Ao contrário da maioria dos homens, nem toda mulher consegue chegar ao orgasmo somente com a penetração. Assim, é mais comum que homens alcancem o clímax nos encontros sexuais do que as mulheres, fenômeno que os especialistas em sexualidade chamam de “diferença, ou lacuna, no orgasmo”. Segundo uma pesquisa que acaba de ser publicada, essa diferença também pode ser afetada pelo gênero do parceiro sexual.
De acordo com o trabalho, publicado no periódico Social Psychological and Personality Science, as mulheres tendem a esperar uma estimulação maior no clitóris e o orgasmo ao fazer sexo com uma outra mulher do que com um homem.
"Esta pesquisa contribui para a compreensão das disparidades e desigualdades de gênero. Também lança luz sobre por que a diferença no orgasmo existe — especificamente, como diferentes expectativas para o sexo com homens e mulheres podem explicar essas diferenças", disse Grace Wetzel, co-autora do estudo e pesquisadora de psicologia social na Universidade Rutgers, em comunicado.
Em um estudo de 2017 com mais de 50.000 pessoas, 95% dos homens heterossexuais disseram que costumam ter ou sempre têm orgasmo durante o sexo, em comparação com apenas 65% das mulheres heterossexuais.
O estudo revela que as mulheres têm expectativas diferentes para o sexo dependendo do gênero de seu parceiro, sendo mais propensas a esperar um orgasmo com uma mulher e, portanto, mais propensas a buscar um orgasmo, elas próprias, através de estimulação clitoriana.
A maioria das mulheres diz que precisa de pelo menos algum grau de estimulação clitoriana para atingir o orgasmo: entre 70 e 90% das mulheres não conseguem ter orgasmo apenas com a penetração.
Portanto, ao fazer sexo com uma mulher, as mulheres foram mais propensas a buscar ativamente o orgasmo por conta própria.
Isso respalda uma pesquisa de 2006 que descobriu que as mulheres têm mais probabilidade de ter orgasmo ao dormir com mulheres do que com homens, com 64% das mulheres bissexuais dizendo que costumam ou sempre têm orgasmo ao fazer sexo com mulheres.
O resultado sugere que as expectativas em relação ao sexo variam com o gênero do parceiro e podem explicar por que as mulheres têm menos probabilidade de ter orgasmo ao fazer sexo com homens.
"Se as mulheres, ou homens parceiros de mulheres, desejam aumentar a frequência do próprio orgasmo ou o orgasmo das parceiras, devem criar um ambiente que encoraje a busca pelo orgasmo através de diferentes atos sexuais, especialmente aqueles envolvendo estimulação clitoriana", afirmou Kate Dickman, autora principal do estudo e recém-graduada pela Universidade Rutgers, no comunicado.
Embora o resultado do estudo possa sugerir que as mulheres achem o sexo com homens pior, os autores enfatizam que esse não é o caso! O que a pesquisa destaca é que existem roteiros esperados durante o sexo heterossexual, algo que pode ser modificado.
"O problema não é inerente aos homens ou à heterossexualidade, mas aos roteiros sexuais dominantes associados ao sexo heterossexual. Os roteiros sexuais são flexíveis e podem ser alterados", explica Wetzel.
Além disso, eles enfatizam que há muito mais elementos de prazer na intimidade sexual do que apenas alcançar o orgasmo.
"Este estudo é apenas uma pedaço de uma conversa maior sobre disparidades de gênero", disse Dickman. "O orgasmo é apenas um aspecto da satisfação sexual, e esta pesquisa não deve ser interpretada como sugerindo que o orgasmo seja a única medida de uma experiência sexual satisfatória."
De qualquer forma, o resultado deixa um recado claro para os casais heterossexuais: muitas mulheres precisam comunicar melhor aos parceiros o que as faz chegar ao orgasmo. E os parceiros precisam estar abertos para explorar outras coisas além da penetração.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin