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Não me leve a mal, mas este ano não vai ter festa

O melhor a se fazer neste Natal é comemorar dentro da sua casa, apenas com as pessoas que já moram juntas - iStock
O melhor a se fazer neste Natal é comemorar dentro da sua casa, apenas com as pessoas que já moram juntas - iStock

Jairo Bouer Publicado em 23/12/2020, às 15h03

Se você já começou a ler esse texto deve perceber que o título é ao mesmo tempo provocativo e realista, e vou dar um spoiler: não quero estragar o Natal e o final de ano de ninguém, mas vou recomendar que as pessoas evitem as festas, mesmo em família. E lembrar que para você que resistiu bravamente nesses últimos nove meses ainda não é a hora de relaxar e nem de criar “licença poética” para as comemorações. O simbolismo das grandes festas vai muito além de a gente estar juntos fisicamente, ainda mais nesse momento.

Eu sei que o que você mais queria nessas festas de final de ano era juntar sua família para o Natal, rever aqueles parentes que não encontra desde a última ceia, e no Réveillon, jogar tudo para o alto, “tocar o louco” e sair por aí celebrando a entrada de 2021. Todo ano é assim, e depois de um no difícil como foi o nosso, esse desejo talvez esteja até mais forte.

Mas aí vem a notícia ruim: o melhor é que esse ano não tenha festas. Para muitos especialistas, inclusive do CDC, os Centros de Controle de Doenças dos EUA, o melhor a se fazer neste Natal é comemorar dentro da sua casa, apenas com as pessoas que já moram juntas. No Réveillon, evitar qualquer tipo de comemoração pública é o melhor caminho. Importante lembrar que o coronavírus é transmitido em aglomerações e na intimidade do seu lar, quando você menos espera!

Casos podem dobrar

Essas recomendações ficam ainda mais marcantes no momento em que a pandemia ganha força na Europa, Estados Unidos e Brasil. No Reino Unido, as autoridades alertam que o número de casos diários pode até dobrar depois das festas de final de ano. Por aqui, se a gente acrescentar mais um ingrediente nessa história, que é o deslocamento das pessoas pelo país por causa do verão, janeiro e fevereiro podem ser tornar uma verdadeira tragédia para o sistema de saúde, que já trabalha além do seu limite.

Mesmo com a proibição das grandes festas da virada em muitas cidades, muita gente já planeja comemorações privadas. Repito aqui algo que já disse na última semana: quem dita o ritmo da pandemia não é o que as autoridades decidem, e sim o comportamento de cada um de nós e o dos outros. Se individual e coletivamente a gente falhar, o vírus não vai dar trégua.

O alívio do encontro

A grande questão é que, além da desinformação e das fake news que circulam por aí e confundem a cabeça das pessoas, o estresse acumulado nos últimos meses e o impacto na saúde mental fizeram com que muita gente chegasse em dezembro literalmente com os nervos à flor da pele. É compreensível que os encontros com a família e os amigos sejam aguardados como o grande alívio para todo esse sofrimento emocional. O problema é que as consequências dessas celebrações podem por a perder tudo o que foi feito nesses últimos meses. Muita gente já entendeu o recado e, segundo uma pesquisa do Datafolha, três em cada quatro brasileiros pretendem passar o Natal só com quem mora na mesma casa.

Um governo fraco e confuso, que insinua que o pior já passou e que defende que querer a vacina o mais rápido possível (lembrar que milhares de pessoas já estão, nesse momento, mais protegidas na Europa e EUA) é coisa para quem está ansioso e apressado, só relativiza os riscos e aumenta a expectativa para as grandes festas, o que pode prolongar um cenário nada fácil para os próximos meses.

Algumas dicas

Para facilitar, a gente organizou aqui uma listinha básica do que você precisa saber para planejar as festas:

  • Reúna, de preferência, apenas pessoas que moram na mesma residência. Para os demais, prefira encontros virtuais.
  • Pessoas de áreas mais afetadas trazem mais riscos de infecção (embora a maior parte do país esteja com aumento importante de casos nas últimas semanas).
  • Para quem viajou até o local do encontro há risco de exposição em aeroportos, aviões e ônibus tanto no ar como nas superfícies. O ideal seria uma quarentena pré-reunião.
  • Encontros em locais abertos e bem ventilados oferecem menos risco do que em lugares fechados. Se sua casa não tiver varanda nem quintal, mantenha portas e janelas escancaradas.
  • Quanto mais curto o tempo juntos, melhor será!
  • Quanto menos gente junta, menor o risco. O ideal é manter a distância de 2 m, usar máscara, evitar beijos e abraços e, claro, lavar as mãos com frequência.
  • Tire a máscara apenas para se alimentar e respeite o distanciamento na hora de se alimentar! Esqueça a tradicional mesa de natal e espalhe as pessoas para comer pela casa toda. Compartilhar copos, pratos e talheres nem pensar!
  • Importante também que as pessoas estejam se cuidando nas duas semanas que antecedem os encontros. Se alguém se expôs a riscos ou teve contato com alguém com coronavírus nas últimas duas semanas, melhor não ir ao encontro.
  • Mesmo um teste de PCR negativo nas últimas 72 horas antes das festas e ausência de sintomas não garante com 100% de certeza que a pessoa não esteja pré-sintomática, assintomática ou que o teste seja um falso negativo. De novo, na dúvida, não saia de casa, não se coloque em risco ou exponha outros ao risco (principalmente se as pessoas forem mais vulneráveis ao vírus).
  • Nas festas, lembrar que o uso de álcool e outras drogas pode diminuir nossa capacidade de avaliar riscos e adotar comportamentos seguros.

Para terminar, queria lembrar, mais uma vez, que o espirito das festas de Natal e de Ano-Novo e o desejo de felicidade, saúde e sucesso para os familiares e amigos queridos vai muito além do encontro físico e presencial.  O simbolismo que se renova a cada passagem pode ser transmitido de diversas maneiras, mesmo à distância. Nesse sentido, aproveito aqui para desejar a um feliz Natal e um ano melhor, com muita saúde, para todos nós. 

(texto extraído da minha coluna no UOL VivaBem)