foi incluída nos ambulatórios que acompanham a saúde de pessoas trans.
De acordo com o boletim epidemiológico, a PrEP é mais acessada pela população branca (55,6%), em comparação com as pessoas pardas (31,4%), pretas (12,6%) e indígenas (0,4%).
Atualmente, 73.537 usuários estão em PrEP, o que representa aumento de 45% comparado com o ano anterior. Entre os usuários de PrEP em 2023, há somente 12,6% de população preta, 3,3% de mulheres transexuais, 2% de homens trans, 0,4% de população indígena e 0,3% de travestis.
Em 2022, houve um predomínio de casos de gestantes com infecção pelo HIV entre pardas (52,1%), seguidas de brancas (28,5%). As gestantes pretas corresponderam a 14% nesse mesmo ano.
O diagnóstico do HIV em gestantes é muito importante para que as medidas de prevenção possam ser aplicadas e consigam evitar a transmissão do vírus para o bebê.
A maior parte das gestantes notificadas já é sabidamente HIV positiva antes do pré-natal e, em 2022, essas mulheres representaram quase 60% dos casos.
O percentual de realização de pré-natal é elevado entre as gestantes/parturientes/puérperas com HIV e tem se mantido em torno de 90% em todo o período analisado. No entanto, em 2022, o uso de terapia antirretroviral durante o pré-natal foi relatado em apenas 66,8% dos casos. Essa informação é importante e necessária para a certificação de eliminação da transmissão vertical do HIV, cuja meta é atingir cobertura de tratamento igual ou superior a 95%.
O percentual de gestantes/parturientes/puérperas sem uso do tratamento foi de 13,5%, e, em 19,7% delas, a informação sobre o uso da terapia era ignorada em 2022, segundo dados do Sinan.
Os dados reforçam a necessidade de considerar os determinantes sociais para respostas efetivas à infecção e à doença, além de incluir populações chave e prioritárias esquecidas pelas políticas públicas nos últimos anos.
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