Redação Publicado em 02/07/2021, às 12h00
Um estudo molecular, publicado em junho na revista Nature, é o mais abrangente até agora sobre o tecido cerebral de pessoas que morreram em virtude da Covid-19. Os resultados do estudo, realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, na Califórnia, forneceram evidências de que o SARS-Cov-2 causou profundas mudanças moleculares no cérebro, mesmo não havendo traço molecular do vírus no tecido cerebral.
Segundo os pesquisadores, os sinais que o vírus deixa no cérebro apontam forte inflamação e circuitos cerebrais interrompidos. Também notaram semelhanças com o que ocorre no cérebro de quem tem a doença de Alzheimer ou outra doença degenerativa.
"Sabemos que até um terço das pessoas infectadas com SARS-CoV-2 apresentam sintomas cerebrais, incluindo confusão mental, problemas de memória e fadiga, e um número crescente de infectados apresentaram esses sintomas muito depois de terem aparentemente se recuperado da infecção pelo vírus", disse o autor sênior do estudo, Tony Wyss-Coray, professor de neurologia e ciências neurológicas de Stanford.
Porém, ele reconheceu que ainda há muito pouco conhecimento de como o vírus causa esses sintomas e quais são os efeitos no cérebro em nível molecular. Foram estudadas amostras de tecido cerebral de oito pacientes que morreram de Covid-19 e 14 controles (que morreram de outras causas) usando-se o sequenciamento de RNA de uma única célula.
Mesmo não havendo evidência molecular de Sars-CoV-2 nas amostras de tecido cerebral dos pacientes que morreram de Covid-19, os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que não importava o tipo de células estudadas (nervosas, imunes ou diferentes células de suporte), havia mudanças importantes nelas em comparação com as amostras de tecido cerebral de pessoas que morreram de outras causas.
As mudanças nos cérebros daqueles que tiveram a Covid-19 apontaram sinais de inflamação, comunicação anormal das células nervosas e neurodegeneração crônica. Em todos os tipos de células, as desordens causadas pela Covid-19 se sobrepuseram às células de distúrbios cerebrais crônicos e apareceram em variantes genéticas associadas à cognição, esquizofrenia e depressão.
Wyss-Coray afirmou que a infecção viral parece desencadear respostas inflamatórias que podem causar sinalização inflamatória por todo o corpo por meio da barreira hematoencefálica, que, por sua vez, pode “disparar” a neuroinflamação no cérebro. Essas descobertas podem ajudar a explicar a confusão mental, a fadiga e demais sintomas neurológicos e psiquiátricos que permanecem por longo tempo em quem teve a doença.
Os pesquisadores acreditam que embora tenham estudado apenas cérebros de pessoas que, infelizmente, morreram de Covid-19, é provável que sinais semelhantes, mas esperançosamente mais fracos, de inflamação e neurodegeneração crônica sejam encontrados em sobreviventes da doença, especialmente aqueles que tiveram sintomas cerebrais crônicos.
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