Nova descoberta ajuda a explicar por que adolescência não é fácil

A adolescência é conhecida por ser uma fase complicada e, antigamente, isso era atribuído às mudanças hormonais típicas dessa faixa etária. Hoje, a gente

Jairo Bouer Publicado em 29/01/2020, às 19h26

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A adolescência é conhecida por ser uma fase complicada e, antigamente, isso era atribuído às mudanças hormonais típicas dessa faixa etária. Hoje, a gente sabe que a transformação vai além disso –  o cérebro dos jovens muda muito até os 20 e poucos anos de idade. É por isso, aliás, que eles são mais vulneráveis a transtornos mentais como ansiedade, depressão e abuso de substâncias.

Uma pesquisa que acaba de ser publicada na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências, afirma que nessa fase da vida novas redes de neurônios ficam “on-line”, ou seja, entram em conexão. Isso é vital para que os adolescentes desenvolvam habilidades sociais mais complexas para enfrentarem a vida adulta, afirmam os pesquisadores.

A equipe, das universidades de Cambridge e College London, coletou dados de ressonância magnética funcional para analisar a atividade cerebral de 298 jovens saudáveis, com idades entre 14 e 25 anos. Cada participante foi submetido ao exame de uma a três vezes, com intervalo de 6 a 12 meses entre cada sessão. Todos ficaram quietinhos durante o escaneamento, já que qualquer movimento de cabeça pode corromper os resultados.

A equipe descobriu que a conectividade funcional do cérebro humano, ou seja, como diferentes regiões do cérebro se comunicam, muda de duas maneiras durante a adolescência. Regiões importantes para visão, movimento e outras funções básicas, por exemplo,  apresentam forte conexão aos 14 anos de idade, e ainda mais aos 25 anos.

No entanto, regiões do cérebro que são importantes para habilidades sociais sofisticadas, como imaginar como outra pessoa está pensando ou se sentindo (a chamada “teoria da mente”), apresentaram um padrão de mudança muito diferente do anterior. Nesse caso, as conexões foram redistribuídas ao longo da adolescência: algumas inicialmente fracas se tornaram mais fortes, e aquelas mais fortes no início se tornaram mais fracas.

Os autores da pesquisa chamaram isso de padrão “disruptivo” de mudança, já que foge ao padrão “conservador”, em que áreas simplesmente ganham conexões mais fortes ao longo do tempo. Em outras palavras, há um processo de remodelagem total.

Pesquisas anteriores também já mostraram que os adolescentes sofrem um processo de “poda” nos neurônios, que começa na parte posterior do cérebro e termina na região frontal, responsável pelo raciocínio e pela regulação emocional, entre outras funções. Por isso há tantas diferenças no comportamento e até no aprendizado, que podem ocorrer depois dos 20 anos.

Uma compreensão mais profunda do desenvolvimento cerebral nessa fase pode, no futuro, explicar porque tantos transtornos mentais são diagnosticados pela primeira vez na adolescência. Se tivermos sorte, esse conhecimento gerar novas ideias sobre como proteger os jovens dessa vulnerabilidade.

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