Redação Publicado em 08/07/2021, às 13h00 - Atualizado às 14h00
A dificuldade dos homens em buscar – ou não buscar – ajuda para problemas médicos ficaram evidentes após a publicação de um estudo feito pela Seguradora Aflac, em abril deste ano, e publicado em conjunto com a revista Men’s Health nos Estados Unidos. Os resultados da Pesquisa de Problemas de Saúde Masculina de 2021 sugerem que o otimismo dos homens em relação à saúde não é necessariamente realista, e um dos motivadores mais comuns para eles irem ao médico – as mulheres em suas vidas – pode frequentemente levar a discussões.
O estudo foi realizado com 1.000 homens norte-americanos, com idade acima dos 18 anos, sendo que 90% disseram que levam um estilo de vida saudável, mas pesquisas do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e do Nhanes (Instituto Nacional de Saúde e Nutrição) dos EUA sugerem que os homens podem ter algumas percepções desconexas sobre a saúde. Segundo o CDC, quase metade deles tem pressão alta e, segundo o Nhanes, 43% são obesos – sem mencionar que uma série de problemas de saúde são exclusivos, ou muito mais comuns, nos homens do que nas mulheres, como certos tipos de câncer e doenças cardíacas.
Para muitos especialistas, a pesquisa reflete dados que já eram conhecidos há muito tempo, mostrando o baixo índice de cuidados de saúde por parte dos homens
O estudo apontou que os homens concordam que uma "cutucada" positiva e encorajadora para ir ao médico pode ajudar, com 44% deles dizendo que a cônjuge ou o companheiro (esposa, namorada, marido ou namorado) os convenceram a ir a uma consulta. As mulheres, em particular, têm a argumentação mais forte, com mais da metade (56%) dos homens relatando que esposas, namoradas ou mães os convenceram.
No entanto, o tema ir ao médico continua controverso para eles. Embora 50% relataram que conversam sobre questões relacionadas à saúde com parentes do sexo feminino (esposa, namorada ou mãe), 43% disseram que discutiram ou negaram preocupações com a saúde. O preocupante é que 42% dos entrevistados afirmaram ter ocultado informações sobre sua saúde de familiares ou amigos – especialmente das mulheres – para evitar uma discussão. Isto aponta para o fato muito importante de que a persuasão deve ser feita com habilidade, pois pressionar pode fazer com que o homem se torne ainda mais teimoso.
O conselho vale também para os médicos, pois a pesquisa descobriu que 14% dos entrevistados admitiram que não são completamente honestos quando estão em consulta sobre os hábitos de vida (por exemplo, uso de álcool, fumo ou exercícios), e 12% disseram que guardaram informações por medo de receber um sermão.
A pesquisa Aflac observou que apenas 1/3 dos entrevistados se sentem bem-informados sobre as várias doenças e enfermidades que comumente afetam os homens, enquanto 45% assumiram que não visitaram o médico para um check-up anual nos últimos 12 meses, o que os torna vulneráveis a potenciais problemas de saúde, sem a chance de detecção precoce. Ainda mais preocupante é o fato de que 3/4 não tinham ido ao médico, mesmo apresentando sintomas de uma doença específica, 84% não haviam consultado um médico sobre uma lesão e mais da metade (54%) não tinha ido ao dentista para uma rotina de exame odontológico.
São várias as razões ou crenças negativas que impedem a busca de ajuda. Apesar de 37% dos homens dizerem que têm um relacionamento forte com seu médico de atenção primária e 65% afirmarem que são transparentes sobre seus hábitos de vida e preocupações com a saúde, mais da metade (58%) admitiu que concorda com pelo menos uma das seguintes razões que os impedem de obter cuidados de saúde proativos:
– É mais fácil ir a um pronto-socorro ou clínica de emergência para ver um médico em vez de meu médico de atendimento primário.
– A maioria das doenças cura-se sozinha.
– Estou muito ocupado com o trabalho para ver o médico.
– Acho que ir ao médico me faz sentir menos masculino.
Os homens também experimentam apreensão relacionada a ir ao médico. Cerca de 21% disseram sentir medo ou ansiedade em relação a uma visita ao médico. Esse número sobe para quase um terço (29%) para homens com idades entre 18-34 contra 18% da geração de seus pais (50-64 anos).
O alto custo de assistência médica nos Estados Unidos é outra preocupação para os homens, com 45% deles dizendo que adiaram ou evitaram o tratamento médico de alguma forma devido aos custos nos últimos 12 meses, incluindo:
– Não realizar exames de saúde e tratamentos de acompanhamento recomendados pelo médico.
– Não comprar um medicamento prescrito após ir ao médico por um problema de saúde.
– Evitar ir ao médico em busca de sinais ou sintomas de uma doença ou lesão grave.
Aqueles que procuram estimular os homens a buscar cuidados preventivos podem querer abordar suas preocupações sobre o alto custo dos cuidados médicos. Por exemplo, 10% dos entrevistados identificaram que receber um benefício em dinheiro diretamente, como parte de um sinistro, seria um grande motivador para que consultassem o médico. Ao encorajar os homens a buscar cuidados, os entes queridos podem ter mais sucesso se considerarem como ajudá-los a aliviar as apreensões sobre os custos médicos.
Para os pesquisadores, quer seja por medo do médico, pelos custos elevados, pelas percepções sobre masculinidade ou por não ser algo urgente, os homens muitas vezes evitam cuidados preventivos.
Os resultados da pesquisa deixam claro que são necessárias mais educação e discussão em torno das questões de saúde dos homens, bem como recursos adicionais, como seguro suplementar para ajudar com os custos médicos próprios, que parecem estar impedindo muitos homens de cuidar deles mesmos.
Tanto lá nos Estados Unidos quanto aqui no Brasil, onde os homens também não vão ao médico o quanto deveriam, eles precisam entender o fato de que, cada vez mais, devem procurar a ajuda de profissionais médicos e de saúde mental, e que isso é perfeitamente natural, e não os tornam menos másculos ou fracos.
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