Pesquisadores sugerem que estudos sobre o impacto da droga na memória devem avaliar tabagistas e não tabagistas separadamente
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h30 - Atualizado às 23h56
Quatro grupos participaram do: não usuários, usuários exclusivos de maconha (que consomem a droga ao menos quatro vezes por semana), usuários exclusivos de tabaco (no mínimo dez cigarros por dia) e usuários de maconha e de tabaco. A equipe utilizou exames de ressonância magnética para examinar o hipocampo dos participantes (estrutura cerebral envolvida na memória e no aprendizado). Todos também passaram por entrevistas e testes neuropsicológicos.
Em artigo publicado na revista Behavioural Brain Research, os cientistas explicam que, embora a maconha e o tabaco sejam capazes de fazer o hipocampo encolher, a relação entre o tamanho e a função dessa estrutura difere entre os usuários.
Em pessoas que não fumam nada, quanto menor o hipocampo, pior é sua função. Já nos indivíduos que usam maconha e tabaco a relação é inversa, de acordo com os pesquisadores: quanto menor o hipocampo, melhor a função. Além disso, a quantidade de cigarros consumida por dia entre usuários das duas substâncias também interfere em tudo isso. Quanto maior o número de cigarros fumados, menor o volume do hipocampo.
Já para usuários só de cigarro ou só de maconha, não há associação significativa entre o tamanho do hipocampo e o desempenho da memória. Ou seja: a coisa é mais complicada do que os cientistas achavam.
Segundo os autores do estudo, liderados por Francesca Filbey, 70% dos usuários de maconha também fumam cigarros. Mas os resultados de pesquisas que envolvem apenas os 30% podem não valer para a maioria. O estudo atual é um dos primeiros a distinguir os efeitos do uso combinado e do uso exclusivo das substâncias. É provável que, no futuro, outros neurocientistas também passem a fazer essa distinção, o que vai ajudar os usuários a saber exatamente quais os riscos envolvidos no consumo de maconha.